Vacinar idosos antes tem explicação científica e humanitária para gestão pública
Várias pessoas têm começado a questionar o porquê de não se vacinar primeiro jovens e evitar colapsos econômicos

A Indonésia adotou um rumo diferente de quase todos os outros países na vacinação contra covid-19: começou com os mais jovens ao invés de idosos. A justificativa do governo de lá era manter a economia aquecida, imunizando quem poderia transmitir o vírus devido uma vida mais ativa, por sair para trabalhar, fazer compras e manter outras atividades rotineiras que não caberiam mais a pessoas com 60 anos ou mais. Rapidamente, isso começou a ser usado como argumento para pessoas mais jovens que querem "passar na frente". Não é tão simples assim.
Enfermeira e professora mestre Adriana de Sá Pinheiro, diretora acadêmica da Unama Alcindo Cacela, explica que há várias linhas de raciocínio lógicas para colocar os idosos em prioridade. Mas quem defende a ordem inversa, possivelmente, desconhece como uma vacina funciona. Estar imunizado não significa que a pessoa cria uma aura protetora sobre si, que afasta o vírus de longe. Significa apenas que a pessoa terá menos chances de adoecer. E se adoecer, terá sintomas mais amenos. Não ficará em estado grave e não vai morrer.
Para Adriana, outra justificativa deveria ser óbvia por humanidade e empatia: idosos geralmente estão na posição de pais, tios, avós e bisavós dos jovens que hoje querem ser vacinados de forma antecipada. Pessoas que, pressupunha-se, seriam queridas e estariam nas prioridades pessoais de proteção. Essas pessoas, pela idade mais avançada, precisam de mais cuidados para se manterem vivas e sadias. São pessoas que estão sendo ainda mais privadas de contatos e de sair de casa.
Quando o argumento é economia primeiro e gestão de recursos públicos, há uma outra preocupação: idosos podem, mais facilmente, desenvolver versões mais graves da doença e irem parar num leito de UTI. E enquanto a covid-19 lotar leitos públicos, mais pessoas vão morrer pela pandemia e por falta de atendimento para outras situações, alerta a professora Adriana. Uma pessoa que sofrer um acidente de trânsito ou tiver outra doença grave além da covid-19, pode ficar desassistido.
Vacinar grupos prioritários é questão ética e idosos finalmente terão o começo de um alívio
"Eticamente, a recomendação é de que a vacinação comece por grupos mais vulneráveis, pois previnem formas graves das doenças. Não significa que não pega mais e nem transmite mais. Não se trata de uma armadura impenetrável que permite circular livremente. Nenhuma vacina funciona assim. Por sinal, após imunizados, por algum tempo, ainda teremos de manter os hábitos de higiene e usar máscaras e outras formas de proteção até termos efeito. O jovem corre mais risco que idoso, que já tem a saúde mais frágil?", questiona Adriana.
"Como não temos doses para vacinação em massa, precisamos usar as doses de modo que possamos ter vidas preservadas, reduzindo a mortalidade e ocupação de leitos. Voltando ao fato de que as pessoas não entendem como funcionam vacinas, sair imunizando os mais jovens primeiro vai gerar uma falsa sensação de segurança. Então, por isso, estamos com grupos prioritários, dos quais os idosos fazem parte. Evitando a sobrecarga do sistema de saúde, temos um ganho que chega a terceiros", concluiu Adriana.
O diretor do Departamento de Vigilância à Saúde da Sesma, Claudio Salgado, em uma entrevista anterior ao Grupo Liberal, observou que os idosos que estavam totalmente isolados, somente após a segunda dose de vacina, poderão receber algumas visitas ou até sair um pouco. Só que ainda seguindo todas as recomendações: usando máscaras, higienizando as mãos e mantendo distanciamento. "Sabemos que muitos idosos ficaram totalmente isolados. Então quem já está com as duas doses completas, pode começar a ter uma folguinha, desde que com cuidados", disse.
Inês Vasconcelos, de 90 anos, avó de Roberta Carvalho, já tomou as duas doses da vacina. Para ambas, um alívio por um dos entes mais queridos da família estar protegido. "Foi um período bem difícil para ela, porque ela ficou muito isolada. Minha irmã trabalha no Hangar e quando ela chegava, tinha de ficar distante. Perdemos pessoas queridas, então agora ela está protegida", disse a neta.
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