Separação: Como proteger os filhos e lidar com o fim do casamento com responsabilidade
Comunicar a separação aos filhos é um dos mais sensíveis de todo o processo

A separação de Virgínia Fonseca e Zé Felipe movimentou não apenas as redes sociais, mas também levantou uma discussão delicada e necessária: como lidar com o fim de um casamento quando há filhos envolvidos? O rompimento de um casal é, muitas vezes, também o rompimento de uma ideia de família — o que gera impactos emocionais profundos, tanto para os adultos quanto para as crianças.
A sexóloga clínica Mônica Moura explica que o momento de comunicar a separação aos filhos é um dos mais sensíveis de todo o processo. Segundo ela, o ideal é que os pais estejam juntos na hora de dar a notícia. “Quando os pais estão próximos e juntos, eles passam para a criança aquela sensação de que está tudo bem. Que, mesmo separados como casal, vão continuar sendo pai e mãe dela. Isso traz segurança emocional para os filhos”, explica.
A especialista alerta que a comunicação deve ser adequada à idade da criança. “Nem toda criança vai entender o que é separação. Para as menores, é importante usar uma linguagem simples, dizendo, por exemplo, que ‘o papai e a mamãe vão morar em casas diferentes’. Já os maiores podem compreender que o amor entre os pais mudou, que os planos de vida são outros, mas sempre reforçando que isso não muda o amor deles pelos filhos.”
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Mônica faz um alerta essencial: “Esse momento não é para acusações, nem para brigas, nem para colocar a culpa um no outro na frente das crianças. O mais importante é deixar claro que a separação não tem nada a ver com elas. É natural que as crianças pensem que são culpadas, por isso essa comunicação precisa ser muito cuidadosa.”
Lidar com o emocional das crianças exige acolhimento
Após a comunicação, vem o desafio de lidar com as emoções que surgem. Segundo Mônica, o primeiro passo é colocar a criança no lugar de criança. “É fundamental que ela entenda que essa decisão é dos adultos. Não é algo que ela precisa questionar ou tentar resolver. E, principalmente, que essa decisão não é falta de amor por ela”, ressalta.
Acolher os sentimentos também é essencial. “Se a criança sente raiva, medo ou tristeza, os pais precisam validar esse sentimento. Dizer que entende, que faz sentido estar triste ou bravo, e oferecer segurança emocional. Isso faz toda a diferença”, afirma.
Para tornar o processo mais leve, Mônica indica o estabelecimento de uma rotina consistente. “Quando a criança percebe que a vida segue, que ela continua indo à escola, brincando, encontrando os amigos, que há previsibilidade, ela entende que o mundo não vai desabar apesar da separação. Isso traz segurança e estabilidade”, explica.
Desafios diferentes
O impacto da separação varia conforme a idade. “A criança pequena costuma sentir muito medo, especialmente de ser abandonada. Muitas vezes acha que a culpa foi dela. Já o adolescente reage de forma diferente: seu medo vem mascarado de raiva, revolta, irritação e até indiferença. Eles se tornam mais arredios”, pontua Mônica.
Com os adolescentes, ela recomenda uma conversa mais clara e direta. “Eles já têm capacidade para entender a separação e conseguem assimilar melhor quando há honestidade e franqueza.”
Quando o divórcio é litigioso e marcado por conflitos, o alerta é ainda mais urgente. “O que vem à cabeça de qualquer profissional quando se fala nisso é alienação parental”, diz Mônica. Ela cita comportamentos comuns, mas extremamente prejudiciais, como usar as crianças como mensageiras ou falar mal do outro genitor. “‘Fala pro teu pai que ele não presta’, ‘se não pagar pensão vai preso’, esses comentários são extremamente destrutivos para o desenvolvimento emocional da criança.”
Ela é enfática: “Você imagina uma criança crescer ouvindo um dos pais xingar, humilhar ou diminuir o outro? Isso destrói qualquer base emocional saudável. É uma das piores formas de formar um ser humano.”
A especialista reconhece que nem todas as famílias têm condições de buscar acompanhamento psicológico. “O ideal é sempre ter um profissional, mas, quando não há possibilidade, o cuidado com o que se fala é fundamental. Não apenas para a criança, mas também no círculo familiar. Falar mal do ex-parceiro para amigos, vizinhos ou familiares — e isso chegar aos ouvidos da criança — tem um impacto muito negativo.”
A recomendação, nesses casos, é vigiar o próprio comportamento. “A melhor medida é cuidar de como você age e se comunica. Isso já diminui muito o impacto emocional que a separação pode gerar nos filhos”, pontua.
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