História de 'O Pasquim' um dos jornais mais irreverentes de todos os tempos vira livro

Com narrativa fluída e repleta de detalhes, a obra percorre o caminho de 22 anos de atividade do periódico, sempre acompanhado pelo simpático Sig, o rato símbolo do semanário, desenhado pelo cartunista Jaguar.

Alexandra Cavalcanti

Certa vez, ao ter uma frase sua cortada de um texto, o jornalista e escritor Rubem Braga foi até Assis Chateaubriand, proprietário do jornal em que trabalha contestar o fato. Em resposta ouviu: “Se você quer ter liberdade plena, Rubem, compre um jornal para escrever tudo o que deseja”. Era isso que pretendia o pessoal do Pasquim ao lançar o semanário em 26 de junho de 1969, em plena Ditadura Militar. E não deu outra, tornou-se um representante do jornalismo alternativo e de oposição ao governo, passando por altos e baixos para conseguir dizer tudo o que acreditava ser necessário ser dito. Foi para contar a trajetória de 22 anos de existência dessa publicação que o jornalista, editor literário e produtor cultural Márcio Pinheiro escreveu “Rato de Redação – Sig e a História do Pasquim", lançado pela Editora Matrix.

Entre outras histórias, a obra detalha desde a escolha do nome do jornal, a prisão de parte da equipe em 1970, o fim do regime militar, a redemocratização e o fim do periódico em 1991. De acordo com o autor trata-se de uma biografia do jornal. “Essa foi minha intenção. Contar a história do mais ousado e revolucionário produto jornalístico já criado no Brasil. Lançado em 1969, apenas seis meses depois do AI-5 - numa época de repressão e censura - o Pasquim foi um sopro de humor e inteligência. Era a resistência possível naquele momento. Além disso, lançou gírias e personagens, tirou a caretice da imprensa, revolucionou a linguagem e o comportamento. Suas inovações são até hoje copiadas, repetidas”, explica.

Na origem do Pasquim estavam o cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral. Mas com o tempo, outros nomes do jornalismo começaram a dar suas contribuições ao semanário, entre eles Ziraldo, Millôr, Manoel Braga, Miguel Paiva, Próperi, Claudius e Fortuna. Comuma tiragem inicial de 28 mil exemplares, em seis meses alcançou 250 mil. “O Pasquim foi inovador em sua época e também deixou um legado em que muitas das inovações lançadas há tanto tempo ainda persistem. Ou seja: humor e inteligência são armas eternas que sempre ajudam a enfrentar períodos difíceis”, diz o autor.

Justamente por conta de toda a irreverência do jornal, o autor acredita que talvez o semanário não fosse possível nos dias de hoje. “E acredito inclusive que o Pasquim, pela afronta que fazia ao politicamente correto, hoje seria cancelado. Duvido que, sobre todos os aspectos, surgisse algo semelhante. O Pasquim não teria como se repetir. Mas se houver algo parecido, eu gostaria de fazer parte”, garante.

Márcio ressalta que contar a história do jornal sempre esteve em seus planos, mas por conta de algumas questões precisou adiar esse desejo. “Ele é um tema que me acompanha desde sempre. Em 2019, quando o jornal teria 50 anos, acreditei que seria um bom momento, até porque, pensava eu, haveria outros lançamentos semelhantes. Para minha surpresa, não houve – nem mesmo o meu. Assim, o projeto percorreu mais de dois anos, em meio a uma pandemia, até se transformar em livro”, relembra.

Para contar essa história, ele precisou se debruçar sobre os vários volumes do jornal e confirmar aquilo que sempre teve certeza. “O Pasquim foi inovador em sua época e também deixou um legado em que muitas das inovações lançadas há tanto tempo ainda persistem. Ou seja: humor e inteligência são armas eternas que sempre ajudam a enfrentar períodos difíceis”, afirma.

E para ele é justamente essa história singular que precisava ser contada. “Desde a fundação até o fim, o Pasquim foi repleto de momentos divertidos, anárquicos, solidários, alegres, tristes, violentos... Nesses 22 anos de existência houve de tudo. Foi uma história rica e irrepetível”, reforça.

Umas das mais conhecidas, sem dúvida, ocorreu em 1970 quando praticamente toda a redação do semanário foi presa. Isso ocorreu depois que o jornal publicou uma sátira do quadro de D. Pedro às margens do Ipiranga. Apesar da queda, o jornal se ergueu e seguiu até 11 de novembro de 1991. Para resgatar tudo isso, Márcio conta que optou “por beber da fonte”.“Foi em cima da coleção do jornal. Minha intenção era contar a história do jornal (suas entrevistas, análises, cartuns, invenções, sacadas...). Sendo assim, optei por ficar em cima do que foi publicado. Embora tenha noção da importância da vida e da obra de grandes personagens que fizeram o jornal (Tarso, Millôr, Jaguar, Sérgio Augusto, Maciel...), minha vontade era ter o jornal como fio condutor. Obviamente, falo de todos esses personagens, mas sempre mantendo o jornal – que foi o grande momento profissional da vida de todos eles – como sendo o personagem central”, justifica.

Nome - O nome da obra “Rato de Redação – Sig e a História do Pasquim” faz uma referência direta a principal marca do semanário: o simpático Sig, o rato símbolo do jornal, desenhado pelo cartunista Jaguar.

Desde a primeira capa de O Pasquim, Sig estava lá, em destaque. Ele interferia com seus comentários sarcásticos em quase todas as matérias, artigos, entrevistas e até anúncios. “É a presença mais constante durante as mais de duas décadas de existência do jornal”, conta Márcio Pinheiro.

Serviço: O livro “Rato de Redação – Sig e a História do Pasquim”, de Márcio Pinheiro está disponível para compra no site da Matrix Editora, Amazon, Americanas e também em diversas livrarias do país.

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