Um bilhão de refeições são desperdiçadas, todo dia, no mundo, aponta ONU

Em Belém, Ceasa desenvolveu projetos para combater o desperdício de alimentos, que chegava a 10 toneladas por dia

Dilson Pimentel

Um bilhão de refeições são desperdiçadas, todo dia, no mundo. Isso dá uma média de 132 kg de comida jogados no lixo por pessoa a cada ano. E esse desperdício ocorre no mesmo planeta em que a fome atinge mais de 780 milhões de pessoas.

É o que aponta um estudo mundial sobre o tema, divulgado, mês passado, pela ONU. O relatório afirma ainda que a produção de alimentos seria suficiente para abastecer toda a humanidade. Ainda conforme o relatório, o custo da perda e do desperdício de alimentos é de aproximadamente US$ 1 trilhão por ano.

É o equivalente a quase metade do PIB brasileiro. Do total de alimentos desperdiçados no mundo, 60% ocorre dentro de casa, 28% nos restaurantes, bares e lanchonetes e 12% em supermercados, hortifrutis e feiras livres.

Em Belém, funciona a Ceasa (Centrais de Abastecimento do Pará), cuja missão é centralizar o abastecimento de hortigranjeiros do Estado, “auxiliando no crescimento dos produtores, atacadistas e varejistas, disponibilizando serviços de qualidade e mantendo harmonia dos interesses dos clientes, dos colaboradores e do poder público além de auxiliar os hábitos da população paraense”.

E, na Ceasa, é possível verificar que, apesar dos avanços, ainda há desperdício de alimentos. Muitos dos produtos são oriundos de outros estados brasileiros. E, durante o longo percurso até chegar a Belém, sofrem a ação da natureza - sol e chuva. E, por essa razão, muitas mercadorias se perdem e são desperdiçadas.

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Doméstica recolhe alimentos para o seu consumo diário

Quando os produtos não estão em boa qualidade para serem vendidos para os consumidores, eles são comercializados, com preços menores, para trabalhadores que os revendem em feiras da capital ou mesmo para pequenos comerciantes. Há também os “carapirás”, como são chamadas as pessoas que retiram o sustento de suas famílias dos alimentos que recolhem todas as madrugadas do mercado da Ceasa.

No entanto, quando o alimento não serve mais, ele é descartado sem nenhum tipo de aproveitamento. Muitas pessoas chegam de madrugada na Ceasa para recolher esses produtos. É o caso da doméstica Francisca da Silva, 64 anos. Duas vezes por semana ela vai ao local, no qual chega 4h30, para recolher produtos que são descartados. “Peguei maracujá, cebola, goiaba, pimentão. Ainda vou pegar tomate. É tudo higienizado. Eu vou aproveitar com certeza. Eu uso no meu dia a dia para me alimentar”, contou.

Também de madrugada, Zacarias Santana, 76 anos, recolhia cenoura e batata que haviam sido jogados fora. Há 21 anos ele frequenta a Ceasa. “Uma parte eu consumo”, contou. “Em casa eu lavo com água sanitária para tirar as bactérias”, afirmou, dizendo que recolher os produtos ajuda muito no orçamento doméstico dele. Uma outra parte ele vende.

Revenda de produtos gera renda de R$ 600 para morador de Outeiro

Nivaldo da Costa, 52 anos, compra, dos fornecedores, os alimentos que estão amassados ou que perderam parte da qualidade, pagando um preço mais em conta. “Eu classifico os produtos (mamão, cenoura)”, contou. Classificar é verificar aqueles que estão em condição de serem consumidos. “O que não presta, o que está amassado, quebrado, vai para o lixo”, contou.

Nivaldo revende esses produtos em Outeiro para os vendedores que os comercializam em carrinhos pelas ruas. Ele paga R$ 60 para o motorista de um veículo levar a mercadoria até Outeiro. Para ele, isso representa uma renda de R$ 600 por mês. Nivaldo foi entrevistado na madrugada de quarta-feira (3).

