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Estevão Ciavatta, diretor de 'Amazônia Sociedade Anônima', defende incentivo ao cinema nortista

Novo documentário do diretor chega ao Globoplay e Canal Brasil nesta sexta-feira (21), mostrando luta constante dede indígenas Munduruku por seu território

Lucas Costa
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“Amazônia Sociedade Anônima”, novo documentário do diretor Estevão Ciavatta tem estreia dupla nesta sexta-feira (21). O filme chega a plataforma de streaming Globoplay e também à programação do Canal Brasil, às 19h. Com produção da Pindorama Filmes, Imazon, Canal Brasil e Coletivo Audiovisual Munduruku; o filme faz um registro ao longo da BR 163 Cuiabá-Santarém, mostrando indígenas da etnia Munduruku em sua luta para defender a terra e rios diante de máfias de grileiros de terras. O documentário tem ainda Walter Salles como produtor associado.

O documentário foi filmado entre 2014 e 2019, e surgiu após uma série homônima produzida por Ciavatta para o programa “Fantástico”, da Tv Globo. Ao longo de seis anos, a narrativa do documentário foi se desenvolvendo a medida que os acontecimentos históricos se davam.

Em entrevista coletiva, na última terça-feira (18), Estevão falou sobre suas percepções no processo de gravação, assim como o que deseja que as pessoas compreendam com o filme.

“Queria deixar claro de que, por mais que tenham esforços de comando para controlar o desmatamento ou reduzir, serão os povos indígenas que vão de fato conseguir defender aquela região. O Ibama tem um efetivo bom, atualmente reduzido, mas de pessoas muito boas; mas é praticamente impossível. Eu, quando estive lá em 2014 já entendi que estávamos enxugando gelo”, diz.

Ciavatta também reitera que sem a atuação do poder público, a luta contra o desmatamento deve ser um problema constante. “Enquanto não tiver uma disposição política para resolver esse problema, e também um reconhecimento da importância das populações tradicionais, a gente não vai conseguir acabar com o desmatamento”, diz.

Durante a pandemia de coronavírus, Estevão revelou quem tem mantido contato com os indígenas, e também continua dando suporte neste momento difícil. Sobre a relação com os Munduruku, que o diretor desenvolveu ao longo das gravações, ele diz se sentir integrado à comunidade.

“Me sinto irmanado. É curioso porque o primeiro momento há uma desconfiança na relação com indígenas, e deles em relação a gente, e acho que eles têm razão para isso; são 500 anos que estamos dando provas de que eles têm que ficar desconfiados da gente. Eu hoje me sinto indígena de alguma maneira, tem no meu sangue mas não faço parte de nenhuma etnia. Mas eu me sinto muito irmanado a eles”, conta.

image Madeireira no Pará, mostrada no documentário (Divulgação)

A proximidade com a comunidade indígena Munduruku surgiu junto com a auto-demarcação, e com as primeiras filmagens que fizeram com o grupo indígena em 2014. Em 2017, Ciavatta doou uma câmera, um tripé e um microfone ao Coletivo Audiovisual Munduruku, composto em sua maioria por mulheres, para que elas continuassem registrando seus desafios na defesa de suas terras. Quando a produção recebeu as filmagens e o acervo do coletivo passou a fazer parte do filme, o diretor decidiu colocar a entidade como coprodutora do documentário.

Nascido no Rio de Janeiro, Estevão é filho de pai maranhense, por conta disso diz sentir-se amazônida, e não “um estranho no ninho” sobre a decisão de gravar um documentário na região. Na entrevista, o cineasta também falou sobre a questão de apropriação narrativa, e dificuldades enfrentadas por cineastas e realizadores audiovisuais nortistas em contar suas próprias vivências.

“Eu acho que o Brasil precisa contar sua história, e a Amazônia precisa achar seus narradores, isso não resta dúvida. Acho que a ideia de trabalhar com o coletivo Munduruku é de que isso se intensifique, que as pessoas tenham as suas vozes”, defende ele. “Acho que também terem realizadores, e a história ser contada a partir de quem vive na Amazônia é muito importante. Agora, também não acho que a gente deva prescindir de outros olhares em relação a certos temas, e nem acho que é exatamente uma apropriação. Não me vejo assim pela relação que tenho com a Amazônia, e também não vejo assim por eu ser amazônida”.

image Cena do documentário mostra revoada de garças em terreno queimado (Divulgação)

Ciavatta também reconhece que a dificuldade enfrentada pelos cineastas nortistas esbarra na falta de investimentos.

“Não me senti apropriando de nada, mas acho fundamental a gente ter programas de incentivo aos realizadores, diretores e roteiristas locais com certeza”, pontua.

Com o trabalho na Amazônia iniciado em 2014, quando começou as gravações da série que deu origem ao filme, Estevão também destaca sua visão sobre o que é importante para o território amazônico e seus povos tradicionais.

“Desde que fiz a série para o Fantástico, ficou muito claro que a Amazônia é primeiro para quem vive nela. Se a gente conseguir pensar primeiro em quem vive na Amazônia conseguir se beneficiar das coisas que são pensadas para ela, isso já vai ser um grande passo”, defende.

“Amazônia Sociedade Anônima” fez parte da Seleção Oficial do Festival do Rio 2019; do Festival International du Grand Reportage d'Actualité et du Documentaire de Société – França, de 2020; e do Cine Planeta 2020 (México).

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