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Mulheres paraenses lançam seu olhar no comando do setor cinematográfico

Representantes de duas gerações do cinema, as diretoras Jorane Castro e Adrianna Oliveira comentam desafios da profissão

Ana Carolina Matos
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"Vamos ocupar os espaços que a gente acha que merece e quer estar". Como um convite e também uma afirmação, a cineasta e roteirista paraense Jorane Castro fala sobre os desafios de ser mulher no segmento cinematográfico. A cineasta, que dirigiu mais de 20 filmes e já trabalha profissionalmente com cinema desde 2005, incentiva que mulheres que queiram lançar-se na área sejam persistentes. "Tente entender que o seu lugar é onde você quer estar. Se quer ser diretora, seja. Fotógrafa, seja. Não deixe ninguém determinar seu lugar. Pense estrategicamente sobre o que você quer fazer pra ter uma vida contínua no cinema, a longo prazo, mas também faça por paixão, o que lhe dá prazer", aconselha.

Para ela, a trajetória sempre será mais difícil somente pelo fato de ser mulher, mas é importante falar de preconceitos e assédios para que essas atitudes sejam combatidas. "Sempre vai haver uma dificuldade por ser mulher. Isso é normal. É o que a gente enfrenta todo dia, mas é bom poder falar sobre isso", pontua. "A gente tem que começar a falar porque não é não falando que as coisas não vão acontecer, que as mudanças não vão acontecer. A dificuldade por ser mulher sempre vai ser maior. A gente incomoda. Não é o lugar que esperam que a gente esteja, por mais que, historicamente, a mulher tenha sido um dos pilares da construção da indústria americana de cinema em Hollywood no começo do século XX", acrescenta.

"Tente entender que o seu lugar é onde você quer estar"

Jorane, que no currículo tem a direção de produções como os curtas "Invisíveis Prazeres Cotidianos" e "Ribeirinhos do Asfalto" e o longametragem "Para Ter Onde Ir", avalia que o passar dos anos tem sido positivo por facilitar o acesso e a produção de cinema. "Os recursos se democratizaram. Hoje a gente tem câmeras muito mais baratas. É muito mais fácil ter acesso à câmeras e equipamentos de filmagens. Hoje você pode filmar até com um celular de alta qualidade, já tem filmes feitos em formatos de celular e câmeras pequenas. Então o que importa é a ideia, a história que você tá contando. Nós, que trabalhamos com cinema somos contadores de história. A percepção também mudou. Todo mundo pode fazer", defende.

Para além dos desafios técnicos, há muito mais a ser superado. A recente premiação de Roman Polanski - em meio à novas acusações de estupro atribuídas a ele - na 45ª cerimônia do César, principal prêmio do cinema francês, é clara: homens continuam tendo apoio, sobretudo de outros homens (vale lembrar que os grandes prêmios de cinema continuam sendo comandados pela ala masculina), não importa quais crimes comentam. Pelo contrário. Em meio a protestos e críticas ferozes, o diretor despontou no número de indicações com o filme J’Accuse - O Oficial e o Espião”.

Integrante de uma nova geração de cineastas, a jovem Adrianna Oliveira ressalta que precisou ir bem além para conseguir a mesma visibilidade e reconhecimento que os homens em posições profissionais iguais ou até mesmo inferiores. “Ao longo da minha trajetória, durante várias vezes, precisei de maiores feitos e destaque para que fosse convidada a ocupar posições que homens, muito mais inexperientes que eu, ocuparam com facilidade. Os grupos minoritários não podem se dar ao luxo de serem medianos, se dessa forma forem, estarão destinados a ter funções muito menores do que são capazes de executar”, destaca.

"Os grupos minoritários não podem se dar ao luxo de serem medianos"

Para a cineasta, a opressão a qual determinados grupos - como o das mulheres, por exemplo - sofre, afeta todos os âmbitos de vida destas pessoas, do campo pessoal ao profissional. Por conta disso, Adrianna avalia que é difícil que o segmento cinematográfico, por exemplo, não reflita o contexto social de machismo a qual está inserido. “Ainda que o discurso igualitário tenha tomado mais força, é praticamente impossível estancar as diferenças do sistema. Então sim, é mais difícil pras mulheres brancas e mais ainda pras mulheres negras, porque o que nos rege não é apenas nosso pensamento atual, mas toda herança que vem conosco”, defende.

image Adrianna Oliveira: cineasta precisou ir bem além para conseguir a mesma visibilidade e reconhecimento que homens em posições profissionais iguais (Tereza e Aryane / Divulgação)

Adrianna lembra que comandar a direção do documentário “A Batalha de São Bráz”, um trabalho que retrata a construção das batalhas dos MC’s no Mercado de São Bráz, fez com que surgissem mais oportunidades.”A partir daí, algumas portas foram se abrindo e meu trabalho com o universo musical se intensificou. Hoje, meu trabalho autoral é majoritariamente editando e dirigindo videoclipes e, em conjunto com a MARAHU (vertente da produtora Clarté dedicada ao cinema), e dito a série para TV Sabores da Floresta com o chef de cozinha Thiago Castanho”, pontua.

A diretora audiovisual conta que ingressou no audiovisual aos 16 anos, acompanhada de alguns amigos em projetos mais descontraídos. A vivência, entretanto, a ajudou no campo profissional. “Criávamos o enredo, as cenas, atuávamos às vezes e depois editávamos. Essa experiência me ajudou quando entrei na universidade, que foi onde comecei a produzir para festivais competitivos estudantis e, junto com a minha equipe, recebemos prêmios em Belém e em outros lugares do Brasil”, relembra.

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