CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Projeto restaura acervo das bibliotecas do Grêmio Português e IHGP

Milhares de livros e documentos, alguns raros datados a partir do Séc XVI, estão sendo catalogados, higienizados e digitalizados

Enize Vidigal
fonte

Equipes especializadas em conservação e restauro realizam o inventário, higienização e diagnóstico de acervos bibliográficos e documentais na Biblioteca "Fran Paxeco", do Grêmio Literário e Recreativo Português, que reúne 40 mil volumes, e também da Biblioteca José Veríssimo, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), que possui de 15 a 20 mil livros.

Esses dois espaços estão entre os três principais detentores do patrimônio histórico documental do Pará (o terceiro é o Arquivo Público do Estado), segundo o historiador Michel Pinho. Os acervos também serão digitalizados como melhor forma de protegê-los da ação do tempo e de possíveis acidentes que possam levar à perda dessa memória.

Verdadeiros tesouros tendem a ser revelados nessas "escavações", que irão identificar e catalogar os volumes existentes. É a primeira vez em 30 anos que o Grêmio recebe esse serviço. A Fran Paxeco tem destaque nacional e internacional pelo acervo de 480 livros raros datados a partir do século XVI.  A expectativa também é grande em relação ao IHGP, que recebe o primeiro levantamento das obras que arrecadou em doações desde a fundação do instituto, em 1900.

O projeto é custeado pelo Ministério da Educação em convênio com o Fórum Landi, da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob a coordenação do professor Flávio Nassar. O recurso obtido por emenda parlamentar do deputado federal Edmilson Rodrigues ao Orçamento de 2018 foi de R$ 150 mil para o Grêmio e de R$ 100 mil para o IHGP. O prazo de conclusão é de seis meses.

Duas equipes constituídas cada uma de um restaurador, três assistentes de conservação e seis estagiários estão fazendo o trabalho. Para se proteger de males à saúde eles usam máscaras de válvula com filtro, além de óculos, luvas e aventais descartáveis. "Estamos correndo para terminar no prazo. As duas bibliotecas que estão bastante prejudicadas. No Grêmio, por ter ficado muito tempo fechada (a ala de livros raros), mais de 10 anos, tem fungos. O agravante é que foi aplicado há 30 anos um veneno com eficácia de 60 anos para prevenir a deterioração dos papéis por insetos. Era uma prática antiga, que não se usa mais. O contato (com o veneno) por curto período não oferece problemas, mas ao longo de dois ou três dias pode causar dores de cabeça e ardor nas narinas e, a longo prazo, é cancerígeno", conta Ethel Valentina Soares, idealizadora e orientadora do projeto, especialista em preservação, conservação e restauro de documentos gráficos.

"São duas bibliotecas com acervos diferentes, mas riquíssimas para a pesquisa da história de Belém e do Pará. Existe a necessidade urgente de política pública de preservação sistemática e científica em relação aquilo que mais identifica o patrimônio histórico do Pará, que é a sua documentação", destaca Michel Pinho. "A importância desse trabalho é a valorização da nossa história. A cultura é a base da educação. Você tem ali os livros e documentos que comprovam a história de Belém e do Pará", diz Ethel.

"Esse levantamento é importante e a digitalização preserva esse acervo. Às vezes não se tem a dimensão do valor histórico dessas obras, como a coleção completa do Eça de Queiroz, única no Brasil (no Grêmio)", comemora o presidente do Grêmio, José Carlos Mendes.

"Quando o Solar Barão de Guajará entrou em obras pelo Programa Monumenta (Ministério da Cultura), em 2011, o acervo da biblioteca (que já estava desorganizado) foi colocado em caixas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O prédio ficou interditado por muitos anos, as obras não foram concluídas e esse acervo continuou sem acesso. Agora que se está podendo fazer isso", conta a presidente do IHGP, professora e historiadora Anaíza Vergolino.

image A biblioteca Fran Paxeco, do Grêmio, funciona no prédio histórico da Rua Manoel Barata, no centro comercial de Belém (Oswaldo Forte/ O Liberal)

Fran Paxeco

O Grêmio Português foi fundado há 152 anos. A biblioteca funciona no prédio histórico da Rua Manoel Barata, no centro comercial de Belém. A Fran Paxeco está fechada ao público até a conclusão desse trabalho. Ethel explica que, dentre os livros raros, datados 1528 a 1799, estão 13 incunábulos de 1450 a 1550. "Esses são os melhores livros, impressos no chamado papel de trapo, que na época era feito com roupas velhas de linho puro. É o melhor livro que existia na época." Ela afirma que o inventário anterior, realizado há 30 anos, foi incompleto, o que aumenta a responsabilidade do projeto atual.

Entre as obras raras existentes no Grêmio estão a coleção de Camilo Castelo Branco, escritor português do século XIX, que a mais completa do mundo, com todas as obras dele, incluindo as primeiras edições e também as traduzidas para o espanhol, francês e inglês. Ainda, livros de medicina natural do italiano Giovanni Mathiolli, do século XIX; uma edição antiga de 'Os Lusíadas', de Camões, do séc XVIII; livros da Escola de Navegação de Portugal com o mapas; livros da Santa Inquisição, sobre heliocentrismo, o livro mais antigo de pesquisa de música do Brasil, do século XVII e outros.

Em 2018, foi publicada pela Imprensa Oficial do Estado a reprodução de "A Arte de Cosinha", com as receitas de João da Matta, chef português que trabalhava para a família real lusitana. A Fran Paxeco também possui o registro da vida da comunidade portuguesa no Pará de 1819 a 1920, período da Cabanagem, como cartas da comunidade pedindo socorro, pedindo o envio de esquadras de guerra para guerrear com o cabanos e outros.

image Com a finalização do inventário, higienização e recuperação dos livros da biblioteca José Veríssimo, do IHGP, será possível abrir o espaço para o acesso público pela primeira vez (Oswaldo Forte/ O Liberal)

José Veríssimo

O IHGP funciona no Solar Barão do Guajará, datado do século XIX, e situado na Praça Dom Pedro II. O prédio foi adquirido pela prefeitura no início de 1900 e doado nos anos 40 para o instituto, que, apesar de ter sido fundado também por volta de 1900, não tinha sede própria. Com a finalização do inventário, higienização e recuperação dos livros da biblioteca José Veríssimo, será possível abrir o espaço para o acesso público pela primeira vez.

O IHGP possui outra biblioteca com o acervo herdado do antigo proprietário do solar, o intelectual Domingos Antônio Raiol, o "Barão do Guajará", personagem histórico da Cabanagem. "No instituto, temos documentos e livros dos séculos XIX e XX sobre a Amazônia, do Pará e da realidade política. Esse acervo é de uma importância inimaginável", conta Ethel.

"Agora vai ser aberto o baú do IHGP. Primeiro, estamos verificando o que a bilbioteca tem e o estado em que está. Lá está mais sujo, existe a preocupação com os fungos, mas também insetos, ratos e morcegos. A gente está fazendo a triagem do inventário para poder abrir a biblioteca, mas ainda não tem prazo para abrir".

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA