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Cresce o número de mulheres publicando livros

Plataforma aponta salto de 34% para 44% das autoras, de 2019 a 2021. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) confirma o aumento, inclusive, de autoras premiadas.

Enize Vidigal

As mulheres estão publicando mais livros no Brasil. Em um mercado editorial majoritariamente dominado por homens, foi perceptível uma “virada de chave” das autoras a partir da pandemia. A plataforma de autopublicação Clube de Autores, que possui 75 mil livros publicados, observou que as escritoras passaram de 34% do total de autores, em 2019, para 44%, em abril deste ano. A Câmara Brasileira do Livro confirma que, cada vez mais, escritoras publicam livros e vencendo prêmios de literatura, a exemplo da paraense Monique Malcher, que conquistou o Prêmio Jabuti na categoria Melhor Conto, na edição de 2021, com o livro “Flor de Gume”.

O presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL),  Vitor Tavares, afirma: “Assim como ocorre em diversos setores, temos observado que a participação da mulher está crescendo no mercado editorial e há cada vez mais escritoras publicando livros. Um reflexo disso é a presença de autoras nas listas dos livros mais vendidos, o aumento do número de favoritas ao prêmio Nobel de Literatura e de mulheres premiadas no Jabuti”, explica. Segundo ele, em 2012, apenas três autoras apareciam na lista dos mais vendidos da Publishnews, mas, dez anos depois, esse número mais que dobrou, subiu para oito. Enquanto que o Jabuti, na primeira edição de há 63 anos, teve apenas uma mulher entre os premiados, já na última edição, em 2021, premiou 10 autoras. 

“A sociedade é historicamente patriarcal, portanto a participação masculina no mercado de trabalho sempre foi dominante. Isso está mudando e é ótimo, mas é uma mudança que está ocorrendo gradualmente. Ainda há muito para ser feito para que as mulheres ocupem os espaços que lhes são de direito", destaca o presidente.

Monique Malcher observa que muitas mulheres escreviam, mas não publicavam. “A minha percepção é que sempre existimos (escritoras), sempre escrevemos, mas grande parte não tinha coragem para mostrar seus inscritos ou não tinha incentivo e nem conhecia outras mulheres que escrevessem”, avalia. “E tem a questão de não se sentirem escritoras. ‘Eu crio todo dia, mas não sou escritora, quando me denominam escritora?’ São questões que ouço de autoras”. 

Monique também diz que as escritoras passaram a se mostrar mais com a pandemia. “Nessa etapa de isolamento, todas as inseguranças, a falta de espaço culminou com as mulheres querendo sair dessa caixa, a conversar com outras autoras, a escrever sobre histórias que nunca contaram, um processo de autoconhecimento, de se ver como escritora.  As editoras perceberam que as autoras vendem muito livro, elas tem muitas leitoras. Nós mulheres, queremos ler outras mulheres porque passamos a vida lendo autores homens”. 

Plataforma contabilizou a mudança

A mudança foi percebida pelo CEO do Clube de Autores, Ricardo Almeida, que está à frente do negócio desde a fundação, em 2009. “Antes, me saltava aos olhos a pouca quantidade de mulher publicando, até o pré-pandemia, 2019, ficava em 34%. Esse percentual variava um pouco a cada ano, para mais ou para menos. Eu nunca consegui achar uma explicação, mas a gente começou a ver com a pandemia uma mudança nesse perfil. Em 2021, saltou para 40% (quando 11.247 livros foram publicados em meios físico e digital) e até abril de 2022, foi para 44,4%. Esse salto tem se mantido e tem crescido cada vez mais”. 

A maioria das autoras da plataforma publica romances (21%). As demais categorias em que elas mais assinam obras são religião (6%), poesia (5%), literatura infanto-juvenil (4%) e didáticos (4%). As autoras que mais estão vendendo no Clube de Autores são Marlene Mukai, autoras de livros técnicos sobre empreendedorismo e moda; Helena Polak, sobre a convivência com pessoa de transtorno de personalidade Borderlineno livro “Alta Sennsibilidade Emocional”; e Thaís Pessanha com o romance “Sobre Rodas”, em que relata experiências pessoais como portadora de uma doença congênica rara.

“Muita coisa mudou com a pandemia. O número de livros publicados cresceu em mais ou menos 30%, o número de venda triplicou e a produção literária também cresceu. A pandemia forçou as pessoas a ficar em casa, além de ter sido um período de muita angústia”. 

A virada de chave das escritoras

A pajé, escritora e compositora Zeneida Lima conseguiu “furar a bolha” em um mercado dominado pelos homens e publicou a primeira biografia “O Mundo místico dos caruanas e a revolta da sua ave”, em 1994. “Eu comecei a escrever em 1991. Não tive dificuldade para publicar, tudo aconteceu muito rápido”, recorda. Em 2002, ela lançou “O mundo místico dos caruanas da ilha do Marajó”, que acaba de receber nova edição ampliada. A obra teve sete edições e chegou a vender 8 mil exemplares, virou tema campeão do carnaval carioca pela Beija-flor, em 1998, e virou filme, “Os encantados”, dirigido por Tizuka Yamasaki, em 2017.

A psicóloga Michele Goulart acaba de abrir a editora independente "Depois da Chuva", especializada em livros infantis. Ela conta que estreou o empreendimento com obras somente de autoras, incluindo o próprio livro “Plimplimplim plimplim plim”. “Escrevo há muitos anos, mas só publiquei meu primeiro livro em abril deste ano”, revela. Michele se prepara para publicar o novo livro, um romance, já pronto, por outra editora.

Ela acredita que o crescimento de mulheres publicando livros se deve ao mercado de mulheres leitoras que buscam obras além dos tradicionais romances, mas que tragam uma “abordagem mais realista” e que “reflitam as experiências de outras mulheres”. “Percebo muitas mulheres com textos interessantes que representam o universo feminino, como a Monique Malcher, Giovana Madalosso e Natália Timerman, entre outras. Nós, mulheres, não estamos nos tornando editoras agora, estamos sendo publicadas". 

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