Projeto 'Cores de uma pandemia' apresenta um mundo em quarentena por meio de experiências pessoais

Produzido por estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), o material traz histórias de reinvenção e adaptação durante um ano atípico

Caio Oliveira
fonte

Muitas vezes, passamos a vida sem parar para perceber a importância das cores em nosso mundo. Por ser uma criatura imagética, o ser humano percebe aquilo que o rodeia principalmente por meio da visão, e nesse sentido, a cor dos objetos, das pessoas e dos fenômenos da natureza é uma das primeiras coisas que chamam nossa atenção. Em 2020, um ano onde o mundo todo passou por momentos mais reflexivos, estudantes de comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA) tiveram a ideia de perguntar para as pessoas: qual a cor que sintetiza esse momento de sua vida?

E assim, com um simples questionamento que rendeu as mais complexas respostas, nasceu o projeto “Cores de Uma Pandemia”, que por meio de um vídeo-documentário, um podcast e matérias em texto, serviu de um registro muito pessoal do momento que o mundo enfrenta. Produzido por Jordan Navegantes e Juliane Nascimento, estudantes da Faculdade de Comunicação (Facom), o projeto usa das linguagens jornalísticas em texto, áudio e vídeo para mergulhar na percepção dos entrevistados sobre as profundas mudanças que o mundo passou por conta do novo coronavírus.

“No documentário, a gente faz uma reflexão sobre as cores, seus sentidos e apresentamos seis entrevistados. Cada um escolheu uma cor que simbolize a sua vivência durante a pandemia e eles discorrem sobre o porquê ao longo do vídeo, mostrando a relação da cor com sua atual realidade. Ouvimos um vestibulando de escola pública, uma professora de escola particular, um deficiente auditivo, uma médica, uma fotógrafa e uma lojista. Ambos têm passado por reinvenções e diferentes trajetórias”, disse Jordan Navegantes, ator e produtor audiovisual, que conta que a produção foi feita quase de forma artesanal, com poucos recursos: tudo foi feito apenas com um aparelho celular.

Muitas histórias

O Projeto “Cores de uma pandemia” é uma realização do Grupo de Pesquisa Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas (SISA), coordenado pelos professores Marina Castro e Fábio Castro, em parceria com a Academia Amazônia, ambos da Faculdade de Comunicação da UFPA. O documentário está disponível no canal da Academia no YouTube, e para ter acesso às demais produções que compõem o projeto, é só clicar nos links na descrição do vídeo.

No doc, uma das histórias contadas é a do estudante Lucian Rodrigues, de 22 anos, que usa a linguagem de sinais para se comunicar, já que é uma pessoa com deficiência auditiva. Para ele, a cor que representa a pandemia é o azul, e essa tonalidade tem um sentido muito especial: o azul é a cor que representa a comunidade surda, e ele explica que, durante a pandemia, uma das questões mais complicadas que ele teve que encarar foi a dificuldade de comunicação, já que o uso de máscaras impossibilitava a leitura labial.

Completando o que o rapaz relatou no vídeo, a matéria conta um pouco mais das dificuldades que o estudante de Letras, com habilitação em Libras pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), vem enfrentando em seu dia-a-dia. Se para algumas pessoas, o uso de máscara para proteção contra o coronavírus é um incômodo físico, para Lucian, também tem sido um desafio de interação social. Coisas simples como conseguir atendimento em um supermercado se tornaram um exercício de paciência.

“Eu dizia: ‘Eu não tô entendendo você’. Então, essa questão da comunicação era horrível e eu pedia para a pessoa tirar a máscara para pode ler seus lábios. E aí, a pessoa ficava assim: Ah… Eu acho que não vou poder fazer. E aí pedia para eu escrever no papel. Só que o atendimento demorava. Aí, às vezes, também a gente usava o celular, mas era grande essa questão da falta de comunicação. Por isso que eu acho importante todos aprenderem libras”, disse o estudante, ao justificar a escolha da cor que representa a comunidade surda: “não podemos esquecer que nós existimos”.

Já para a professora Jucinaida Simões, que teve que se reinventar para encarar as aulas online, a cor que a define nesse período é o vermelho, por simbolizar tanto o amor quanto a atenção que o período pandêmico ainda exige. “O vermelho representa o alerta, de você se cuidar ainda, estar buscando o melhor e continuar inovando. Você se impor, enfrentando as dificuldades”, conta.

“É interessante usar diferentes formas, vários meios porque conseguimos explorar mais linguagens por meio de conteúdos diferentes, pois elas vão se complementando. Por meio das matérias, por exemplo, é possível conhecer mais dos entrevistados, imergir mais em cada um. Isso possibilita um conteúdo maior, um aprofundamento para que o leitor conheça mais das histórias desse personagem, humanizando eles”, explica Jordan Navegantes.

Além de todos esses conteúdos, a dupla de universitários ainda produziu um vídeo extra, de pouco mais de um minuto, onde entrevistaram personagens únicos que nasceram especificamente na crise sanitária: os vendedores ambulantes de máscaras. Esse vídeo foi publicado no Instagram, e também faz parte da experiência transmidiática do “Cores de uma pandemia”.  “Na minha linha de trabalho, eu gosto de entrevistar pessoas que nunca deram entrevistas, e possivelmente, não dariam. É uma forma de fazer política, resistência”, conta o futuro jornalista, que junto de sua colega, pintou em cores vividas as experiências de um momento que vai ficar para sempre marcado na humanidade.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱

Palavras-chave

Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA