Websérie 'Vivências do Carimbó' exibe ensino-aprendizagem dos mestres do ritmo paraense

A produção audiovisual de Priscila Cobra e Marcos Corrêa estreou nesta segunda-feira, 24, no Youtube.

Enize Vidigal
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O carimbó, ritmo regional de reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro desde 2014, ganha mais um registro audiovisual de valorização. A websérie documental "Vivências do Carimbó" colhe depoimentos de professores e mestres para evidenciar o ritmo regional como ferramenta pedagógica de ensino, além de realizar o intercâmbio entre saberes populares e acadêmicos. A produção conta com três episódios teve gravações realizadas nos distritos de Icoaraci e Outeiro, em Belém, na cidade de Castanhal, no Nordeste Paraense, e em Soure, na Ilha do Marajó. O lançamento será nesta segunda-feira, 24, no Youtube, no canal Priscila Cobra, a partir das 10h da manhã. 

Sob a direção de Priscila Cobra e Marcos Corrêa, a produção visitou mestres e mestras do carimbó, professores da rede pública de ensino e fazedores do ritmo em diversas localidades paraenses. "A webserie surgiu de uma vontade de retratar, tanto para as pessoas paraenses quanto para o mundo, o que é o carimbó. Mas de uma forma afetiva e comunitária", conta Priscila, que é jornalista, cantora do grupo Cobra Venenosa, mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará.(UFPA) e idealizadora do projeto. 

O carimbó está presente em pelo menos 100 municípios do Pará. As letras das músicas trazem ensinamentos de populações tradicionais quilombolas, ribeirinhas e indígenas  e revela saberes da realidade socioambiental e cultural que preza pela valorização de culturas ancestrais, respeito e conservação da natureza. “O carimbó também traz o ambiente urbano e a realidade do asfalto. Nas gravações vivenciamos aspectos dessa cultura e como ela pode ser ensinada e utilizada como ferramenta para educação em sala de aula”, afirma Marcos Corrêa, diretor e produtor audiovisual com trabalhos em emissoras de tevê.

A premiére de lançamento da webserie, com a apresentação do primeiro episódio, ocorreu no domingo, 23, no Espaço Cultural Coisas de Negro, que foi um dos locais onde ocorreram as gravações. O lançamento contou com a presença de vários mestres e mestas da cultura popular. A exibiçãof foi finalizada com a realização de uma roda de carimbó.
image Equipe que produziu a webserie. (Marcos Corrêa/ Divulgação)
"A webserie contempla a diversidade do carimbó. O carimbó é dança, música, filosofia, estilo de vida para as pessoas que o fazem enquanto um bem comunitário. Vi muita produção audiovisual, que coloca o carimbó como entretenimento e cultura regional, o que ele é de fato, mas era necessária uma obra que ampliasse a visão a respeito do que é o carimbó e que aproximasse essa forma de existir cultural e artística que se chama carimbó", destaca Priscila.  “Buscamos promover o diálogo entre as áreas da educação, cultura e salvaguarda do carimbó. Entrevistamos e acompanhamos um pouco da rotina de educadores e carimbozeiros, fazendo uma ligação entre áreas que normalmente vemos muito afastadas: a educação da sala de aula e a cultura popular, presente nas ruas, nos grupos e rodas de carimbó”, acrescenta.

Uma das entrevistadas foi Solange Ramirez, professora da rede pública de ensino em Soure e representante do Grupo de Carimbó Marafênix. Ela defende que a sociedade tem muito a ganhar ao aproximar a vivência do carimbó da sala de aula: “Essa interação de saberes estimula a inovação das práticas de ensino, porque o carimbó valoriza a cultura e os saberes tradicionais e tem uma natureza diversa: aborda desde a cultura, quanto o meio ambiente, a alimentação e a biodiversidade. Por isso, utilizar esses saberes dentro da sala de aula, nos leva à possibilidade de ensinar aos mais jovens essa cultura, e também valorizar essa manifestação cultural tão rica do nosso Estado, que é o carimbó”. 

O professor e poeta Ailton Favacho, também de Soure, acredita que o carimbó possa promover maior interação entre a vivência da comunidade acadêmica com os mestres de cultura e grupos de carimbó: “Eu sou professor de Língua Portuguesa e já houve vezes que eu levei o Mestre Dikinho, aqui do Marajó, para a sala de aula. Ele cantou alguns carimbós e, a partir disso, eu fiz análises textuais. A grande importância do carimbó é porque ele pode ser uma ferramenta pedagógica muito atraente, isso faz com que o aluno se interesse pela aula e pela cultura dele mesmo”. Ele atua no cursinho popular Paulo Freire e na percussão do grupo Tambores do Pacoval. image Legenda (Marcos Corrêa/ Divulgação)

 

"A gente está feliz com o resultado porque conseguiu trazer pessoas muito importantes para a cultura, pessoas que vivem o carimbó em distintas gerações, com carimbozeiros com mais de 30 anos de cultura popular e também a nova geração. A gente acredita que a série sirva para valorizar o carimbó e também para difundir o carimbó como ferramenta pedagogica de ensino e educação ", acrescenta Marcos. "Um dos principais desafios das gravações foi conciliar as agendas de tantas pessoas que fazem parte dessa cultura,que vivem o carimbó, dos mestres, carimbozeiros (batuqueiros) e professores. A gente tem episódios com a participação de seis mestres, como em em Icoaraci. A gente teve episódio em Soure, em que três mestres participam, além de professores", conta o co-diretor.

