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Superlotação e falta de insumos marcam rotina no PSM da 14, em Belém, denunciam pacientes

"O Pronto Socorro está sem material para atendimento à população”, afirmou Moisés Ferreira, que é mais conhecido como Moisés da Saúde e atua no movimento de saúde de Belém

Dilson Pimentel
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Superlotação, demora no atendimento e falta de materiais e insumos. Essa é realidade no Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, conhecido popularmente como PSM da 14, no bairro do Umarizal. É o que afirma o técnico em enfermagem Moisés Ferreira, que atua no movimento de saúde e conhece bem a realidade do PSM da 14, do qual disse ser um usuário dos serviços de saúde.

Na manhã desta terça-feira (15), Moisés participou de um ato público em frente ao prédio da Prefeitura de Belém. Uma manifestação dos servidores municipais pedindo melhorias salariais e de condições de trabalho. “Hoje, o Pronto Socorro da 14 enfrenta uma triste realidade devido ao foco do prefeito na terceirização da unidade e ao próprio desrespeito com o funcionário público. O servidor recebe abaixo do salário mínimo. São tantas perdas, e a situação da assistência também é crítica. O Pronto Socorro da 14 está sem material para atendimento à população”, afirmou Moisés Ferreira, que é mais conhecido como Moisés da Saúde. Segundo ele, a terceirização representa “um grande perigo, pois atualmente não existe um hospital de retaguarda que ofereça o tipo de atendimento que hoje é prestado por esta unidade”.

Moisés disse como essa realidade impacta diretamente a vida de quem precisa do PSM da 14. “Hoje, a situação traz um grande transtorno: não há material, não há insumos. Como a própria imprensa tem acompanhado, os usuários têm denunciado que estão comprando luvas, gazes, esparadrapos”, disse. “Mas o que vale ressaltar é que, mesmo diante dessa situação, os funcionários estão lá, cumprindo seu papel e atendendo as pessoas. É uma situação que exige luta para defender a população de Belém contra a terceirização e o remanejamento dos funcionários públicos, que são os mais qualificados para atuar na assistência do hospital”, completou.

image "O Pronto Socorro da 14 está sem material para atendimento à população”, afirma Moisés Ferreira, que é mais conhecido como Moisés da Saúde (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Moisés disse que há superlotação no pronto socorro. “Pacientes ficam nos corredores; acompanhantes, às vezes, deitados no chão porque nem macas suficientes há. Para se ter uma ideia, as poltronas estão rasgadas. Há uma contaminação constante, pois pacientes urinam e sujam o local. Os materiais e objetos estão defasados há muito tempo. Não há mobília adequada para oferecer um atendimento digno”, disse.

Motorista com lesão no olho reclama de demora no atendimento

O motorista de caminhão Reinaldo Santos, 32 anos, teve uma lesão no olho. Chegou ao PSM às 10 horas desta terça-feira (15) e, até por volta das 12 horas, ainda não havia conseguido atendimento. Depois daquele horário, ele recebeu a informação de que só seria atendido às 16 horas. E essa não foi a primeira vez que procurou o PSM em busca desse mesmo atendimento. “Quando tive a lesão no olho, há uns 10 dias, cheguei aqui por volta das 11 horas. Passei por um médico que mal olhou para o meu olho e me mandou para o oftalmologista. Cheguei lá e me disseram que o oftalmologista tinha saído para o almoço e só voltaria às 18 horas”, contou.

“Ou seja, eu estava aqui às 11 h da manhã, e o médico só voltaria às 18h. E minha lesão era grave - eu estava com medo de ficar cego. Infelizmente, precisei pedir ajuda a amigos e até desconhecidos para pagar uma consulta particular. Acabei gastando um dinheiro que eu não tinha, porque aqui o atendimento não aconteceu”, contou. Ele falou sobre as circunstâncias do acidente. “Eu estava batendo um parafuso que caiu no chão e voltou no meu olho esquerdo”, contou.

image Com uma lesão no olho, o motorista de caminhão Reinaldo Santos, 32 anos, reclama da demora no atendimento no PSM da 14 (Foto: Ivan Duarte/O Liberal)

Ele retornou ao pronto socorro nesta terça-feira porque ainda sente um “incômodo” no olho, que está bem vermelho. “Estou com dor de cabeça, e minha visão está embaçada”, disse. “Cheguei aqui às 10 horas. Já estou há mais de uma hora esperando, e o médico não chama ninguém. Todos passam só pela triagem. O médico não chama, e a gente vai ficando. Aí dá a hora do almoço e acontece o mesmo que da outra vez”, contou. “Passo por um médico que não trabalha com a área oftalmológica, ele me encaminha ao oculista — e o oculista diz que está na hora do almoço. Aí só volta às 18h. A pessoa acaba ficando aqui o dia todo”, afirmou.

