Crimes reais invadem a ficção: cineasta fala sobre produção de 'Quem matou Eloá?'
Lívia Perez é pesquisadora e produtora de cinema independente do Brasil

Dos noticiários para as telas dos cinemas, casos de crimes reais vêm ganhando cada vez mais produções como o "O menino que matou meus pais", "A menina que matou os pais", "O caso Evandro" e entre outros. A equipe de O Liberal conversou com a diretora, pesquisadora e produtora de cinema independente no Brasil, Lívia Perez, autora de "Quem matou Eloá¿", filme documentário lançado em 2015, que dá destaque para um olhar feminista a respeito do caso ocorrido em 2008.
Para quem não lembra, o Caso Eloá ocorreu em São Paulo, dia 13 de outubro, e marca um longo cárcere privado de uma adolescente seguido de feminicídio, que adquiriu repercussão nacional e internacional. Lindemberg Fernandes Alves, 22 anos, invadiu a casa de sua ex-namorada, Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, no bairro de Jardim Santo André, no município de Santo André, na Grande São Paulo, onde ela e colegas realizavam trabalhos escolares. Inicialmente dois reféns foram liberados, restando no interior do apartamento, em poder do sequestrador, Eloá e sua amiga Nayara Silva.
Sete anos depois do crime, a diretora Lívia Perez se preocupou em trazer pessoas com um olhar feminista para recordar a tragédia. “Se tratando da realidade do Brasil, um país com altas taxas de feminicídio, quis mostrar como esse tipo de crime reproduz um exemplo clássico de situação endêmica no Brasil, que é o assassinato de mulheres e entre outras violências. Por isso, tive essa preocupação e foi uma intenção deliberada enquanto diretora de escolher essas mulheres que iam ter esse olhar feminista”, pontua Lívia.
Em se tratando a adaptações de casos reais, Livia Perez pontua que é importante ter uma responsabilidade, já que se trata de realidade e lidando com crimes que já ocorreram. “Sou contra que se faça essas adaptações de crimes que ainda não foram julgados ou de crimes que não terminaram. Por exemplo, a cobertura que muitos programas de tv’s fizeram sobre o caso Eloá foi também uma cobertura audiovisual e foi feito durante o crime e acho que isso prejudicou muito o desenrolar e o desfecho. É importante ter um completo desfecho do acontecimento por uma questão de responsabilidade”, ressalta.
Esse tipo de produção abre o debate sobre os casos. Com relação ao caso Eloá, que trata do feminicídio, Lívia Perez avalia que a mídia melhorou a abordagem para esses tipos de crimes e também em casos de crimes lgbtfóbicos e homofóbicos. “Mas ainda assim falta um caminho a ser percorrido, por exemplo, nunca usar a palavra sexo quando se trata de estupro, pois é muito comum noticiarem que o estuprador forçou o sexo, o termo certo é estupro”, explica a pesquisadora.
Livia avalia que a mídia melhorou muito por pressão da população nas mídias sociais que pedem um outro olhar. “Como tivemos um avanço do conservadorismo também temos avanço nos movimentos sociais, como o feminismo. E muito dessa melhora é resultado da organização destes movimentos e também de uma aliança com jornalistas, comunicadores e imprensa em geral. Lembrando que ainda temos um caminho longo a percorrer”, reflete a diretora do documentário.
Atuante no cinema independente, atualmente, Livia Perez finaliza seu último longa-metragem “M de mães”, que conta a trajetória de maternidade homoafetiva de duas mulheres lésbicas que decidem ser mães e, para isso, vão até o limite da ciência. Todo esse processo e jornada de maternidade e espera vai ser lançado ano que vem.
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