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Amazônia se despede de Cláudio Barradas, ícone da arte cênica e cultura regional

Cônego da Arquidiocese de Belém, ator e professor de teatro, Barradas deixa contribuição imortal para a cultura paraense. Velório ocorre na Catedral Metropolitana de Belém, na Cidade Velha, onde transcorrerá o sepultamento nesta terça (1º)

Eduardo Rocha
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Ele viveu intensamente as artes cênicas, e elas foram o mote para uma reverência ao legado que deixa no dia em que faleceu. Assim se deu nessa segunda-feira (30), data em que a cultura paraense perdeu um de seus ícones, o ator, diretor, jornalista e cônego da Arquidiocese de Belém, Cláudio de Sousa Barradas, aos 95 anos de idade. Ele nasceu em Belém em 4 de janeiro de 1930 e estava internado em um hospital na capital paraense onde faleceu. Nesse mesmo dia, à tarde, um aluno de Barradas, o ator e jornalista paraense Marton Maués, do grupo Palhaços Trovadores, defendeu, no teatro que leva o nome de Cláudio Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (UFPA), um Memorial para obtenção de título de professor titular da instituição. Na ocasião, Marton e outros profissionais do teatro paraense prestaram homenagema a Cláudio Barradas,em um indicativo de que a arte deve continuar. A Missa de Exéquias será celebrada às 15h na Catedral de Belém e em seguida o sepultamento nessa igreja, onde transcorre o velório desde o finalzinho da tarde de ontem (30).

"Evoé, Cláudio Barradas!", enfatizou Marton Maués, no que foi acompanhado por aplausos da plateia, formada por atores, diretores, jornalistas e outros profissionais. Sobre o fato de estar no teatro que leva o nome de Barradas, na ETDUFPA que Cláudio ajudou a criar, Marton disse: "Existe coincidência? Dizem que não, né? Então, eu recebo esse fato como uma espécie de gratidão, por todo o legado, ensinamento que eu tive com o Cláudio".

Para a professsora da ETDUFPA, Inês Ribeiro, coordenadora do Auto do Círio, "Cláudio Barradas é uma luz na Amazônia para a arte teatral". "Ele, desde a sua infância, dentro da Igreja, na filosofia de Dom Bosco, começou a fazer teatro e trouxe isso para a vida, para as nossas vidas, da Cidade de Belém. Essa formação sensível para a religião, por meio do teatro, é a grande luz dele nesta cidade. Então, ele não morre, ele está vivo para sempre, porque nós temos o curso de formação de ator, a ETDUFPA com vários cursos, um teatro-escola. Então, ele não morre. Ele merece aplausos!", enfatizou. 

Na interpretação da atriz e diretora teatral Wlad Lima, o falecimento de Cláudio Barradas significa um fechamento de ciclo e que o dia de hoje (30) é muito especial, considerando "a partida dele", em forma de gratidão a Cláudio, e pelo fato de pessoas de teatro estarem reunidos no próprio Teatro Cláudio Barradas.

Em Nota Oficial ainda na segunda-feira, a Arquidiocese de Belém lamentou o falecimento de Barradas. "Cônego Cláudio Barradas nasceu em Belém-PA, no dia 04 de janeiro de 1930 e foi ordenado padre no dia 25 de janeiro de 1992, por Dom Vicente Joaquim Zico. Com 33 anos de sacerdócio, passou por diversas paróquias, as quais estão: Catedral Metropolitana, (vigário paroquial), Santa Isabel de Portugal, em Santa Isabel do Pará, em que na época pertencia à Arquidiocese de Belém. (Pároco), Jesus Ressuscitado (pároco) e Igreja Nossa Senhora das Mercês. Era cônego emérito do Cabido Arquidiocesano e foi vigário episcopal da Região Santa Cruz, revisor e colunista do Jornal Voz de Nazaré".  

O diretor de teatro e integrante do Grupo Experiência, Geraldo Salles, destacou seu imenso pesar com a morte de Barradas. Geraldo disse que "Cláudio Barradas foi o meu grande mestre". Salles era aluno do Colégio Nazaré quando o conheceu, durante o concurso anual de declamação, em que Barradas era um dos jurados. Ao vencer o concurso, Geraldo foi convidado por Cláudio a ingressar o grupo Teatro de Equipe do Pará fundado por Barradas, e daí Salles não parou mais. "Eu tive grandes professores, mas com quem eu aprendi foi com o grande Cláudio Barradas", acrescenta. 

Cláudo atuou como jornalista, inclusive, na Redação de O Liberal; foi ator e diretor de radionovela na Rádio Clube; ator de teleteatro na extinta TV Marajoara. Ele chegou a atuar, nos anos 1970, em quatro filmes dirigidos pelo cineasta paraense Líbero Luxardo: "Um Dia Qualquer", "Marajó, Barreira do Mar', "Um Diamante, Cinco Balas" e "Brutos e Inocentes".

Respeito pela vida

A secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, ressaltou que Barradas foi homenageado na Mostra de Teatro Nilza Maria, em 2020, na pandemia, com transmissão pelo YouTube. "Assim, permite ao público conferir essa experiência cênica filmada e que pode ser revisitada como uma forma de matar a saudade deste grande artista", destacou. Na ocasião, ele encenou "Abraço", dramaturgia de Edyr Augusto Proença. Para esse escritor e diretor do Theatro da Paz, "Cláudio Barradas foi uma das maiores figuras do Pará. Ele reinou sobre uma geração inteira de atores".  

Nos primórdios da TV no Pará, o pesquisador e membro da Academia Paraense de Letras (APL), Sebastião Godinho, já ouvia falar do teleator Cláudio Barradas. "Depois, eu o encontrei no Theatro da Paz na década de 1970, ele como professor de Teatro da Escola de Tetro da UFPA. A partir daí, nós ficamos muito amigos, próximos mesmo, e ele sempre carinhoso. Vez ou outra, a gente se encontrava e conversava sobre teatro. Ele foi um grande amigo, uma pessoa muito querida do maestro Waldemar Henrique", conta Godinho. O pesquisador ressalta que Barradas costumava escrever minicontos nas redes sociais "O Pará perde uma referência na cultura", enfatiza Sebastião Godinho.

Para Ailson Braga, ator e jornalista, lembra que na montagem de "O Carro dos Milagres" pôde ver o dramaturgo Barradas. "Ele me ensinou a ter cuidado com a palavra, como se fala no teatro; a ter disciplina, a ser consciente do trabalho e a ler; ele tratava o teatro com tal respeito que a gente aprendeu a ter respeito pela vida", diz Aison.

A UFPA divulgou Nota Oficial sobre a morte de Cláudio Barradas. "Ao longo de sua carreira, dirigiu espetáculos marcantes que traduziram, com sensibilidade e rigor estético, as narrativas do povo amazônida e ajudaram a firmar a identidade cultural da região nos palcos, sendo responsável pela montagem de espetáculos singulares e importantes para a história teatral paraense e brasileira do século XX. Entre eles, destaca-se a importância que o artista professor deu para autores locais, como os paraenses Nazareno Tourinho, Levi Hall de Moura e Benedicto Monteiro", é destacado no documento assinado pelo reitor Gilmar Pereira da Silva.

Para o pesquisador do teatro paraense, professor Dênis Bezerra, destaca-se na vida de Cláudio Barradas o sacerdócio como membro da Arquidiocese de Belém e o sacerdócio, o compromisso com a arte. Como mostrou esse professor de Teatro, o livro "Contículos", livro de contos de Barradas, traz no contículo nº 0: "Fez da memória um baú onde cuidadosamente ia guardando tudo o que lhe era dado viver para não perdê-lo levado ao tempo". "Esse contículo abre essa obra e, de alguma forma, sintetiza esse trabalho literário, artístico do mestre Barradas"

 

 

 

 

 

 

 

 

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