Tacacá com sabor de pertencimento

Iguaria leva belenenses que moram fora a reencontrar a própria identidade

João Thiago Dias
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Caldo de tucupi quentinho, ervas de jambu, goma de mandioca e camarões secos reunidos em uma cuia. Para muitos, uma tradicional e saborosa receita de tacacá. Para a médica belenense Érika Mendonça, uma lembrança nostálgica da infância. Ela mora em São Paulo há 16 anos, mas duas vezes por ano, quando viaja para a capital paraense para visitar a família, agenda o compromisso inadiável de tomar a iguaria típica da Região Amazônica em uma banca de rua no bairro de Nazaré.

"Representa entrar em contato com vários ingredientes que eu só consigo ter aqui. Penso nas pessoas que estão extraindo os subprodutos do tacacá, no pescador que consegue o camarão, nos cultivadores do jambu. Significa voltar no tempo e reviver a emoção da minha infância. Desde pequena, paro nesta mesma banca para tomar uma cuia cheia. Dá um sentimento de pertencimento muito bom", contou Érika.

Seja em uma tarde de sol ou em uma tarde de chuva, o importante para a médica é matar a saudade, seja por meio do tacacá ou até do tacaranguejo, que é preparado com os mesmos ingredientes, mas com acréscimo de patas de caranguejo. "Mais um produtor que tem a identidade resgatada e a economia restaurada por meio do caranguejo. Eu posso comer isso em restaurante ou preparar em casa, mas o legal é comer na rua, porque foi assim que eu tomei essa refeição pela primeira vez. Já passei muitas chuvas nessa banca", lembrou.

De família

Na banca de tacacá em que Érika é cliente fiel, que fica localizada na avenida Nazaré, quase na esquina da avenida Generalíssimo Deodoro, bem de frente à Praça Santuário de Nazaré, o trabalho começa às 6h. A dona da banca, Adriana Silveira, de 46 anos, conta que assumiu o trabalho construído pela família dela. "A gente levanta 6h para ir ao mercado do Ver-o-Peso garantir os melhores ingredientes. Às 10h abrimos o atendimento. Quem iniciou esse trabalho foi uma tia minha, mas assumi essa missão com 12 anos junto à minha família com muito orgulho", disse.

A clientela é a mais variada, com destaque para os turistas que contam que a iguaria é famosa em outros estados. "Temos fregueses de várias idades e de vários níveis sociais. Mas quem para mais para experimentar esse prato típico são os turistas, que buscam acabar com a curiosidade diante de tantos relatos que escutam por aí. Tem gente que vem para provar jambu pela primeira vez", contou Adriana. 

A barraquinha é parte de um conjunto padronizado pela prefeitura de Belém. Conta, inclusive, com letreiro digital, cadeirinhas na calçada e cumbucas artesanais personalizadas para colocar as cuias. Para Érika, apesar da concorrência sadia entre várias tacacazeiras neste trecho da avenida, sempre tem cliente fiel para todas diante da simbologia de poder tomar tacacá em um dos bairros mais emblemáticos da cidade.

"Como fica próximo da Basílica, a simbologia de poder passar uma tarde de chuva com uma refeição quentinha é mais significativa. Na época do Círio o número de clientes redobra. Termina a missa e eles param para se alimentar. E preferem naquele tradicional horário de fim de tarde ou no início da noite. Acredito que a maioria dos belenenses não sabe viver sem tacacá", opinou a vendedora.

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