Arte Pará 2021: Flavya Mutran e Nina Matos apresentam suas reinterpretações de registros históricos
Partindo de revisitações a fotografias e registros antigos, artistas questionam passado e presente por meio de suas poéticas

O Arte Pará, atualmente em sua 39ª edição, traz diferentes recortes sobre uma Amazônia paraense traduzida por meio da videoarte. Uma destas linhas, apresentadas sob a curadoria de Paulo Herkenhoff e curadoria adjunta de Roberta Maiorana, parte de registros históricos, como nos trabalhos de Flavya Mutran e Nina Matos.
Em “Uma história da videoarte na Amazônia (episódio I): Pará”, Flavya apresenta seu trabalho “Res_Publicae” (2021). Na obra, ela constrói animações digitais feitas a partir de fotografias públicas de ex-(quase) presidentes da República do Brasil.
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“Quase todas as fotografias que deram origem a essas simulações digitais saíram da galeria histórica do Palácio do Planalto, e é justamente essa galeria, ou melhor, os estranhos critérios de sua composição, que motivaram esse trabalho. Na galeria oficial há 38 retratos que supostamente marcam cronologicamente o mandato de todos os presidentes do Brasil, de 1889 até os dias atuais, em 2021. É sabido que nesses quase 132 anos de República Federativa, o Brasil teve mais mandatários do que os que estão contabilizados na intricada matemática sucessória que soma apenas 37 homens e 1 mulher”, explica Flavya.
Entre os treze homens que aparecem no vídeo da artista, ela explica que oito destes não fazem parte da galeria do Planalto. “Dois foram oficialmente eleitos e depois substituídos por outros seis. Três sequer tomaram posse, e apenas um deles está na galeria sem nunca ter subido a rampa do Planalto. Nenhum dos treze homens do vídeo ficou mais que 100 dias no cargo. Relacionar apenas números e não nomes e datas a esses rostos algorítmicos coloca em xeque não ‘quem’ esteve ou está ocupando um cargo público, mas sim ‘como’, ‘porque’ e ‘quais’ as forças que estão por trás dessas conduções”, conta.
Quem também parte de registros históricos para tecer sua poética dentro do Arte Pará 2021 é Nina Matos. Ela participa da mostra com o trabalho “Sangue do Brasil” (2021), descrito como um réquiem às vidas de líderes indígenas e florestas tombadas, um grito de urgência nestes anos de trevas que seguem. “Um libelo contra violência oficializada, um profundo respeito e homenagem a estes verdadeiros heróis, tombados na defesa da vida”, escreve Nina.
O vídeo traz imagens da crônica diária do presente e passado recente, de violências contra indígenas, intercaladas por imagens de obras de autoria de Nina, da série “Tributo: alegorias, espiritualidade e posteridade”. Nesta série em questão, a artista reflete situações de domínio e mimetismo de padrões sociais erguidos às custas de criminosos apagamentos culturais, surgindo de apropriações de iconografia e bibliografia histórica.
Edição 2021
O salão Arte Pará tem sua mostra totalmente virtual em 2021. Sob curadoria de Paulo Herkenhoff, e curadoria adjunta de Roberta Maiorana, a edição carrega como conceito “Uma História da Videoarte na Amazônia (episódio 1): Pará”, reunindo trabalhos de 46 artistas convidados. A mostra está disponível no site www.artepara2021.com.
O Arte Pará 2021 é realizado pela Fundação Romulo Maiorana, e tem como patrocinador novamente a Fibra Centro Universitário, renovando a parceria que existe desde 2012. O salão tem ainda apoio do Grupo Liberal e Instituto Inclusartiz.
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