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Cristiana Oliveira revela a sensação de rever a novela que a apresentou para a televisão

Atriz fala sobre etarismo e exposição da intimidade nas redes sociais

Sonia Ferro
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Em tempos de discursos ensaiados e imagens milimetricamente construídas, chega a ser estranho encontrar artistas que esbanjam simpatia e espontaneidade. Assim é Cristiana Oliveira, que fez questão de conversar com a equipe de O Liberal por telefone. Em uma conversa longa, ela falou sobre Pantanal, Juma Marruá, etarismo, exposição em redes sociais, o novo livro e revelou seu vício em café e a mania de pegar no cabelo.

Tua estreia na TV foi um grande sucesso. Quando recebeste o convite, esperavas esse sucesso?

De jeito nenhum!  Na verdade, eu era jornalista, já trabalhava no maior jornal do Rio de Janeiro, que era o Globo, então os meus anseios eram diferentes. Só que do lado da redação, tinha o curso do Wolf Maia, que era mega conhecido, dava pra ir a pé, era um curso de vídeo e eu me interessei em fazer assim sabe quando você vai de farra? E eu fiz e o Wolf me deu um toque e falou: ‘olha a câmera gosta muito de você, garota. Ela foi com a tua cara’. E foi aí que me deu uma despertadazinha. Bom, aí eu fui ser modelo por acaso e fui chamada na Manchete (emissora extinta em 1999) pra fazer um teste pra um programa de clipe chamado “Choque” e nisso eu levei um material meu de fotos pro Jayme Monjardim e levei uma fita com um comercial que eu tinha acabado de fazer com direção do Walter Sales Junior e aí quando ele viu, me falou que estava escalando pra uma novela, que era a Kananga do Japão, e que tinha me visto na personagem principal. Eu falei que eu nunca tinha feito nada, nunca tinha segurado um texto na minha vida, mas ele perguntou se eu topava fazer uns testes  e eu perguntei como seria. Ele falou que ia me dar alguns textos e que seria dirigida pela Tizuka Yamazaki, que era outra cineasta, que ela ia me ensinar. Fui dirigida duas vezes seguidas por dois cineastas grandes, olha que sorte, né? Aí eu fui. Inclusive eu nunca falei isso pra ninguém, você é a primeira: eu peguei o texto da novela e fui pra casa pra tentar decorar aquilo e eu falei, meu Deus do céu, eu fiquei com medo, mas aí eu fui orientada pela Tizuca, depois quem me dirigiu foi o Carlos Magalhães que hoje é meu grande amigo e aí a coisa foi indo... Como eles acabaram fechando com a Cristiane Torloni, eu fiquei com o segundo papel mais importante da história. Então assim foi tudo muito rápido. E aí no meio da novela que eu estava amando fazer, o Jaime me tirou pra fazer essa novela Pantanal.

Logo na tua segunda novela, interpretaste a Juma Marruá, um personagem icônico de um dos maiores sucessos da TV brasileira que é a novela “Pantanal”. Como foi?

No início, eu seria a muda e eu meio que rejeitei, meu coração rejeitou a muda a partir do momento que eu comecei a ler a Juma. E aí foi aquela velha história que eu acho que eu já contei que eu lutei pelo personagem e que no final das contas acabou sendo meu. A Juma foi uma personagem 100% intuitiva. Ela não teve nenhuma composição a não ser inspirações minhas que eu peguei do olhar da onça que eu via em revista e o olhar da minha filha, que tinha três anos de idade naquela época. Um olhar curioso e a Juma era uma menina pelo desconhecimento de causa dela, tudo dela era muito é aquele olhar de criança. Eu achei que cabelo pro lado, como eu usava, não tinha nada a ver com aquela mulher e aí parti o cabelo no meio, joguei na cara, fiz a composição dela mais nesse sentido, mas a Juma ela era tão linda como ela é tão linda, eu digo a Juma do Benedito, que ela foi nascendo dentro de mim. É uma coisa meio mágica! E aí eu acho que foi uma junção de tudo: do que o Benedito tinha escrito com a minha assinatura, com a minha sensibilidade, um pouco da Cristiana estava ali com a direção dos meninos né? Na verdade, eram quatro: era o Jaime Monjardim, Carlos Magalhães, Roberto Naara e Marcelo de Barreto. Sabe quando tudo dá certo? Tudo se equilibra e até hoje, 32 anos depois, a Juma é minha persona. Não é minha única personagem, mas indiscutivelmente é a mais forte, né? É a mais enfim icônica como você mesma falou.

Depois de 32 anos, como está sendo ver o remake de ‘Pantanal’?

Eu vejo a Juma da Alanis muito única, ela está fazendo do jeito dela e eu acho que não existe comparação, cada uma fez de um jeito. Agora a novela tem toda uma tecnologia, tem uma abordagem mais atual. A diferença é que, por exemplo, com tudo que tem acontecido no Pantanal, com tudo que tem acontecido no clima do mundo, eu vejo um pantanal diferente daquela época, que nós tínhamos as estações muito definidas. Hoje está tudo bagunçado, entendeu? E também existiram as queimadas em 2020, que foi algo muito sério, historicamente falando. Mas a direção de fotografia está lindíssima. Na minha época, não teve o encontro das personagens Maria Marruá e Juma com uma onça e dessa vez teve, que foi computação gráfica, uma evolução da tecnologia que na nossa época não tinha. As personagens estão muito bem construídas. O Bruno está fazendo uma adaptação que tem muito a ver com o que a gente está passando, do que o que o Pantanal está passando. A essência é a mesma, exatamente a mesma.

O Pantanal segue presente na tua vida? (Confirma a informação de que é embaixadora da ONG SOS Pantanal e dona de uma linha de cosméticos veganos?)

O Pantanal sempre esteve na minha vida: a novela e o bioma sempre teve perto de mim de alguma forma. Na pandemia e com essas queimadas de 2020, isso me aproximou muito mais do Pantanal porque eu me assustei com a quantidade de queimada, foi muito assustador. Acabou com tudo: queimou o plantio, matou gado, foi um negócio muito feio. E aí eu me manifestei, falei que eu gostaria de ajudar de alguma forma e aí fui fazendo expedição pra ajudar e o visual do Pantanal era todo queimado, dava uma dor, sabe? E aí dois anos depois, eu fui convidada exatamente por essa manifestação, minha voz, e também minhas atitudes, as minhas presenças, para ser embaixadora da ONG SOS Pantanal. Independente de qualquer coisa, o Pantanal está em mim, o Pantanal está tatuado no meu braço, então é pra sempre.

És uma atriz premiada, com uma carreira de sucesso, tens duas filhas e um neto. Vendo hoje essa nova geração de atores, que convive a urgência e exposição das redes sociais, que conselho daria?

Tomem muito cuidado porque isso gera uma carência e uma frustração muito grande, que é exatamente o que eu falo no meu livro (Cristiana lançou no dia 09 de maio sua biografia), que é a dependência da aprovação do outro pra você se sentir uma pessoa legal, entendeu? E você não precisa disso. Você precisa se enxergar. Você precisa se autoconhecer. Você precisa trabalhar a tua auto aceitação. Se você quiser compartilhar vitória, se você quiser compartilhar um fracasso ou uma dor pra ajudar as outras pessoas, eu acho que você pode fazer, mas não esperando disso um retorno 100% positivo ou validando as tuas atitudes por causa do que os outros falam de bem pra você ou mal. Tudo que acontece ali nas redes sociais é maquiado, nunca é 100% verdadeiro e a pessoa tem que estar muito segura do que está falando e mostrando pra aceitar a opinião alheia. Porque a momento que nós expomos a nossa vida nós somos suscetíveis a comentários positivos e negativos. Por isso que eu prefiro ser uma pessoa mais discreta, eu divulgo sim o meu trabalho, mas também não fico esperando que as pessoas me achem o máximo não. A gente não tem unanimidade. Tem que tomar muito cuidado pra não se frustrar. Porque tem muito adolescente se matando porque não é aprovado nas redes sociais, porque não recebe a quantidade de like, porque recebe uma um comentário idiota de um hater e isso tem que tomar muito cuidado. Eu não posso ligar pra isso, eu prefiro ligar pra grande maioria que só me faz elogio, que só fala bem, que só estimula a minha carreira, me dá força, que se emociona com os meus trabalhos que eu já fiz, entendeu?

Hoje, és uma mulher mais madura, mas que segue sendo referência de beleza no Brasil. Envelhecer é difícil para uma figura pública, especialmente para uma mulher?

Isso tem que acabar. Tem que parar com essa mania. Sabe por quê? Não quer envelhecer, morre jovem! Todos nós vamos envelhecer e isso é um privilégio. Porque isso quer dizer vida. Entendeu? Nós somos as nossas experiências, nossos aprendizados, entendeu? Envelhecer é viver então isso é tão surreal existir esse etarismo, esse preconceito contra o idoso ou contra a pessoa que está envelhecendo o que que é que essas pessoas esperam que a gente seja embalsamado em vida? Chega dessa invisibilidade do idoso ou da idosa! O amadurecimento é lindo. O invólucro da gente, ele vai se transformando ao longo dos anos. Isso é normal. Só que o problema todo é que a televisão é o meu espelho pros outros, as pessoas elas me veem envelhecendo e se veem envelhecendo. Pra mulheres que são contemporâneas a mim e que trabalham na televisão, o tempo passou pra essas pessoas, mas quem está acompanhando está envelhecendo também. Será que nós somos um espelho dessas pessoas? Por que elas tem raiva de envelhecer? Mas que tristeza é essa? A televisão é jovem como o cinema é jovem. É uma coisa assim no sentido de que o jovem é o belo e as pessoas estão já treinadas mentalmente a considerar visualmente o velho como uma coisa feia. Tem que mudar essa mentalidade, tem que mudar esse olhar. A gente tem que começar a enxergar a beleza em outras coisas.

Onde podemos encontrar a Cristiana Oliveira nos próximos meses? 

Eu completei os três desejos: plantei uma árvore, tive filho e agora lancei um livro. (risos) Tô focada no livro “Cristiana Oliveira: Versões de uma Vida” que lancei dia 09 de maio, foi um sucesso, livraria lotada, tô muito feliz. O livro traz relatos de passagens da minha vida, do quanto que eu sofri sobre o que nós conversamos sobre baixa autoestima, sobre insegurança, sobre gordofobia, sobre bullying que sofri na escola, em casa por ser mais gorda... Graças a Deus, hoje, com quase 60 anos eu posso te dizer que sou hoje uma pessoa com autoestima equilibrada e segura. Também vou retomar as minhas palestras que eu suspendi durante a pandemia e em junho, vou lançar um linha capilar 100% vegana e sustentável, que terá renda 100% doada à ONG SOS Pantanal.

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