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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

Assista e surpreenda-se com “Pobres Criaturas”!

Os filmes do renomado cineasta grego Yorgos Lanthimos frequentemente carregam essas características, desafiando os espectadores e os tirando de sua zona de conforto

Marco Antonio Moreira
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De tempos em tempos, um filme desperta uma gama diversificada de reações nos espectadores. O choque inicial diante de uma história ou narrativa pode servir como um catalisador para despertar um maior interesse nas possibilidades apresentadas pelo filme, ou talvez não. Os filmes do renomado cineasta grego Yorgos Lanthimos frequentemente carregam essas características, desafiando os espectadores e os tirando de sua zona de conforto. "Pobres Criaturas", sua mais recente obra, exemplifica de forma ainda mais intensa a transformação do estilo cinematográfico peculiar desse diretor e, felizmente, tem suscitado debates profundos e enriquecedores.

"Pobres Criaturas" adapta o livro "Episodes from the Early Life of Archibald McCandeless MD, Scottish Public Health Officer" de Alasdair Gray, publicado em 1992. Dentro de uma narrativa cinematográfica que entrelaça elementos de diversos gêneros, somos conduzidos pela história de Bella Baxter, uma jovem ressuscitada por um médico para renascer como uma nova pessoa. Sem adentrar em detalhes para preservar a surpresa do espectador em relação ao enredo do filme, testemunhamos uma jornada de autodescoberta de uma personagem confrontada com a tarefa de se adaptar a um mundo sem questionamentos ou hesitações. No entanto, Bella recusa-se a aceitar esse destino predefinido e, munida de inocência e, ao mesmo tempo, maturidade, nutre uma intensa curiosidade para explorar o mundo em toda sua complexidade, com suas contradições e hipocrisias.

O diretor retrata os desafios da nova vida de Bella de forma anárquica, sem oferecer explicações detalhadas sobre os eventos que a cercam. Por meio de cenas intensas, apresentadas de maneira incitadora, Lanthimos nos conduz por uma jornada que aborda uma variedade de temas, tanto ligados ao tempo dos personagens do filme quanto à sociedade contemporânea. Questões como racismo, misoginia, desigualdades culturais e sociais, assim como as complexidades éticas da medicina e da ciência, são habilmente entrelaçadas em "Pobres Criaturas", de uma maneira que desafia e surpreende o espectador, incitando-os a refletir não apenas sobre o que estão testemunhando na tela, mas também sobre suas próprias escolhas e valores. É possível que seja exatamente por esta razão que o filme tenha provocado reações negativas em espectadores que podem sentir-se confrontados com essas reflexões desafiadoras.

Ao término de "Pobres Criaturas", é inevitável que os espectadores se vejam imersos em uma névoa de sentimentos e pensamentos confusos. Afinal, o diretor não se propôs a criar uma simples fábula contemporânea, mas sim a tecer uma trama complexa que entrelaça uma miríade de referências cinematográficas e literárias, como "Frankenstein" de Mary Shelley e a obra do cineasta espanhol Luís Buñuel, para apresentar uma história que vai além do entretenimento convencional. Mais uma vez, Lanthimos nos brinda com uma obra cinematográfica desconcertante, em linha com suas realizações anteriores, como "Dentes Caninos" (2009), "O Lagosta" (2015), "O Sacrifício do Cervo Sagrado" (2017), "A Favorita" (2018) e o curta-metragem "Nimic" (2019).

Para isso, o diretor elaborou de forma criativa uma variedade de estilos estéticos, utilizando imagens em preto e branco e coloridas, montagens distintas, diferentes lentes de filmagem nas cenas, além de uma trilha sonora e musical radicalmente interativa que dialoga diretamente com as imagens. A fotografia, direção de arte e efeitos especiais são inseridos de maneira genial, contribuindo para a construção de uma narrativa admirável para o espectador.

É crucial ressaltar que "Pobres Criaturas", vencedor do prêmio Leão de Ouro de melhor filme no Festival de Veneza em 2023, conta com um elenco extraordinário, com destaque especial para Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo. Emma Stone, em particular, entrega uma atuação marcante que merece reconhecimento e premiações. Interpretar Bella Baxter pode representar uma mudança significativa em sua carreira.

Dicas da Semana

“Pobres Criaturas” de Yorgos Lanthimos. Com Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo 11 indicações ao Oscar (Circuito comercial).

“Zona de Interesse” de Jonathan Glazer. 5 indicações ao Oscar (Cine Líbero Luxardo).

"O Terraço" de Ettore Scola. Com Marcello Mastroianni, Vittorio Gassman, Ugo Tognazzi, Jean-Louis Trintignant e Stefania Sandrelli. Do diretor de "Nós que nos Amávamos Tanto" (1974) (Cineclube SINDMEPA, dia 20/02, às 19h. Entrada gratuita).

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