Amazônia Fashion Week: Belém recebe edição histórica que concilia moda e recursos naturais
Maior evento de moda na região, o Amazônia Fashion Week será lançado nesta quinta (4), no Parque Shopping Belém, com programação focada na produção autoral amazônica em sintonia com avanços tecnológicos

Ser amazônida é vestir-se com os elementos que integram esse bioma no norte do Brasil com todo um leque de recursos naturais. Pois esses próprios recursos são aproveitados pelos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pessoas em núcleos urbanos para suas roupas e objetos do dia a dia. Nesse processo, a criatividade e a tecnologia são grandes aliadas, inclusive, na preservação ambiental. Daí o tema "Moda: Arte e Tecnologia" da 20ª edição do Amazônia Fashion Week (AFW) em 2025, cujo lançamento se dará nesta quinta (4), estendendo-se até domingo (7), no Parque Shopping Belém. Essa edição histórica do AFW vai ocorrer entre 31 de outubro e 1º de novembro no próprio Parque Shopping.
Organizado pela Associação de Costureiras e Artesãs da Amazônia (Costamazônia), com apoio do Parque Shopping Belém e da Universidade da Amazônia (Unama), o Amazônia Fashion Week terá seu lançamento marcado por uma programação de desfiles, exposições e talk shows. A abertura do evento, na quinta-feira (4), às 19h, com um desfile-show misturando as marcas autorais do AFW com as lojas de varejo do shopping.
Nos outros dias, as marcas autorais que estão no line up do AFW, como Amazônia Kãma, Amazônia Zen, Ludimila Heringer, HB Design, Costamazônia, Madame Floresta, Luxamazon, Rari, Lilia Lima, Jalunalé e Darmand, e as marcas do shopping vão apresentar coleções cápsulas, sempre às 19h. Tudo ao som de música paraense.
Outra atração será uma exposição da coleção “Human.exe”, vice-campeã do concurso dos novos do Dragão Fashion Brasil 2025, confeccionada pelos alunos de Moda da Unama. Os talk shows sobre temas relacionados à moda e tecnologia serão realizados no sábado (6) e no domingo (7), entre 14h e 18h.
A 20ª edição do AFW visa mostrar que a moda artesanal e a moda tecnológica, embora pareçam estar em pólos opostos, se completam no atual cenário de uso da Inteligência Artificial. Os desfiles desta edição do Amazônia Fashion Week apresentarão a moda que valoriza suas origens culturais, mas está aberta à adoção de inovações tecnológicas. Esse processo envolve inovações desde soluções têxteis até o lançamento de coleções no metaverso.
"É possível, sim, preservar a cultura e a tradição usando tecnologia para melhorar processos e recriar conceitos. O artesanato flui da arte, arte é sentimento, e a tecnologia agrega valor com a incorporação de elementos tecnológicos que usamos no dia a dia, como a impressão 3D, sensores e biotecidos”, explica Felícia Maia.
Identidade
Felícia Assmar Maia coordena o Bacharelado em Moda da Unama há quatro anos. Além da área acadêmica, ela atua criando moda. Recentemente, criou uma coleção de roupas femininas que foram pintadas pela artista plástica Rose Maiorana, vice-presidente do Grupo Liberal, para a exposição "Amazônia Líquida - Fluidez Artística / Especial COP 30", em andamento no Centro de Eventos e Memorial da Assembleia Paraense, no bairro do Marco, em Belém.
"O AFW chegar a marca de 20 edições em 2025 representa o resultado de muito trabalho em prol do desenvolvimento da moda autoral amazônica. Com o processo de globalização ocorre uma certa estandardização de diferentes domínios da vida contemporânea, dentre eles a moda, pois a atuação dos conglomerados de luxo e das grandes redes de varejo na produção desterritorializada, assim como a divulgação das tendências globais conduzem a uma espécie de padronização dos produtos de moda. No mundo globalizado, para que algo se diferencie, há a necessidade da valorização das características locais da cultura onde o objeto foi elaborado", ressalta Felícia.
"Por isso, o lugar pode abranger a dimensão da identidade e se caracterizar como representação de coesão social. Então, a moda autoral pode ser a saída para proteger pequenas empresas locais da concorrência do mercado globalizado. Ao conhecer saberes e fazeres específicos de seu território, o designer agrega valor a seus produtos, que passam também a ser dotados de narrativas próprias e que são diferenciados para os consumidores que desejam experiências de consumo mais significativas. Pode-se dizer que a cultura local passa a ser o foco das referências", completa a criadora.
A moda sempre fez parte da vida de Felícia Maia, como ela mesma conta. "Aprendi a costurar com minha mãe (Maria Assmar), que era uma criadora nata, ela criava roupas e costurava sempre inovando. Mas, meu envolvimento em termos profissionais foi a partir de 2003, quando idealizei o Encontro Paraense de Moda e Artesanato, numa tentativa de melhorar a qualidade do produto local e capacitar mão de obra. A evolução natural foi a criação de uma associação de costureiras e artesãs em 2004, a Costamazônia, que passou a realizar a partir de 2007, o Amazônia Fashion Week, com a minha coordenação. Além disso, na área acadêmica, fiz Mestrado em Artes na UFPA e hoje estou concluindo o doutorado em Comunicação, Linguagem e Cultura na Universidade da Amazônia”.
A moda pode ser entendida como "expressão de identidade e cultura", como diz Felícia. "Além disso, a moda desempenha um papel fundamental na construção de identidades culturais. As roupas tradicionais de diferentes culturas demonstram os valores e suas tradições, sendo um meio de celebrar e preservar a herança cultural de um povo. Ao longo de sua trajetória, a moda tem experimentado mudanças em função de movimentos culturais com a construção de novos paradigmas, e em função de avanços tecnológicos. Portanto, a moda reflete as mudanças sociais, políticas e culturais de cada época", pontua a professora.
"A sustentabilidade é um dos caminhos a serem trilhados pela moda daqui para frente. Muito embora, neste primeiro quarto do século XXI, o mercado da moda ainda esteja em ritmo acelerado em busca de produzir moda com menor custo para um consumidor sempre em busca de consumir moda com menor preço, o slow fashion vem se firmando cada vez mais, com sua proposta de produção com menos impacto ambiental e melhor qualidade do produto final", finaliza Felícia Assmar Maia.
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