Léo Lins se manifesta após ser condenado a oito anos de prisão por 'piadas' preconceituosas
Humorista rompeu o silêncio e publicou um vídeo no YouTube criticando a sentença

O humorista Léo Lins, de 42 anos, que foi condenado pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo a oito anos e três meses de prisão em regime inicialmente fechado, gravou um vídeo em sua casa para comentar a sentença nesta quinta-feira (5). Além da pena de prisão, ele foi condenado a pagar multa de aproximadamente R$ 1,4 milhão e indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 303,6 mil. A decisão foi motivada por piadas feitas no show “Perturbador”, gravado em 2022 e divulgado na internet, e ainda cabe recurso.
Em seu canal no YouTube, Léo Lins apareceu sério e falou diretamente ao público. “Esse vídeo não é piada. Eu tô em casa, com meus gatos, aqui a pessoa é Leonardo de Lima Borges Lins, e não o comediante Léo Lins, uma persona cômica criada ao longo de anos, que faz piadas ácidas, críticas, e que sabe que nem todas as piadas são para todas as pessoas”, declarou.
VEJA MAIS
O humorista disse ter lido a sentença na íntegra e acompanhou as discussões que seu caso provocou nas redes sociais e na mídia. Ele criticou o uso da Wikipédia como uma das fontes que embasaram a decisão judicial. “Sabe qual foi um dos embasamentos teóricos da juíza que me condenou a mais de 8 anos de cadeia? A Wikipedia. E isso não é uma piada”, afirmou.
Léo Lins também questionou a interpretação do juiz de que “mesmo que fosse um personagem, ainda assim há crime”. Para ele, esse entendimento abre um precedente perigoso. “Se um personagem pode cometer um crime, agora dá para prender a atriz que faz a vilã da novela, o ator que faz o vilão no filme, na série”, ponderou.
“Estamos vivendo uma das maiores epidemias dos últimos tempos, a da cegueira racional. Os julgamentos são feitos puramente baseados em emoção. Ninguém quer mais ouvir o próximo. Quer, no máximo, convencê-lo da sua própria verdade”, refletiu.
Léo ainda falou sobre os riscos de sentenças como a que recebeu para a liberdade de expressão. “Concordar com sentenças como essa é assinar um atestado de que somos adultos infantiloides, sem a menor capacidade de discernir o que é bom ou ruim para nós, e que precisamos de um Estado dizendo do que podemos rir, o que podemos ouvir, o que podemos comer, o que podemos falar e, até um dia, o que podemos pensar”, alertou.
O humorista contou que já sofreu agressões por conta de suas piadas e rebateu a ideia de que o humor incita crimes ou atos de ódio. “Eu acho mais problemático quando, ao ouvir uma piada, a pessoa, em vez de rir, reage com ódio. [...] E ainda assim, invertem essa lógica para fazer parecer que as pessoas que riem de determinadas piadas têm grande chance de cometer atos de ódio e preconceito”, destacou.
Léo Lins encerrou o vídeo agradecendo o apoio dos fãs e simpatizantes. “Recebi milhares de mensagens, confesso, foi acima da minha expectativa, de pessoas se posicionando a meu favor. [...] Como eu sempre falo, a melhor piada do mundo, sem alguém para rir, não tem graça. A comédia é feita para o próximo. Por isso, eu espero retribuir tudo isso em risadas”, concluiu.
Segundo a sentença, o material em questão foi publicado em 2022 no YouTube, no especial de comédia Perturbador, em que Léo Lins fazia piadas com temas como escravidão, deficiência física, HIV, homossexualidade, obesidade, indígenas, evangélicos, nordestinos, judeus e pessoas idosas. O vídeo chegou a atingir mais de 3 milhões de visualizações antes de ser retirado do ar por determinação judicial, em agosto de 2023.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA