Arraial do Pavulagem celebra a Amazônia com cortejos, carimbós e fé popular
Com 1.200 brincantes no Batalhão da Estrela, cortejos celebram 38 anos de tradição unindo cultura popular, ancestralidade amazônica e consciência ambiental
Com 38 anos de história, o Arraial do Pavulagem se firma como um dos maiores eventos culturais do Norte do país. Em 2025, o cortejo atinge um marco inédito: 1.200 brincantes integram o Batalhão da Estrela, reforçando o espírito coletivo e a força de uma manifestação que mistura tradição, arte, ancestralidade e futuro.
Um dos fundadores do Arraial, o músico e pesquisador Ronaldo Silva destaca a força simbólica de São João na quadra junina. “O São João Batista é o padroeiro da quadra junina. Ele é a estrela que guia esse momento de festividade, não apenas no sentido da colheita, mas principalmente da festividade humana, ligada à compreensão espiritual que tem dentro da cultura praticada no Brasil”, afirma.
Ronaldo ressalta que essa espiritualidade não se restringe à religião católica, mas abarca múltiplos credos que formam a identidade cultural brasileira. “Nós temos uma relação direta com São João, não é uma coisa de religião, mas é uma coisa de respeito, não apenas pela religião católica, mas principalmente pelas religiões, pelo credo dos indígenas, dos negros, que fazem parte dessa cultura”, disse.
Entre os momentos mais esperados da programação está o tradicional cortejo fluvial. A travessia pelo rio é muito mais do que uma viagem de barco, é um ritual de celebração e acolhimento. “Esse cortejo fluvial também é uma conquista nossa, não é fácil encostar o barco na escadinha, mas eu acho que esse trabalho ali é legal porque para fazer isso a gente tem que ter a garantia de que vai ser seguro, a garantia que a gente vai ter todo o aparato para qualquer emergência que a gente puder ter. Ele não é apenas só uma viagem de barco, ele é um acolhimento com todo cuidado que precisa ter”, declarou.
A experiência, segundo Ronaldo, encanta tanto os participantes quanto o público. “Todos os anos vão pessoas que nunca foram dentro de um barco, que nesse caso é uma balsa, onde as pessoas ficam dançando, tocando, cantando, celebrando, essa coisa fantástica que nós temos com o Rio… É uma experiência inesquecível essa história do barco e graças a Deus que ela tá viva essa tradição, a gente vai continuar melhorando ela cada vez mais”, contou.
Ronaldo também compartilha como sua trajetória pessoal e parcerias ajudaram a fortalecer o Arraial. Ele e o parceiro Júnior Soares desenvolveram um trabalho voltado à valorização de expressões tradicionais como a Marujada de Bragança e a cultura de Cachoeira do Arari. “Tanto eu quanto o Júnior, nós temos um envolvimento assim bem particular. O Júnior, com a Marujada de Bragança, foi uma das pessoas que me oportunizou conhecer e vivenciar um pouco”, revelou.
Essas vivências influenciam diretamente na composição das músicas que embalam os arrastões. “A gente começou a fazer música com a temática da Marujada, eu acho muito legal que a gente possa, pensando no arraial do futuro, ter compositores conscientes da importância e a responsabilidade que é fazer letra de qualidade para um trabalho que é de qualidade para as pessoas que têm”.
O compromisso com a diversidade também é ponto central do projeto. “Quando a gente fala de religiosidade, eu acho que são religiosidades, por conta da variedade de segmentos que tem”. O trajeto do barco é também um grande painel musical, que conecta vários territórios do Pará.
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