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Swing: cresce em Belém o número de casais cansados da monogamia fazendo sexo (18+)

Prática de sexo entre casais ganha força entre quem quer quebrar a rotina, mas exige maturidade e diálogo

Eduardo Laviano

*Aviso: este conteúdo é inapropriado para menores de 18 anos.

*A reportagem usou nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

 

O número de adeptos do swing, o sexo entre casais, tem aumentado no Brasil. A plataforma Sexlog, uma espécie de rede social focada em encontros sexuais entre casais, chegou a 18 milhões de usuários no ano passado, 28% a mais do que em 2021. Na região Norte, o Pará foi o estado que teve maior crescimento comparado no mesmo período: 3,96% equivalentes a 48 mil novos usuários paraenses. E o aumento vai além da internet. Fernando, que gerencia uma casa de swing em Belém, conta que notou um aumento de 50% na procura pelo local. “Minha avaliação é que após a pandemia, os desejos e curiosidades das pessoas ficaram mais aguçados. Muita gente assistiu muitos vídeos em casa, mergulhou em coisas novas e agora quer realizar essas fantasias”, aponta. A reportagem usou nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

Carlos, que também comanda uma casa do mesmo ramo na capital paraense, estima um crescimento de 60% no número de clientes no último ano. “Como estamos há muito tempo no ramo, os frequentadores comentam com os amigos interessados que podem ingressar no mundo liberal. A gente se surpreende ao ver como este meio é grande, pois todo final de semana conhecemos dez ou até vinte casais novos”, conta.

Começar no swing exige diálogo

A psicóloga e sexóloga Mônica Moura lembra que a base do sexo é a curiosidade e uma das maiores questões que os casamentos enfrentam é a falta de curiosidade e mistério, que resulta em monotonia. Enquanto a paixão se alimenta de surpresas e incertezas, o amor dá estabilidade e segurança. "Então quanto mais a gente ama, menos sentimos paixão. Quando me sinto dono do outro, não inovo, não tenho frio na barriga", reflete. Segundo ela, o swing aparece para mostrar que o parceiro não está 100% conquistado e que ninguém é dono de ninguém. A vontade de experimentar relações sexuais com outras pessoas, porém, não deve ser confundido com o fim do amor.

image Mônica Moura (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

"Geralmente esses casais têm contratos muito bem estabelecidos, entendem que podem transar com outras pessoas por ser só uma questão de corpo, enquanto a decisão de estilo de vida é um casamento forte e a família unida. Exige um nível de amadurecimento grande. Existe um momento muito errado de iniciar o swing, que é quando o relacionamento está ruim. É a pior decisão. Pode instalar mais insegurança, pode confundir paixões novas com o novo grande amor. Isso pode afetar o casamento e a família. Se existe um momento correto, é quando o relacionamento está bem, sólido. Percebo que os casais que já começam a relação de maneira não monogâmica, sem sexo exclusivo, conseguem se perpetuar de maneira positiva nesse meio. Já com os casais que iniciam de maneira monogâmica, entendendo o sexo como propriedade, e decidem abrir o relacionamento, a chance de dar problema é maior", diz.

Moura elenca algumas dicas que podem ajudar: a primeira é conversar muito e de forma muito clara, sem deixar nada subentendido ou nas entrelinhas. É também importante imaginar como seria, pedir para o parceiro imaginar a situação, saber como ele acha que se sentiria. "Quando o homem traz essa ideia, ele se imagina geralmente interagindo com outra mulher, mas não imagina a esposa com outro. Antes de chegar em uma casa de swing é preciso fantasiar, levar isso para a cama. Trazer esse discurso e narrar esse evento durante o sexo é uma forma de observar se isso será excitante ou não", diz.

Ela sublinha, porém, que ninguém deve se sentir obrigado a fazer swing só para provar que é descolado e gosta de atividades atípicas. Na opinião dela, há uma certa pressão social que rotula casais monogâmicos como caretas. "Esse olhar de obrigatoriedade leva pessoas inseguras para esse meio sem estarem preparadas".

Parceiros de cama e de negócios

Essa confusão mental e social envolvendo conceitos como "traição" e "monogamia" também foi a porta de entrada para o casal Bia e Carlos no mundo do swing. Quando ele a conheceu, Carlos se relacionava com outras três mulheres. "Mas ela é tão maravilhosa que rapidinho eliminou a concorrência e eu só queria saber dela. Assumimos um relacionamento sério, mas, depois de um tempo, as tentações foram aparecendo. Até que ela flagrou umas mensagens no meu celular e foi tudo por água abaixo", relata. Bia deu um tempo de umas duas semanas para espairecer. Magoada mas ainda muito apaixonada, ela começou a pensar em soluções. Foi quando deu de cara com o assunto na internet. "Pensei: se ele quer transar com todo mundo, ele pode. Mas eu também quero", conta, ao lembrar que de vez em quando o ciúme ainda bate, mas isso é coisa que ela já aprendeu a controlar.

Segundo Bia, o mundo do swing mudou muito a noção de ambos sobre respeito, amor e liberdade. Ambos começaram indo a uma casa de swing em Marituba. Como eles sempre caprichavam nas fantasias para as festas temáticas, ganharam um apelido que perdura até hoje: Casal Stylo. A fama foi crescendo em Belém e hoje eles gerenciam um clube de swing, na avenida Júlio César, que funciona nas noites de sexta e sábado. Por lá, a média de idade dos casais é de 35 anos. Em uma noite badalada, o número de participantes passa de 40 casais. E há um limite de solteiros: no máximo oito, a depender do dia. Os ingressos variam entre R$ 50 e R$ 80, para os casais, e entre R$ 120 e R$ 150 para os solteiros.

A convite dos entrevistados, a reportagem visitou o local para uma apuração estritamente jornalística. A fachada é apenas uma parede preta sem qualquer sinalização sobre a natureza do empreendimento. São três andares. No terceiro, fica a boate. A festa rola solta com uma mistura de música eletrônica com hits de pop. Por volta da meia-noite, começou o primeiro strip-tease. Uma loiraça fazia acrobacias no pole dance e, de vez em quando, caminhava lentamente ao encontro dos espectadores para uma atenção especial. Um casal que estava sentado em um sofá sorriu entre si como se estivesse aprovando os pensamentos um do outro e começaram a tocar a dançarina.

Depois, foi a vez de um homem subir ao palco. Musculoso e tatuado, o stripper vestia uma roupa de executivo. Quando ele estava só de cueca, Bia pegou o microfone e provocou a plateia comentando sobre o stripper. A estratégia funcionou: uma moça jovem, aparentando ter uns 20 e poucos anos, foi ao contato sexual com o dançarino. E o namorado assistiu tudo empolgado. Mesmo já sendo tudo muito escuro para garantir a discrição dos casais, Bia anuncia o ápice da festa no microfone: o blecaute. Luzes completamente desligadas com apenas alguns fios de LED iluminando o local. E todo mundo foi ficando mais solto.

À medida que o público vai se animando, é o segundo andar que entra nos holofotes. Lá, há três compartimentos: o primeiro é um quarto só para casais. Quem é solteiro pode ficar assistindo do lado de fora. O outro quarto, mais disputado, recebe casais e solteiros. Por lá, a reportagem presenciou uma moça reinando no centro de gang bang com outros três homens, enquanto outros dois assistiam animados. Já o terceiro compartimento são duas cabines de glory hole, que possuíam até fila. E dentro das cabines, mais casais praticando sexo.

Carlos e Bia são extremamente cordiais, explicando cada cena como se fossem obras de arte em um museu enquanto refletem sobre o caminho que percorreram até aqui. "A experiência tem sido ótima. A gente fica orgulhoso, porque vamos completar um ano de negócio e ter um local novo significa que, aos poucos, a mentalidade da nossa cidade está se abrindo. Quanto mais as pessoas conhecem e vão criando amizades, mais felizes ficamos. Antes muita gente viajava para curtir em outros estados. A gente foi vendo o que gostávamos e não gostávamos nos lugares que íamos para calibrar, fazer um local bacana. O importante é que todos se divirtam, sem julgamentos", diz Carlos.

"Tem gente que imagina que vai chegar aqui e vai estar todo mundo pronto para transar. Muita gente vem só olhar, tomar uma. Sempre digo que o combinado não sai caro: conversa com o parceiro antes. Se não estipular regras, dá errado. O swing ensina muito para a gente. Há dois meses contei para a minha família e ela me respeitou. É o que eu desejo para todos e torço para que esse tabu seja cada vez menor", diz Bia.