“Hoje, fui perguntar a um funcionário se a médica não vai chamar ninguém, e ele disse para esperar. Quando cheguei, tinham só três pessoas. Agora já está cheio. . Fica um sentimento de abandono. Se a gente não procurar ajuda de outra forma, fica difícil”, afirmou. “Chegou uma criança vomitando, outra criança em seguida. O salão está enchendo. Quando encher, vai dar o horário do almoço. Todos os médicos vão sair. Aí só volta o atendimento às 14 ou 15 horas. Isso não tem lógica. Nenhuma lógica”, disse. Minutos após a entrevista ele foi informado que só receberia atendimento mais tarde, às 16 horas.

SESMA

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou, por meio de nota, que o Hospital Pronto Socorro Municipal (HPSM) Mário Pinotti é uma “unidade de atendimento de urgência e emergência de portas abertas, integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), que não faz restrição de atendimentos”. “Ou seja, é totalmente aberta a qualquer cidadão que procure o serviço, atendendo não apenas à demanda da capital paraense, mas também de outros municípios do Estado. Diante disso, eventualmente, enfrenta situações de horários de pico de atendimento, o que pode resultar, ocasionalmente, em um tempo de espera mais prolongado, mas sem perder a responsabilidade da assistência, obedecendo um protocolo de classificação de risco inspirado em Manchester”, alegou a secretaria.
“A Sesma informa, ainda, que tem adotado uma série de medidas para restabelecer, de forma progressiva, o abastecimento de medicamentos e insumos em todas as unidades da rede municipal. Entre as ações já realizadas estão a reativação de contratos que haviam sido suspensos e a negociação de dívidas herdadas. Essas providências vêm permitindo a regularização gradual do fornecimento, mesmo diante dos trâmites administrativos legais, que exigem prazos específicos até a entrega final dos materiais”, disse a secretaria.

CRM

O Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) realizou no dia 14 de abril desse ano visita técnica no Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti (PSM da 14 de Março), em Belém. "A inspeção técnica identificou graves problemas estruturais e assistenciais, como infiltrações, presença de mofo, camas enferrujadas, colchões danificados, além da falta de medicamentos e insumos básicos para o atendimento de urgência e emergência.  Também foi constatada a interdição da agência transfusional por ausência de condições mínimas de funcionamento, o que compromete o fornecimento seguro no atendimento de solicitação de hemoderivados conforme preconiza o Ministério da Saúde”, explicou o CRM, em nota enviada à reportagem nesta terça-feira (15).

“O CRM-PA considera inaceitável que uma unidade de saúde que realiza, em média, 11 mil atendimentos mensais e registra cerca de 80 óbitos por mês opere nessas condições. Essa realidade representa risco direto à vida dos pacientes e ao trabalho seguro dos profissionais de saúde. O relatório com as irregularidades foi encaminhado aos órgãos de controle e fiscalização, incluindo o Ministério Público do Estado, a Defensoria Pública, os conselhos de classe como Coren, Crefito, a OAB-PA, e a Sesma para as medidas cabíveis. O documento foi enviado também ao Conselho Federal de Medicina”, assegurou o conselho.

“Reiteramos a necessidade urgente do fechamento do PSM da 14 de Março para reformas estruturais, com soluções efetivas e permanentes, a fim de garantir dignidade no atendimento à população e condições adequadas de trabalho aos profissionais de saúde. Enquanto isso, é imprescindível que a Secretaria Municipal de Saúde (SESMA) providencie a transferência dos atendimentos para outra unidade capaz de oferecer assistência segura e adequada aos usuários. O Conselho reforça seu compromisso com a defesa intransigente da ética médica, da qualidade da assistência e do respeito aos direitos da população”, finalizou o CRM.

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