Autores paraenses são contemplados em edital com trabalhos inspirados no pós-pandemia

Os seis paraenses selecionados no 'Arte como Respiro' foram Daniel da Rocha Leite, Luiza Chedieck, Márcia Vieira da Silva, Regivan da Conceição Santos, Rudinei Borges dos Santos e Sâmia Batista

Lucas Costa
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Mais uma série de artistas paraenses foi contemplada pelo edital de emergência “Arte como respiro”, do Itaú Cultural. No último dia 9, a instituição revelou os selecionados em literatura, divididos entre duas categorias: “Escrita – prosa ou poesia” e “Poesia Falada – vídeo”. O chamamento propôs um exercício literário de fabulação do futuro da humanidade e de cada indivíduo na pós-pandemia.

No Pará, foram selecionados seis autores na categoria “Escrita - prosa ou poesia”; são estes: Daniel da Rocha Leite, Luiza Chedieck, Márcia Vieira da Silva, Regivan da Conceição Santos, Rudinei Borges dos Santos e Sâmia Batista. No total, foram selecionados 200 trabalhos de autores de 24 estados do país de diferentes perfis sociais, de escolaridade, étnicos e de gênero.

Luiza Chedieck, uma das selecionadas pelo edital, conta que o poema inscrito por ela teve as relações como principal inspiração. 

“Pensei sobre relacionamentos afetivos, especialmente sobre um relacionamento entre duas mulheres. Também discuto muito o significado do que é casa, do que é ter uma casa. É um poema curtinho mas eu gosto muito, fala um pouco sobre dor também”, explica.

Luiza relembra que seu trabalho com literatura começou a partir de um clube de leitura, o Leia Mulheres - onde são lidas apenas obras escritas por autoras mulheres. Seus poemas são publicados de forma esporádica em seus perfis nas redes sociais, mas ela diz que planeja dedicar mais do seu tempo à escrita.

“Acho que o poema precisa de uma certa paciência, a poesia precisa de um certo tempo para ser consumida; então não sei se quero continuar publicando só na internet. Isso é algo que estou repensando agora”, destaca Luiza, que também fala da importância de incentivos direcionados à artistas no momento atual.

“Ser contemplada pelo Itaú é mais um passo da minha trajetória, e acho que esse reconhecimento me dá até um estímulo para eu continuar produzindo. Isso é muito importante, especialmente neste período de quarentena”, diz.

Sâmia Batista também foi uma das paraenses contempladas pelo edital. Da área do design e comunicação, ela conta que se mantém focada em temas sociais e ambientais da Amazônia. Para o edital, escreveu um conto sobre povos indígenas, que vêm sofrendo uma série de ataques recentes com políticas destrutivas do governo, como explica ela. 

“O conto fala de um futuro onde não há praticamente terra para esses indígenas que se tornaram nômades depois da pandemia”, descreve. “No design temos uma sub-área chamada ‘design especulativo’, que nos coloca a necessidade de projetarmos com os olhos no futuro. Quando refletimos sobre a situação atual do país, as especulações para o futuro acabam se direcionando ao pior cenário, de ‘não-futuro’. Esse trabalho aponta pra esse imaginário sombrio que se está sendo desenhado neste momento no Brasil”, complementa.

Atualmente ela se dedica aos exercícios de escrita de seu doutorado, e o que ela chama de “especulação”, foi escrita em formato de conto no período de quarentena. “O estar isolada socialmente é uma condição necessária para manter a saúde física. E a mental vem através do consumo, no bom sentido, da arte, da cultura. Nunca a arte se mostrou tão necessária como agora. E aí vem a necessidade de criar, ler e escrever, desenhar, produzir fotos e vídeos caseiros, etc”, destaca.

image Daniel Leite é um dos escritores veteranos contemplados no edital (Divulgação)

O poeta Daniel Leite, também selecionado, conta que o trabalho inscrito se chama “De dentro das vértebras virá o pássaro”. Segundo ele, o texto se relaciona “com o limite da palavra diante de tantos silêncios a enunciam como fratura desse nosso tempo: a palavra como ato do impossível de dizer”. Trata-se de algo relacionado com outro trabalho anterior de Daniel, o livro “Aguarrás”, publicado pela Edições do Escriba.

“O processo de escrita, como havia um tema, ou melhor, a pretensão dele, a percepção de ‘um mundo pós-pandemia’, neste sentido, é algo que me aproxima de uma ideia de literatura, ou seja, sempre o insondável, as nossas camadas humanas de ausências e, ainda assim, os nossos pequenos encontros”, explica Daniel. “A quarentena, para mim, tem aberto esse pulso de viver: buscar na ausência um gesto, uma voz, um afeto, um abraço perdido, uma outra leitura, uma nova presença. Sigamos a ler”.

Cada trabalho selecionado, em ambas as categorias, receberá o valor bruto de R$ 2,5 mil. Fica a cargo do Itaú Cultural a sua forma de exibição, podendo chegar ao público por meio da grade de programação virtual da organização, por suas redes sociais ou, ainda, pelos canais e mídias dos próprios artistas. 

Arte como respiro 

Em conexão com o amplo movimento espontâneo de criação online no meio artístico, neste momento, Arte como respiro: múltiplos editais de emergência tem a proposta de acolher e apoiar os artistas sujeitos a atuar isoladamente durante o período de suspensão social em decorrência da pandemia da Covid-19.

Foi iniciado nos primeiros dias de abril com o fomento para artes cênicas, seguido de música, artes visuais, literatura e poesia surda. Atualmente o edital recebe inscrições para a categoria audiovisual, que seguem abertas até o dia 15 de junho, pelo site do itaucultural.org.br.

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