Também trabalhando no ramo, Fernando comanda há 12 anos uma casa de swing na capital paraense, em que o lema é "tudo é permitido e nada obrigatório". "Isso vira um estilo de vida e a gente promove liberdade sexual para os casais. Queremos um meio liberal cada vez mais acessível, pois existe preconceito muito grande. Pela minha experiência, vejo que isso na verdade ajuda muitos casais. Quebra a rotina. Tem gente que diz que isso acaba com o casamento, mas pela minha experiência, é mito. Se acaba, é por outros motivos. E o mais legal é que aqui é completamente discreto, com foco na privacidade. Assim com os outros locais, fotos e vídeos não são permitidos. É um ambiente que as pessoas podem entrar sem se preocupar com os outros saberem", diz.

Felizes sem monogamia

Henrique nunca gostou de uísque. Cresceu ouvindo que era coisa de macho e, depois de adulto, se frustrava assistindo Mad Men e vendo os personagens consumindo uma garrafa atrás da outra. Naquele sábado, porém, ele não tinha alternativa. Ele sentiu para onde as coisas estavam caminhando. Na metade da primeira dose, tudo era só conversa, olhares e sorrisos demorados, daqueles que a gente dá quando está pensando na próxima coisa que vai dizer. A bebida descia abrasiva, mas ele investiu na segunda dose. E na terceira. Antes de terminar a quarta, a esposa dele já estava recostada no sofá da sala, com os seios de fora e sendo acariciados por um colega de trabalho dele. E a namorada desse colega de trabalho beijava a esposa de Henrique calmamente, encarando Henrique pelo canto de olho. "Te juro que era para ser um jantar normal de amigos. Nunca passou pela minha cabeça. Quando o assunto pintava, sempre pensei que iria odiar, achava coisa de maluco", conta Henrique.

De lá para cá, 11 anos se passaram. Ele e a esposa Luísa não pararam mais de se aventurar sexualmente com outros casais, prática conhecida como swing. Ela conta que depois da primeira experiência e da conclusão que gostariam de outras, o casal sentou e conversou para acertar os detalhes do acordo. "Já estávamos há dois anos juntos e a gente se conhecia bem. Acho que isso foi muito importante para a gente estar junto até hoje. Temos regras bem definidas. Camisinha sempre, óbvio. Um só sai com casal ou para a festa se o outro também for. Nada de romancinho e intimidade ou qualquer tipo de programação fora da cama. Até hoje fico meio enciumada quando ele beija demais na boca de outra pessoa. Sinceramente, não gosto muito. Mas deixo. De resto, tudo vale", diz.

O casal já frequentou de maneira mais assídua as casas de swing de Belém, mas atualmente prefere pequenas festas privadas ou tentar a sorte nos aplicativos. "A internet melhorou muito as coisas. Antes tinha que caçar, nem sempre dava certo. Hoje em dia tem um swingueiro a cada esquina, a um clique de distância", diz Henrique. O empresário conta que o mais surpreendente para qualquer casal iniciante é como a comunidade do swing é respeitosa e também unida. Para Luísa, a primeira ida a uma casa de swing foi um alívio. "Não é a orgia romana que muita gente pensa. É tudo muito tranquilo e discreto, quase um ambiente familiar", diz rindo. "Ninguém toca em ninguém sem permissão, dificilmente tem algum cara te cercando. Nunca tive nenhuma experiência ruim. E até aconselho ir. Acho que vale a pena pelo menos uma vez na vida. Muita gente vai só para ficar olhando", confessa.

Para Henrique, aderir ao swing também foi uma libertação. "Tive muitos relacionamentos frustrados por conta de fraqueza minha, de traição mesmo. Eu me achava errado, como se eu fosse um completo anormal por ter tesão em outras mulheres estando com uma que eu amava. E não é nada disso. Todo mundo é diferente, sem essa de errado ou certo. Esse modelo monogâmico funciona para algumas pessoas e para outras não. Hoje, me sinto o cara mais normal do mundo e sortudo de ter uma esposa que topa tudo comigo", desabafa. E Luísa concorda. "Antes eu sonhava com isso de me apaixonar, casar e transar só com aquela pessoa para o resto da vida. Hoje percebo que essa é uma missão quase impossível. Admiro quem tenta, mas não é mais para mim. Fico feliz que a gente consiga viver os prazeres da vida com honestidade, sem esconder nada um do outro", pontua.

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Belém
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