A crise no INSS e os desafios do governo Lula III
A grave crise instalada no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atinge diretamente milhões de brasileiros que, há meses ou anos, aguardam o reconhecimento de aposentadorias, pensões ou auxílios essenciais à sua sobrevivência, e que agora descobrem que seus direitos foram atravessados por esquemas criminosos. Trata-se de um drama social e institucional que expõe as falhas estruturais de um sistema que deveria proteger os mais vulneráveis e, ao contrário, permitiu que fossem lesados.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), entre 2019 e 2022, as investigações sobre fraudes e corrupção no INSS foram conduzidas de maneira errática, seletiva e, por vezes, omissa. As redes criminosas que se consolidaram dentro do próprio aparato estatal se beneficiaram desse vácuo investigativo e administrativo, deixando uma herança perversa: um passivo de ineficiência e paralisia institucional que agora transborda em escândalos públicos.
Diante dessa realidade, o governo Lula, iniciado em 2023, é desafiado a reconstruir não apenas a capacidade técnica do INSS, mas sobretudo sua legitimidade junto à população. A opinião pública, compreensivelmente exausta, cobra soluções imediatas. No entanto, resolver esse impasse demanda algo mais profundo: tempo, investimento público e enfrentamento de interesses corporativos incrustados na máquina estatal.
Para isso, o governo precisa agir com firmeza em três dimensões: promover uma auditoria independente sobre os atos da gestão anterior, especialmente no que se refere ao desmonte investigativo; fortalecer os órgãos do Poder Executivo, garantindo que os cidadãos tenham meios efetivos de acesso à Justiça contra a morosidade e as fraudes; e estabelecer um pacto federativo para reforçar o atendimento nos estados e municípios, sobretudo nas regiões mais vulneráveis. Parte representativa dessa reparação passa, inclusive, pela devolução de valores a quem foi lesado.
A demissão do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), ocorrida no início de maio, foi um movimento simbólico e necessário. Mas, sozinha, não basta.
A crise toca em um ponto nevrálgico da imagem do atual governo: a promessa de cuidar dos que mais precisam.
O paradoxo se impõe: a corrupção foi gestada em larga escala a partir de 2016, mas é o governo Lula quem sofre o desgaste político e imagético – por ser quem está no poder neste momento. A oposição agora tenta colar no governo a pecha da incompetência. A resposta não pode ser apenas técnica — deve ser política.
Afinal, a crise do INSS é um espelho do país. Um espelho que pergunta: que tipo de Estado queremos ser? Lula, historicamente identificado com a defesa da seguridade social, tem agora a chance – e o desafio – de provar que essa defesa não é apenas simbólica, mas transformadora.
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