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Por Marco Antônio Moreira

Coluna assinada pelo presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e membro da Academia Paraense de Ciências (APC). Doutor em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), crítico de cinema e pesquisador.

A complexidade de Oppenheimer é fascinante

Marco Antonio Moreira

Aprecio o trabalho do diretor inglês Christopher Nolan desde Amnésia (2000). Esse filme impressionou pela criatividade ao mostrar a história de um homem com frequente perda de memória. Com Insônia (2002), ele demonstrou amadurecimento e  evidenciou a importância de um bom roteiro e a montagem como elementos essenciais em seus filmes. Com a trilogia Batman: O Cavaleiro das Trevas, Nolan tornou-se um nome influente no mercado cinematográfico e ratificou que é possível realizar espetáculos cinematográficos vinculados a histórias e personagens complexos.

Em A Origem (2010) suas qualidades na escolha de temas e modos de filmar e montar esteticamente suas obras de maneira enigmática ficou perceptível. Com Interestelar (2014), Nolan prosseguiu seu estilo cinematográfico em uma ficção científica com argumentos conectados ao tempo, espaço e existência humana na Terra e em Dunkirk (2017) instigou interpretações instituídas em uma história sobre a Segunda Guerra Mundial, com diversos personagens e tempos de ação.

Oppenheimer (2023) mantém as características distintas do diretor, incluindo a utilização variante de montagem, trilha musical, fotografia e a mescla entre passado e presente na narrativa, para contar de modo inspirado a história de um dos personagens mais polêmicos do século XX: Julius Robert Oppenheimer. O filme acompanha esse personagem desde seu período de estudante, sua liderança no projeto Manhattan, elaborado para a criação da bomba atômica, com a colaboração de cientistas, engenheiros, militares e diversos profissionais, no período de 13 de agosto de 1942 a 15 de agosto de 1947, e seus conflitos com os militares americanos após a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

Nolan habilmente nos conduz pelos caminhos polêmicos de Oppenheimer, explorando diversos aspectos de sua vida, o empenho de sua equipe e sua relação com os militares, culminando na conclusão do trabalho e na subsequente perseguição devido à sua oposição ao programa nuclear americano. Com uma abordagem humana, o diretor demonstra as profundas crises éticas enfrentadas por Oppenheimer em relação às consequências da criação de uma arma letal que resultou na morte de milhares de pessoas em Hiroshima e Nagasaki, em 1945. É inegável que o filme provoca polêmicas devido à forma como Nolan retrata esse personagem, explorando questões pessoais, políticas e militares de forma intensa e provocativa.

As interpretações do diretor sobre os dilemas éticos e o contexto da história de Oppenheimer são inevitáveis. No entanto, ele habilmente desenvolve uma narrativa adulta, séria e complexa, abordando temas e premissas da vida de um homem enigmático, dividido entre seu conhecimento profissional, conflitos sobre a neutralidade da ciência, confrontos com questões políticas e militares, e sua fragilidade em lidar com questões familiares. O filme apresenta uma abordagem cuidadosa e profunda desses elementos, tornando-o uma obra cinematográfica provocativa.

Esses e outros tópicos surgem no filme e merecem atenção e análises diferenciadas. Uma interpretação apressada pode reduzir e limitar o alcance de uma obra cinematográfica como Oppenheimer. Portanto, é necessário assisti-lo com total atenção para abarcar tantos assuntos, abordagens e informações que são apresentados. Essa característica é muito bem-vinda em um filme, pois lembra o espectador de que uma obra fílmica pode e deve ir além de um simples ato de consumo. É uma oportunidade de mergulhar em reflexões mais profundas e significativas proporcionadas pela arte cinematográfica.

Oppenheimer é um filme que instiga a análise e o questionamento, evidenciando sua importância para o cinema contemporâneo. Afinal, a história de Oppenheimer é envolvente e repleta de significados. Acredito que as razões de Nolan para filmar a vida desse personagem podem ser diversas, e cabe a nós refletir sobre o que ela pode nos dizer em um novo século marcado por crises éticas e humanas que envolvem a ciência e a religião entre outras assuntos fundamentais da sociedade contemporânea . É uma obra que nos convida a uma profunda reflexão sobre os dilemas éticos da humanidade, tornando-se uma peça significativa no contexto cultural atual.

Assista a Oppenheimer e aprecie as excelentes atuações de Cillian Murphy e Robert Downey Jr., a brilhante trilha musical de Ludwig Göransson e a habilidosa fotografia de Hoyte Van Hoytem, entre outros destaques dessa produção. Espero que os debates sobre o filme sejam relevantes, dada à riqueza de temas e técnicas envolvidas na obra. Não perca a chance de se envolver nessa experiência cinematográfica enriquecedora e participar de discussões significativas sobre esse filme surpreendente.

Dica da Semana

Os Duelistas de Ridley Scott. Primeiro filme do cineasta Ridley Scott que dirigiu sucessos como Alien e Blade Runner (Cineclube SINDMEPA. dia 01 agosto, terça-feira, às 19h. Entrada franca). 

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