Filme de diretor paraense resgata memórias e imagens da ilha de Mosqueiro

Produção apresenta histórias pessoais e coletivas vividas em uma das praias mais simbólicas da ilha

Bruno Menezes | Especial para O Liberal
fonte

As ondas dos rios e a nostalgia presentes na ilha de Mosqueiro se tornam arte no novo filme paraense Praia Grande, do diretor Fernando Segtowick, que tem sua pré-estreia marcada para esta sexta-feira (9), em uma exibição para estudantes e profissionais do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará (UFPA). O documentário consiste em um mergulho na história da região e nas vivências pessoais da família do cineasta, que viveu momentos especiais no distrito.

O diretor conta que sempre teve uma forte relação com Mosqueiro e que o curta-metragem é uma espécie de celebração às histórias vividas por sua família na ilha.

“É um lugar que eu tenho relação afetiva, de memória, desde criança. A minha família tinha casa lá desde 1954, e eu ia sempre nas férias, passava um mês inteiro curtindo aquela liberdade muito grande. Acho que uma coisa que sempre me chamou atenção é que Mosqueiro desconstrói o imaginário de uma praia na Amazônia, já que é um rio muito grande, que tem ondas. É algo que gosto de fazer nos meus trabalhos: desmistificar e mostrar algo diferente sobre o que as pessoas de fora imaginam da região”, recorda Segtowick.

image Casa da família Segtowick, local que carrega muitas lembranças para o cineasta (Foto: Lais Teixeira)

De acordo com Fernando, a ideia inicial do documentário surgiu após a morte de seu pai, vítima de Covid-19 — uma dor que o motivou a homenageá-lo por meio das lembranças resgatadas no filme.

“No processo de luto e de cura, a maneira que eu tive de me expressar foi através do audiovisual. E aí eu descobri, no processo, que eu não estava contando a história só da minha família, mas da história de Mosqueiro, sobre como as pessoas iam, e essa relação que os belenenses têm com a ilha — uma relação de muitos anos, que tem a ver com a própria colonização da região, que começou com os ingleses e está marcada em muitas casas de Mosqueiro”, relata o diretor.

Sobre o enredo do filme, Segtowick explica que ele é uma espécie de ‘road movie’, que mostra o deslocamento de Belém até Mosqueiro, além de entrevistas com familiares e pessoas fortemente ligadas à Praia Grande.

“O documentário é feito com entrevistas e imagens de deslocamento de carro. Há uma cena especial de uma conversa entre mim e meu pai, na Praia Grande, como se a gente se encontrasse. Também apresentamos imagens de arquivo do Museu Goeldi datadas de 1906, mostrando que as pessoas já iam para Mosqueiro nessa época, além de entrevista com duas moradoras da Praia Grande, que têm uma tradição religiosa e envolvimento com causas ambientais na região”, pontua o cineasta.

Ele também destaca o fator ambiental presente no documentário, já que atualmente a Praia Grande vive um processo de degradação do solo, o que pode fazer com que a paisagem desapareça para sempre.

“Acredito que, por conta das questões climáticas, a Praia Grande tá desaparecendo, tá tendo erosão, parte da rua e via já cederam, não se consegue andar mais pela rua toda. Então o filme também faz essa reflexão, em como um local tão importante na formação da minha família pode desaparecer. E isso acaba sendo um reflexo de tudo o que a gente vive, dos nossos ambientes na Amazônia. Então acho que o filme toca nesses assuntos, além de ser uma questão pessoal”, reflete Fernando.

image Registro de Segtowick (esquerda) e sua equipe de filmagem do documentário Praia Grande (Foto: Lais Teixeira)

Envolvimento pessoal

Além de Praia Grande, Fernando também dirigiu os filmes Vatapá ou Maniçoba?, O Reflexo do Lago e Matinta. O paraense revela que, apesar da experiência adquirida nas produções anteriores, este documentário foi desafiador, pois foi a primeira vez em que precisou expor parte de sua vida pessoal em uma história.

“Acho que cada projeto sempre causa um sentimento novo. As coisas que eu fiz sempre foram diferentes, mas você mexer numa coisa pessoal não é um processo fácil, porque você se expõe. Mas acho que talvez toda produção que você realiza, você se expõe. Porém, essa (Praia Grande), de todas, é a mais desafiadora nesse sentido — explorando coisas da minha memória, da família — sempre é um processo delicado. Mas, apesar de tudo isso, eu acho que tinha que fazer essa homenagem para Mosqueiro e para o meu pai”, expressa Segtowick.

Após a pré-estreia na UFPA, o filme será exibido no dia 17 de maio para moradores da Praia Grande. Mas a ideia é que o longa não pare por aí. Fernando afirmou que pretende levar o documentário para festivais de cinema nacionais e internacionais, além de buscar recursos para transformá-lo em um longa-metragem.

“O próximo passo é inscrever em festivais e ver como que as pessoas vão reagir a ele fora daqui, já que é uma história muito nossa. Mas eu também quero exibir ele bastante na nossa região e espero que os paraenses se conectem com o filme”, conclui o diretor paraense.

Sobre Fernando Segtowick

Além de cineasta, Fernando Segtowick é roteirista e produtor executivo. Dirigiu o documentário O Reflexo do Lago, que estreou mundialmente no Festival de Berlim, em 2020; o telefilme Vatapá ou Maniçoba?, exibido na TV Globo em janeiro de 2025; além do curta-metragem Matinta (2010).

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA