Observatório Itaú Cultural atesta instabilidade da economia criativa na pandemia
Pesquisa apontou que 244 mil postos de trabalho perdidos no primeiro trimestre deste ano, uma queda de 4% no comparativo com igual período do ano anterior
Não é novidade que a economia criativa, movida especialmente por trabalhadores do setor cultural, foi uma das mais abaladas pela pandemia. Foi a primeira a parar e ainda caminha muito lentamente para uma reabertura total. Mas esta semana, o Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, que há 15 anos acompanha a evolução do segmento no país, mostrou um panorama claro dos estragos causados.
Foram 244 mil postos de trabalho perdidos no primeiro trimestre deste ano, uma queda de 4% no comparativo com igual período do ano anterior. Em relação ao quarto trimestre de 2020, a queda foi de 1%.
No Pará, os dados do Painel mostram um retrato da instabilidade causada no setor especialmente por conta da pandemia. Enquanto no primeiro trimestre de 2020, o segmento contava com a atuação de 155 mil trabalhadores, no mesmo período deste ano eles eram 133.862 mil, mostrando que pelo menos mais de 21 mil pessoas que atuavam no setor ficaram sem seus postos de trabalho.
As maiores perdas relativas ocorram entre os trabalhadores criativos especializados na área da cultura, que atuam em atividades artesanais, artes cênicas e artes visuais, cinema, música, fotografia, rádio, tv e museus e patrimônio.
Entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, a queda no número de postos de trabalho para este estrato foi de 14%. Já no comparativo com o primeiro trimestre de 2020, a perda de postos de trabalho foi de 27% (menos 198 mil postos de trabalho).
O músico Marcelino Santos sabe muito bem o peso que a pandemia trouxe para o setor da economia criativa. Ele é um dos muitos trabalhadores que perdeu seu posto de trabalho nesse período.
Cinco meses antes da pandemia, ele havia recebido um convite do músico Félix Robatto para fazer parte de sua banda, que toda semana se apresentava em uma das festas mais badaladas da cidade.
“Toco banjo e percussão. Na Lambateria eu tocava percussão. Logo quando recebi o convite do Félix para tocar com ele me senti muito feliz, porque sempre admirei muito o trabalho dele”, lembra.
Mas com a chegada do coronavírus ao estado, o local precisou ser fechado e os músicos não puderam mais se apresentar por conta das medidas de restrição. “O baque foi muito grande, porque era um local onde tocava toda semana, levando alegria para o público”, diz.
Assim como muitos, Marcelino ainda não conseguiu retornar ao mercado de trabalho. “Sigo gravando bastante. Tenho um home studio, onde passo a maior parte do meu tempo. Nesse período de pandemia nós músicos tivemos que nos reinventar e aprender muitas coisas, apesar de tudo ainda está sendo um pouco difícil porque minha maior renda vinha dos eventos abertos para o público e no momento ainda não podemos fazer”, ressalta.
Para o gerente do Observatório Itaú Cultural, Jader Rosa, os números obtidos mostram uma instabilidade que não permite fazer previsões ainda sobre o setor. “Em virtude da pandemia percebe-se uma volatilidade e cada período apresenta uma reação de acordo com o andamento deste momento, a evolução das vacinações etc., o que não nos permite fazer uma previsão mais exata sobre o cenário, que tem respondido entre avanços e involução”, avalia.
Por outro lado, ele acredita que os dados apresentados pelo Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural poderiam nortear políticas públicas em prol desse setor tão afetado pela crise econômica. “Os indicadores são essenciais, são dados que nos fornecem informações para tentar entender a realidade, mas mais do que isso eles são ferramentas capazes de nos fornecer evidências que nos auxiliem a tomar decisões corretas como sociedade”, afirma.
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