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Novo álbum de Fagner: saiba mais sobre 'Meu Parceiro Belchior'

O artista resgatou faixas em parceria com Belchior, incluindo inéditas que estavam nos arquivos da censura da ditadura militar.

Enize Vidigal
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Ao completar 73 anos de idade, Fagner lança um novo álbum que se volta à origem da carreira, quando ele deixou o Ceará junto com o conterrâneo Belchior para apostar no mercado musical do Rio de Janeiro, onde dividiram apartamento, composições e histórias. O disco “Meu Parceiro Belchior”, que será lançado nesta quinta-feira, 13, vem reafirmar, segundo o próprio Fagner, o quanto se mantém atuais as ideias do amigo falecido há cinco anos e que deixou um grande legado na música popular brasileira.

O álbum traz duas músicas inéditas dos compositores cearenses, que foram resgatadas dos arquivos da censura da ditadura militar: “Alazão” e “Posto em sossego”. O projeto tem as participações de Amelinha, Frejat, Xand Avião e do próprio Belchior, ouvido em dueto virtual com Fagner na faixa ‘A palo seco’.

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Antônio Carlos Belchior faleceu aos 70 anos, em 2017. Junto com Raimundo Fagner, ele assinou sucessos como “Mucuripe” (1972), que chegou a ser gravada por Elis Regina e Roberto Carlos. Em “Meu Parceiro Belchior”, a faixa reaparece em registro ao vivo captado em show de voz e violão de Fagner, no Rio, com o coro do público. A canção “Paralelas” (1975) foi extraída do mesmo show para o projeto.

“Impressionante o que ele deixou de coisas para serem estudadas por muitos anos. A gente tinha essa obrigação de fazer esse disco”, disse Fagner em entrevista a jornalistas, da qual O Liberal participou. “Belchior tem repertório suficiente para fazer um novo disco”, afirmou o cantor e compositor, que se arrependeu de não ter incluído “Espacial” no álbum. “Espacial foi a primeira música do Belchior que eu ouvi antes da gente ser parceiro”, recordou.

O álbum faz o inventário de canções e histórias do fim dos anos 1960, época em que Fagner e Belchior junto a outros artistas como Fausto Nilo e Amelinha, se afinavam musical e ideologicamente nos bares de Fortaleza.

Inéditas

Foi o pesquisador musical Marcelo Fróes que localizou “Alazão” e “Posto em sossego”, em 2021, e as entregou a Fagner. Na primeira, a dupla contou com a adesão de Fausto, letrista recorrente da discografia de Fagner, que reverbera a nostalgia alegre dos bares da capital cearense; enquanto a segunda, é uma balada que chora “um pranto preto de asfalto”, como diz a letra. "Posto em sossego" ganhou videoclipe, que está sendo lançado junto com o álbum.

“Senti (ao rever as músicas censuradas) que o Belchior tinha deixado um trabalho com dimensão incrível. O (jornal) El País me procurou, eu estava na Espanha (para comentar o achado). A imprensa veio querendo saber e eu tive que responder e botar a cabeça pra funcionar pra rever os fatos que ocorreram com a gente pra poder chegar até aqui”, contou.

Outra música considerada inédita é “Bolero em Português” (Belchior e Fagner), datada de 1971 ou 1972, que foi gravada clandestinamente pela cantora Cláudia Versiani, em 1978. Ela foi composta quando a dupla cearense dividia o teto dedicada à Angela Maria. Amelinha foi quem gravou a música para o novo álbum de Fagner com violões de Ney Marques e a viola de 12 cordas de Robertinho.

image Capa do álbum. (Divulgação)

“Graças a Deus, eu tenho uma memória fantástica. O ‘Alazão’ foi mais fácil porque canto uma vez ou outra. O ‘Alazão’ e o ‘Bolero’ fizemos no Rio de Janeiro, quando a gente morava em Copacabana. Não tive dificuldade nisso. Se o Belchior está prestando para uma reflexão política nesse momento que estamos vivendo, que bom”, comentou Fagner.

Mais faixas

“Hora do almoço”, primeira música de Belchior que se tornou conhecida em festival, ganhou uma gravação inédita de Fagner nesse novo álbum, além de acordes de guitarra de Robertinho de Recife, produtor musical e arranjador do projeto. “(Gravar) ’Hora do almoço’ realmente me tocou. Me lembrei quando estava gravando nos meus primeiros momentos. Foi a música que abriu portas pra gente com a vitória dele em festival”, relembrou.

Outro clássico inicial de Belchior, “A palo seco” (1973), já tinha sido gravada por Fagner no álbum “Ave Noturna” (1975), mas o novo registro trouxe à tona a voz do próprio Belchior extraída da gravação do antológico álbum “Alucinação” (1976), e Fagner entra como a segunda voz na faixa.

Já “Galos, noites e quintais” (1976), música até então inédita de Fagner, foi formatada com guitarras e violões de Robertinho, assim como “Moto 1” (1973), parceria de Fagner e Belchior lançada há 49 anos no álbum de estreia de Fagner. Outra parceria da dupla, “Contramão” (1985), entrou no disco com gravação de Roberto Frejat.

O clássico “Noves fora”, canção dos primórdios dessa parceria, gravada em 1972 por Wilson Simonal, ganhou pegada de forró com Xand Avião. Já “Romanza”, também dos anos 70, um dos títulos menos conhecidos de Fagner e Belchior, ressurge com arranjo de rock.

Rompimento da parceria com Belchior

Apesar das composições em parceria, após algum tempo Fagner e Belchior se desentenderam e passaram muito tempo sem se falar. “Eu não tinha boa relação com Belchior, todo mundo sabe disso, mas longe de não ter admiração. Ele (me) procurou e eu, casca dura, não fui”, contou, sem detalhar o motivo do rompimento.

A última vez que os ex-parceiros se reencontraram foi em um festival na cidade de Canela, no Rio Grande do Sul: “Cheguei numa mesa e tinha vários artistas, como Amado Batista, Sérgio Reis e Michael Sullivan”, disse. Na ocasião, o sertanejo anunciou a dupla sem saber do “estranhamento” entre eles. “Foi uma hora contando histórias, cantando e fazendo cena para o povo, para não frustrar expectativas sobre a relação. Ele me mandou escrito música que a gente cantava demais, “Tenho medo”. Brincamos como amigos e essa lembrança vai ficar guardada”.

Após o lançamento, Fagner planeja montar um show e gravar um DVD do álbum.

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