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Arte como resistência na edição de 40 anos

A edição histórica de 40 anos do Arte Pará será realizada a partir de 22 de setembro

Bruna Lima
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Medos e angústias recebem cores, formas e movimentos nas artes do carioca Pedro Carneiro e da paraense Rafael Matheus Moreira – dois jovens artistas que foram selecionados na Mostra Nacional do Arte Pará, edição 40 anos. Com linguagens de pinturas e performances, a dupla mostra suas produções na edição histórica de 40 anos do Arte Pará, que será realizada a partir de 22 de setembro, no Museu de Arte Sacra e na Casa das Onze Janelas, no bairro da Cidade Velha, em Belém.

O Projeto Arte Pará 2022 é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio do Centro Universitário Fibra e do grupo Equatorial Energia e com apoio institucional do grupo O Liberal e dos Institutos Inclusartiz e Pivô Arte e Pesquisa. O Arte Pará é uma realização da Fundação Romulo Maiorana.

Pedro Carneiro, Rio de Janeiro, 1988

O artista carioca tem o desenho desde sempre em sua vida. Ele recorda que quando assistia aos desenhos animados, na infância, tentava copiar os traços dos personagens. 

"Anos depois, por um feliz acidente, acabei passando em Artes Visuais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ. Chamo de feliz acidente, porque eu queria cursar uma faculdade que me permitisse fazer revistas em quadrinhos ou animações para jogos. Quando comecei a estudar artes, uma porta gigante de possibilidades se abriu. Acabei me envolvendo com teatro, trabalhando como iluminador e assistente de iluminação para alguns espetáculos, mas sempre em paralelo, continuei desenhando e pintando".

Pedro Carneiro destaca que em seu trabalho reúne um pouco de todas essas experiências e sonhos. Para ele, é importante sonhar para que o trabalho continue funcionando.

Obra em destaque

Pedro participa da Mostra Nacional com quatro pinturas, todas feitas nesse momento de pandemia. O artista diz que elas marcam momentos e sentimentos que ele estava passando. "Pintar foi mais que uma válvula de escape, foi uma estratégia de sobrevivência. Sai de casa para passar 15 dias na casa da minha avó e só voltei para casa cinco meses depois"

As obras "O céu de 200 dias" e "Chorar" marcam os momentos mais frágeis do artista, ele explica que as cores vibrantes criam um fundo luminoso desenhando uma espécie de foco luminoso para as pessoas retratadas. " Máscara efetiva contra governo ineficaz: Educação" expõe a indignação com a falta de planejamento do governo contra a pandemia. E "Longe dos meus olhos" é uma das primeiras pinturas da série "Rosa", marcando um olhar mais carinhoso e esperançoso do "fim" da pandemia e marca o início da produção mais atual de Pedro.

Arte Pará

"Por falar em sonho, o Arte Pará sempre foi um dos meus sonhos. Não passei em alguns anos que me inscrevi e em outros anos desisti, com medo até de tentar. É um dos salões mais tradicionais do nosso país e ser aprovado justamente na 40° edição, em um ano que já é de longe o mais importante da minha carreira, me dá confiança e o desejo de que em breve outros sonhos se realizem. Vibrei muito quando vi meu nome entre os selecionados e fico ainda mais feliz de não ter desistido. Que o Arte Pará continue por mais 100 edições, e que ele continue realizando sonhos e continue sendo marcos para outros artistas, como foi para mim".

Arte Contemporânea

"Hoje a arte contemporânea, talvez, trate de poder. E quando digo poder estou me referindo a palavra como verbo e substantivo. Produzir arte em um país como o Brasil, transforma a resistência da ação e do pensamento em energia. Ser um artista ou fazer arte, principalmente não sendo pessoas de uma hegemonia cultural, tem a ver com buscar e caminhar simultaneamente com o poder. Poder não ser chamado de ladrão, poder chorar, poder amar, poder errar. Vejo a arte hoje como mais uma estratégia que me permite sonhar"

Rafa Moreira, Pará, 1996

A artista Rafa Moreira é travesti e assina seus trabalhos com o nome "Rafael Matheus Moreira", que é seu nome morto. "Utilizo esse nome como uma forma de instigar questões relacionadas a gênero no cenário da Arte". 

Ela é formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará, e atualmente, vive no Rio de Janeiro em uma residência artística do "MT Projetos de Arte". "Essencialmente eu me considero pintora, porém, o trabalho apresentado no Arte Pará se trata de uma performance voltada para vídeo e fotografia. A performance surge no meu trabalho como um desdobramento da pintura, a pintura se desloca do suporte tela para o suporte pele como uma forma de entrega àquele processo de pesquisa em Artes Visuais. Atualmente eu venho produzindo (além da performance 'Encantarias Idilicas' a série de pinturas 'O Nascimento das Tupiniquins)'''.

 Obra em destaque

A obra inscrita no Arte Pará, deste ano, se trata de uma performance voltada para vídeo e fotografia chamada "Encantarias Idílicas" (2022). "A performance conta com a participação do meu amigo, o multiartista Allyster Fagundes, ela é um desdobramento da pintura "Uiaras Defendendo o Paraíso" (2019) onde eu me aproprio de signos da nossa cultura para refletir sobre o cenário do Brasil naquela época. Em Encantarias Idílicas eu utilizo de elementos do nosso folclore brasileiro como forma de inserir o corpo drag, o corpo trans, o corpo travesti e LGBTQIA+ neste imaginário coletivo".

Arte Pará

"Pensando no atual cenário do Brasil, onde o ódio e a violência contra corpos LGBTQIA+ tem crescido, em especial contra mulheres trans e travestis negras ou racializadas, é de extrema relevância que nós não sejamos mais uma vez apagadas e marginalizadas pela história deste país. Ações como esta, me refiro a estar presente em um dos maiores salões de Arte Contemporânea do país, colaboram para a visibilização de nossos corpos e, consequentemente, para a desestigmatização do nosso grupo"

Arte contemporânea

"A arte de modo geral sempre vai refletir as angústias, os anseios e a vida do contexto histórico e social que ela foi criada. A arte é uma forma de dizer o indizível e ao lidar com a imagem, as artes visuais, tem o poder de ocupar imaginários coletivos, ela é multi, cada vida irá interpretá-la de uma forma única. Com a ascensão das discussões em torno de gênero, sexualidade e questões raciais, 'novas' vozes ganham destaque, vozes que sempre existiram, porém, geralmente foram ignoradas. Eu vejo a Arte Contemporânea como uma oportunidade de recontar uma história que por vezes nos excluiu e dizer que nós existimos".

 

 

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