Mulheres artistas enfrentam opressão pela arte

Ao longo dos anos mulheres conquistaram espaço nas artes, mas preconceito persiste

Vito Gemaque
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Uma das formas de enfrentar as injustiças de gênero no Brasil, um dos países com altos números de violência contra a mulher, é pela arte. As mulheres artistas ainda hoje enfrentam dificuldades no mercado para ocupar cargos de direção, serem reconhecidas e terem respeito. Apesar do mundo ter melhorado um pouco, as violências contra o sexo feminino se mantém no Brasil. Independentemente do momento em que começaram as carreiras, as mulheres têm que enfrentar obstáculos impostos pelo preconceito. 

A atriz e produtora Zê Charone, que começou com 17 anos no teatro pelo Grupo Palha, lembra que há 40 anos uma atriz era comparada a uma prostituta. “Você como mulher quando dizia que era atriz dependendo do lugar que falava isso já te olhavam como se fosse do meio da prostituição. Eu estudava no segundo grau, além do povo do teatro, tinha contato com outro povo de gente careta, era difícil dizer que eu era atriz com 17 e 18 anos. Os homens te olhavam diferente, os homens achavam ter mais liberdade para chegar. Como mulher isso é muito chato”, relembra a atriz. Zê Charone que atualmente é produtora e presidente do Grupo Cuíra, trabalha em diversas frentes, como oficinas e montagens de espetáculos.

A performer paraense Mayara Yamada também enfrenta o preconceito com o próprio corpo. Também natural de Belém, ela realiza performances relacionadas a paisagem, identidade, gênero e memória. No ano letivo de 2018-2019 fez intercâmbio na ENSAPC - École Nationale Supérieure de Paris Cergy onde começou a desenvolver um trabalho audiovisual e cinematográfico mais aprofundado. Mesmo com um histórico de estudo internacional, Mayara teve que enfrentar ataques de haters.

image Mayara Yamada faz performances com os temas identidade e gênero. (Divulgação)

“Como é um trabalho que lida diretamente com o meu corpo várias vezes, os meus trabalhos têm a questão da nudez. E o meu corpo está na primeira camada. É a materialidade com que trabalho, isso já foi muito atacado. Eu já fui muito atacada na internet por haters. Eu vi minhas fotos circulando como algo a se contrapor como uma ameaça por movimentos conservadores”.

ESPAÇO - Ao longo das décadas as mulheres conquistaram mais espaços. Um exemplo recente foi a Lei Aldir Blanc que dava pontuação extra para projetos artísticos feitos ou dirigidos por mulheres. “Isso é uma conquista muito grande para mulheres, já ter uma pontuação a mais, é muito bacana e interessante, é uma conquista imensa para as mulheres”, declarou Zê Charone. Apesar dos avanços, as artistas consideram que ainda é preciso mais ações.

Hoje reconhecida nacionalmente, a cineasta Jorane Castro precisou enfrentar preconceitos que a fizeram duvidar da própria capacidade. “Eu vivi dificuldades imensas, mas comum a muitas mulheres, desde assédio, intimidação, falta de confiança na minha liderança, passando até por auto-sabotagem como o complexo de impostora. Mas a minha vontade de fazer filmes sempre foi maior do que tudo e consegui seguir em frente, tendo consciência do que vivi e de minhas conquistas. E estou aqui, seguindo em frente”, disse.

Atualmente, Jorane é professora do curso de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal do Pará (UFPA), desde 2009. Ela já dirigiu mais de 20 filmes, entre documentários e ficções, todos ambientados na Amazônia brasileira, que tem se destacado no cenário internacional e nacional em festivais como a Quinzena dos Realizadores (Cannes, França, 2001), Director’s Forthnight MoMA (New York, EUA, 2007), Marrakech International Film Festival (Marrocos 2001), Festival de Gramado, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Festival de Cinema Brasileiro de Paris (França 2008), e outros.

image Jorane Castro (centro) na direção do filme "Para ter onde ir". (Divulgação)

“Existe uma tradição de mulheres trabalhando no cinema desde a sua criação. Aos poucos foi se limitando para dar espaço aos homens, quando o cinema se tornou uma indústria tal qual a conhecemos hoje. Então, a mulher foi perdendo espaço como integrante do processo criativo e decisório. Mas vejo que o cenário está mudando, nos dias de hoje. A mulher está voltando a ocupar os espaços criativos no cinema mundial e inclusive aqui em Belém. Acho que já deu pra perceber a nossa rentabilidade e o nosso talento”, afirmou.

Para a performer Mayara Yamada a arte das próprias mulheres não pode ser entendida como acessória no cenário artístico. “Acho que uma forma de avançar é pensar o trabalho das mulheres não como algo que vem complementar ou suprir uma cena, mas sim criar espaços que o interesse por esses trabalhos estejam a priori”, atesta.

Para ela é preciso também pensar em todo tipo de mulher, sejam trans ou de classes diferentes. “Não pensar mulher como a mulher, uma única mulher, porque isso não existe. Pensar na mulher é pensar na diversidade. Isso eu acho que é muito importante para o avanço de forma mais igualitária e que a gente continue fazendo. Isso já é uma resposta, muitas mulheres não param de produzir diante desses preconceitos e desmontes”, enfatiza.

Uma das mudanças que a atriz Zê Charone percebe como um dos mais fundamentais é o posicionamento das mulheres da nova geração. “Eu convivo com jovens atrizes, que a gente trabalha junto, e é um outro empoderamento, amém senhor”, agradece. 

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