Novela 'A Viagem': o que é real e o que é ficção segundo a doutrina espírita
Inspirada em obras de Chico Xavier e Allan Kardec, a trama mistura elementos reais da espiritualidade com licença poética para explicar céu, inferno, possessões e colônias espirituais

A novela "A Viagem", exibida pela TV Globo em 1994, e reexibida atualmente no "Vale a Pena Ver de Novo", é lembrada por seu enredo recheado de elementos sobrenaturais como possessões espirituais, céu, inferno e comunicação entre vivos e mortos. Embora parte da narrativa seja ficcional, muitos dos conceitos apresentados foram inspirados diretamente na doutrina espírita e em obras consagradas do espiritismo, como "Nosso Lar" (1944) e "E a Vida Continua…" (1968), ambos psicografados por Chico Xavier, além dos livros "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec.
A estudiosa espírita Sula Gallão esclarece o que é doutrinário e o que foi adaptado para fins dramáticos. Confira a seguir os principais pontos abordados sobre a relação entre a novela e os fundamentos da doutrina espírita. As informações são da CNN.
O que é real e o que é ficção em 'A Viagem'
Céu e inferno são lugares reais ou estados da alma?
Na visão espírita, céu e inferno não são locais físicos. De acordo com "O Evangelho Segundo o Espiritismo", são estados da alma, vividos tanto durante a encarnação quanto após a morte. Quando a novela representa o céu como um campo verde com pessoas felizes e interagindo, trata-se de uma “romantização” didática para tornar compreensível a realidade espiritual. Esses cenários simbólicos ajudam o espírito recém-desencarnado a se adaptar ao novo plano.
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As colônias espirituais, como “Nosso Lar”, realmente existem?
Sim, as colônias espirituais são descritas como ambientes organizados no plano astral para acolher espíritos após o desencarne. São criações mentais coletivas de espíritos mais evoluídos e funcionam como verdadeiras cidades: com hospitais, centros de estudo, áreas de lazer e ministérios. Cada cultura possui colônias específicas, adaptadas à sua linguagem e costumes. No entanto, essas colônias são temporárias e servem para facilitar o desapego do espírito à matéria.
O umbral mostrado na novela existe na doutrina espírita?
O personagem Alexandre, após a morte, é mostrado vagando em um ambiente sombrio e caótico. Essa representação tem fundamento na doutrina e se refere ao “umbral” — estado vibracional denso onde espíritos desequilibrados permanecem até que estejam prontos para evoluir. Segundo Sula Gallão, o inferno, ou umbral, também é um estado da alma, fruto de sentimentos, pensamentos e ações durante a vida. Quem vive em desarmonia atrai energias semelhantes e permanece nesse padrão após a morte.
Espíritos podem entrar no corpo de uma pessoa?
A ideia de um espírito “entrar” no corpo de alguém, como mostrado na possessão de Téo por Alexandre, não condiz exatamente com a doutrina. O que ocorre, segundo o espiritismo, é uma influência energética. Espíritos se conectam ao corpo astral (ou perispírito) de um encarnado por meio dos chacras, principalmente o chacra umeral (na omoplata esquerda). Isso pode causar alterações de fala, comportamento e emoção, mas não é uma invasão forçada — depende de sintonia entre o espírito e a pessoa.
Apenas médiuns podem sentir a presença de espíritos?
De acordo com "O Livro dos Médiuns", toda pessoa que sente, em qualquer grau, a influência de espíritos é considerada médium. Essa sensibilidade é inerente ao ser humano. Hoje, com maior abertura espiritual, é raro alguém que não possua algum tipo de percepção — seja por intuição, sonhos, arrepios ou sensações sutis.
Espíritos podem perturbar ou dominar uma pessoa?
No espiritismo, não se usa o termo “possessão”, mas sim “subjugação”. Essa dominação só ocorre quando há afinidade entre o espírito e o encarnado. Ou seja, um espírito inferior só consegue influenciar alguém que esteja em sintonia vibratória com ele. Não há invasão sem permissão energética.
Espíritos podem vagar pela Terra após a morte?
Sim, principalmente quando permanecem com sentimentos não resolvidos ou apegos à vida material. Muitos nem percebem que morreram, pois ainda se identificam com o plano físico. Esses espíritos precisam ser orientados e auxiliados, algo que é feito em sessões mediúnicas em centros espíritas.
Existe tempo no mundo espiritual?
O conceito de tempo não se aplica da mesma forma na espiritualidade. Um ano na Terra pode equivaler a muito mais — ou menos — no plano espiritual. Espíritos presos a sentimentos negativos podem permanecer longos períodos sem evolução, até que se libertem desse padrão vibratório.
Sessões de “mesa branca” funcionam como na novela?
Nas reuniões mediúnicas, também conhecidas como sessões de “mesa branca”, espíritos realmente se manifestam por meio dos médiuns. Esses encontros são organizados em centros espíritas, com o objetivo de esclarecer, consolar e orientar tanto encarnados quanto desencarnados.
Espíritos bons também se aproximam dos vivos?
Sim. Espíritos benevolentes se aproximam quando nossa vibração está elevada, com o objetivo de proteger, aconselhar e consolar. Isso pode acontecer por meio de sonhos, intuições, pensamentos inspiradores ou sensações de paz.
Existe uma “porta” entre os dois mundos?
Essa “porta” é o pensamento. É por meio da mente e dos sentimentos que criamos sintonia com o plano espiritual. Emoções intensas, como raiva, mágoa ou amor, criam conexões energéticas com desencarnados, como ocorre na relação entre Alexandre e Diná na trama.
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