"O carimbó é riqueza cultura, estética, poética, artística, sonora e ancestralidade vida, transmissão de saberes, oralidade, encontros, afetos e trocas. Praticamente todos os mestres estão envolvidos com o carimbó e a cultura popular desde muito jovens, têm nas famílias pessoas envolvidas com o carimbó e as comunidades se intercruzam em projetos e vivências", completa a co-diretora.

A série foi realizada por meio do Programa de Extensão Coroatá, do campus do Marajó da Universidade Federal do Pará (UFPA) e contou com financiamento via emenda parlamentar do então deputado federal Edmilson Rodrigues, atual prefeito de Belém. 

image 'Vivências do Carimbó' colheu depoimentos de mestres, carimbozeiros e professores. (Marcos Corrêa/ Divulgação)

 

 

Episódios

O primeiro episódio, intitulado "De frente para o rio", apresenta os fazedores de carimbó de Icoaraci. O segundo, "Ilha das encantarias", ouve os professores e mestres de carimbó de Soure. E o terceiro episódio, "Resistência urbana", traz entrevistas gravadas em Outeiro e Castanhal. 

O episódio 1 apresenta a mestra Nazaré do Ó, professora da rede pública de ensino, compositora e protagonista do Grupo Águia Negra, ao lado de Mestre João Ribeiro. Ela também atua no Grupo Pará Folclórico Vaiangá com trabalhos apresentados em vários lugares do Pará, Brasil e exterior. Ainda, o mestre Nego Ray, tocador, compositor e fabricante de instrumentos, com rica vivência na cultura do carimbó. Ele conduz com a família o Espaço Cultural Coisas de Negro, que representa uma das principais rodas de Carimbó do estado há mais de 20 anos. O mestre Raimundo Jaci, pescador artesanal e tocador de carimbó, primeiro vocalista do grupo Os Irmãos Coragem, líder do Grupo Os Caçulas da Vila há mais de 20 anos. O mestre Thomaz Cruz, filho de Dona Georgina, que foi uma centenária dançarina de carimbó, e do mestre Zito Nunes, um dos fundadores do primeiro grupo da antiga Vila do Pinheiro, em 1968, “Os Africanos de Icoaraci”. O grupo foi assumido por mestre Thomaz em 2005. Mestre Ney Lima é artesão e compositor do Nordeste do Pará e integra “Os Africanos de Icoaraci”, desenvolve instrumentos de carimbó a partir de materiais recicláveis. E mestre Lourival Igarapé, compositor e fabricante de instrumentos de carimbó, que cultiva cuias no quintal para criar maracas e dirige a "Escolinha de Treinamento do Carimbó Mestre Lourival Igarapé", na qual compartilha a arte do carimbó com crianças e adolescentes da comunidade do Paracuri.

O episódio 2, apresenta o mestre Dikinho, poeta, vaqueiro e pescador dos rios e campos marajoaras, compôs muitas letras do conjunto Tambores do Pacoval, que mantém rodas de carimbó semanais em Soure, na ilha do Marajó. Também o mestre César do Regatão, puxador de boi-bumbá e integrante da Escola de Samba e Carimbó, ele é da terceira geração de uma família de mestres, ele mantém com os irmãos a tradição do Boi Estrela Dalva, Escola de Samba Unidos do Tucumanduba e conjunto de carimbó Dragões de Soure, grupos com mais de 70 anos de história. O mestre Roxinho, vaqueiro e dançarino, que encanta nas rodas de carimbó de Soure com apresentações do grupo da terceira idade que participa. Ainda, o episódio traz os professores Solange e Ailton.

O episódio 3, tem como entrevistados Rosivani Chaves, batuqueira e fazedora de cultura popular natural do Maranhão, que atua há mais de 30 anos em festejos populares de Belém, integrando o Coletivo Cidade Tambor, rodas de carimbó outros movimentos sociais e estudantis, além de ter participado da fundação do Arraial do Pavulagem. O mestre Luis Pontes, poeta, cantor e compositor, atua há mais de 30 anos nas rodas de carimbó, participou dos grupos Folclórico Asa Branca, de Icoaraci, Tabajara, de Marituba, e do Amazônia, atém de participar de movimentos sociais. Hugo Caetano, licenciado em História, participa do grupo urbano Falsos do Carimbó e realiza rodas de carimbó em ônibus, feiras, praças, praias e palcos, além de pesquisar o impato cultural promovido pelo Espaço Cultural Coisas de Negro. Ainda, Clever dos Santos, pesquisador do carimbó em Icoaraci há mais de 20 anos, produtor audiovisual da Midiatática Sonora Iqoaraci que atua na salvaguarda do patrimônio cultural imaterial do Carimbó.

 

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