Livro 'Jagarajó' chega no dia 8 para contar o cotidiano de quem vive na Amazônia
Romance do escritor marajoara Ernesto Feio Boulhosa será lançado no dia 8 de agosto, às 19h, na Academia Paraense de Letra (APL), em Belém

Por sua flora, fauna, rios, igarapés e outros atrativos em abundância, a Amazônia mostra-se como um paraíso, um paraíso verde. No entanto, nessa região, nesse bioma, vivem pessoas historicamente isoladas dos grandes centros de decisão do país e do mundo, pessoas que cumprem longas jornadas para vender frutos coletados, caças, pescados, longas distâncias para ir e voltar da escola e que caminham pelas matas, resistindo às surpresas de um dia a dia difícil. Esse paraíso verde encontra-se ameaçado diante do desmatamento, poluição dos rios, tráfico de animais, tráfico e vida indigna de pessoas, ou seja, todos que dele fazem parte estão em risco de extinção. Por isso, é importante escrever sobre a Amazônia, e é isso que faz o escritor paraense Ernesto Feio Boulhosa, 69 anos. No próximo dia 8 de agosto, às 19h, na Academia Paraense de Letras (APL), ele lançará o seu 15º livro, "Jagarajó", pela editora Cromos, que aborda o cotidiano de quem vive no coração da floresta.
Ernesto Boulhosa nasceu no Município de Ponta de Pedras, no Arquipélago do Marajó, e tem 18 anos de intensas atividades como escritor. Em seu 15º livro, esse engenheiro agrônomo, pesquisador com Mestrado em Meio Ambiente e professor aposentado faz referência à comunidade de Jagarajó em Ponta de Pedras, onde nasceu a avó dele, dona Mercês Alves Boulhosa, de origem nhegabaites. "Segundo meus ancestrais, Jagarajó era um pássaro, hoje extinto", diz Ernesto.
"O livro é um romance, desenvolvido em contos e versos e conta o cotidiano dos
cabocos ribeirinhos que tinham uma vida pacata onde tudo era partilhado. Temos os personagens principais, minha tia Maçonila, meu tio pajé Pedro Calango e o bispo dom Ângelo Rivato. A natureza amazônica com seus encantos de rios, matas e
campos é o maior personagem desse livro, porque seus imaginários amazônicos, como o
Boto, Matinta Perera, Mapinguari e outros, defensores da mata, com o desmatamento, também estão indo embora, dando adeus à região. "Com a saída dos demais seres, vem o deserto", destaca o autor.
Essa apreensão do autor faz parte do cotidiano de quem vive no Marajó, na Amazônia. “No mundo do meu faz de conta, olhando tudo ao redor, veio na mente o
desejo de contemplar o Jagarajó. Fico imaginando suas praias margeadas pela
Baía do Marajó. Tento entender esse mundo de sonhos criado por Deus. São horas a fio, contemplando a imensidão da Baía do Marajó. Quantos seres habitam no seu leito? Como e quanto seria a profundidade do que se pode ver, para se aprofundar naquilo que se pode sentir? Como desvendar os mistérios das ondas, “do geral da tarde”, “do “vento terral”? Poder conhecer os verdadeiros sentidos de tudo aquilo que é tão vivo e presente na minha vida, de tudo aquilo guardado na memória, de tudo aquilo que me faz refletir", diz Ernesto em um trecho do livro.
"Por isso, hoje, quero agradecer o direito de existir. Por isso, eu não sei dizer ao certo o porquê de que elas existem sem me levar ao fundo da minha alma cabocla. Eu não sei ao certo o que mencionar nesse momento de contemplação e amor ao meu Jagarajó. Quisera eu poder entender os entrelaços dos rios com a Baía do Marajó; entrelaços estes tão presentes na minha vida, pois desde que eu me entendo como gente foi convivendo com essa Baía de sonho e ilusão. ‘Quisera eu poder entender tudo ao redor. Como não consigo, apenas observo o alimento do meu bem querer’”, acrescenta o autor..
Ernesto Boulhosa revela que sua intenção ao escrever essa obra é de chamar a atenção para o fato de que "podemos fazer uma interação entre o passado e o presente quanto à questão ambiental". Nesse sentido, como diz o autor, o livro retrata a necessidade de preservação do Arquipélago do Marajó-Amazonia, mostrando que ao se juntar o que era feito no passado com a realidade de hoje, isso se torna possível.
"Jagarajó é um livro de memórias e mostra o respeito que os cabocos tinham pela
natureza em todos os aspectos desde a pequena pedrinha, os animais silvestres e as
plantas que davam as raízes, frutos, folhas, e leite como o da Árvore do Amapá que
curam", salienta Ernesto. Ele pontua que "nesse mundo globalizado onde a situação climática é referencia mundial, e, segundo um filosofo francês escreveu há alguns anos, a Amazonia é o centro do mundo e precisa ser preservada". Como ressalta Boulhosa, a Amazônia não deve ter o mesmo destino do Jagarajó, ser um pássaro extinto.
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