Manoel Dárcio da Cunha, 54 anos, mora em Marituba, onde cria galinha, porco e vende farinha. “Eu pego aqui o que o pessoal não leva para vender e é jogado fora (no contêiner). Tem muita coisa útil. Eu cato legumes, folhas, banana, abacate e dou para os porcos e galinhas que eu crio”, disse ele, que frequenta a Ceasa há 10 anos. “Se não fosse isso, eu tinha que comprar milho e a situação que tá o preço não compensava”, afirmou.

Laércio Santos, 42 anos, é estoquista braçal. E há mais de 20 anos e trabalha com batata, cebola, tomate e cenoura. “Quando a qualidade está inferior, a gente vende por um preço mais acessível. Alguns alimentos a gente doa. E o que não aproveita mesmo vai para o lixo”, disse.

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Direção da Ceasa combateu desperdício, que chegada a 10 toneladas por dia

Raimundo Santos Júnior assumiu a presidência da Ceasa em fevereiro de 2023. “Percebemos que havia uma grande quantidade de desperdício no mercado da Ceasa - chegava a ser 10 toneladas por dia”, disse. E foi lançado, então, o programa Banco de Alimentos, que visa dar uma destinação positiva para esses alimentos que antes eram desperdiçados.

Foi montada uma equipe de nutricionistas, manipuladores de alimentos, gastrólogos, para poder fazer a separação desse alimento, daquilo que está próprio para o consumo, fazer a higienização, a sanitização e condicionar esses alimentos em cestas de alimentos para serem entregues às pessoas em situações de insegurança alimentar.

“Então hoje, com esse trabalho, nós já estamos conseguindo aproveitar 4 toneladas por semana de alimentos que, antes, iriam para o lixo. Só no ano passado, entregamos mais de 100 toneladas de alimentos. Um quantitativo que antes iria para o lixo, agredindo o meio ambiente e sendo um grande prejuízo até para a saúde das pessoas do mercado”, afirmou.

Com esse trabalho, afirmou, a Ceasa conseguiu atuar na segurança alimentar, na preservação ambiental e na própria educação alimentar também, ensinando os permissionários a conscientização da importância de que aquilo que eles jogavam no lixo teria uma destinação positiva. “Ao invés de jogar no lixo, doe para o Banco de Alimentos para que tenha uma destinação positiva. Hoje nós já estamos atendendo mais de 1.200 famílias por mês com cestas de alimentos. E, toda semana, 4 toneladas do que antes era lixo é aproveitado. E, para além disso, aquilo que sobra das cestas de alimentos, o nosso excedente, é utilizado na oferta de cursos de gastronomia, estimulando o empreendedorismo de pessoas em situação de vulnerabilidade”, afirmou.

Ceasa fez a doação de alimentos para 12 mil famílias 

Há um ano, a Centrais de Abastecimento do Pará (Ceasa) deu início aos projetos “Banco de Alimentos” e “Cozinha Escola”, que têm levado à população carente da Região Metropolitana de Belém, suporte na mitigação da fome e geração de renda a centenas de famílias.

De acordo com a Ceasa, “foi no vaivém de um mercado abarrotado de hortifrutis, onde diariamente se via um cenário assustador de desperdício, que os projetos nasceram. Essa era a realidade da Ceasa, antes da chegada do Banco de Alimentos e da Cozinha Escola. Cerca de 10 toneladas de produtos que não serviam para serem comercializados, mesmo mantendo as condições nutricionais, eram descartados”.

Somente no período de março a dezembro do ano passado, um volume total de 63 toneladas de hortifrutis orgânicos foi arrecadado e doado a 12 mil famílias atendidas, beneficiando 64 mil pessoas. Já O projeto “Cozinha Escola” surgiu em junho, a partir do “Banco de Alimentos”. Semanalmente, são ministrados cursos de reaproveitamento integral dos alimentos com aulas práticas de culinária desenvolvida a partir de talos, cascas e sementes e palestras sobre empreendedorismo e nutrição saudável.

Ao final, as turmas são certificadas e aptas a empreender com a produção das receitas. De junho a dezembro de 2023, já foram capacitadas 800 pessoas em 28 instituições, com o curso “Cidadania no Prato” e as oficinas de doces e geleias, biscoitos nutritivos e panetones.

 

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