Paraense é aceita em mestrado na França e vende roupas em brechó para custear estudos
Formada em Relações Internacionais, Maria Betânia usa a moda sustentável como ponte para Bordeaux

Na manhã deste domingo (1º), o Encontro de Brechós Bora Garimpar Belém (BGB) transformou a Sala Vicente Salles, no Memorial dos Povos, localizado no bairro de Nazaré, em um grande circuito cultural dedicado à moda circular, economia criativa e consumo consciente. Entre mais de 50 expositores presentes, uma jovem chamou a atenção do público não apenas pelas roupas que vendia em seu brechó, mas por sua história de vida. Aos 24 anos, a paraense Maria Betânia Galvão é graduada em Relações Internacionais e foi recentemente admitida no mestrado em Marketing e Gestão de Moda e Luxo, na cidade de Bordeaux, na França. Para arrecadar fundos e custear os estudos no exterior, ela vende roupas usadas no próprio brechó, o “Desapega de Vez”.
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Betânia participou de diversas edições do evento, mas, nesta, um banner em frente ao seu estande convidava o público a ir além do consumo consciente e ajudá-la a realizar um sonho.
“Eu fui aprovada este ano no mestrado na França. Já tinha esse objetivo desde a graduação. Com o tempo, fui descobrindo esse lado mais voltado para gestão, empreendedorismo e moda”, explicou ao Grupo Liberal.
Ela conta que o curso superior escolhido une todas essas áreas. “O mestrado em Bordeaux é de Marketing e Gestão de Moda e Luxo. Então eu posso trabalhar tanto no mercado de moda em geral quanto no de luxo, que é mais específico. O brechó tem sido uma ferramenta essencial para me ajudar a angariar fundos, não só para sobreviver, mas também para pagar as taxas do curso e do visto”, contou.
Segundo Betânia, a taxa anual do mestrado é de 7.700 euros, o equivalente a quase R$ 47 mil. Para conseguir estudar na França, criou uma campanha de arrecadação de fundos. Além de vender roupas, também realiza rifas solidárias e mantém uma vaquinha online. A ideia é, pelo menos, conseguir cobrir o primeiro ano do curso, que tem duração de dois anos.
A jovem já tem data marcada para partir. “Vou no dia 23 de setembro e as aulas começam no final do mês, no dia 30. Vou usar essa primeira semana para me adaptar, porque ainda não conheço a cidade”, disse.
Ela conta que sua entrada no universo da moda consciente e dos brechós começou em 2018, como um projeto coletivo entre amigas. “Era para ser algo momentâneo. A ideia era desapegar de algumas peças. Mas percebi que o mercado estava crescendo, era rentável, e que eu tinha afinidade com gestão e empreendedorismo. Então continuei investindo nisso”, relatou.
Hoje, no comando do brechó "Desapega de Vez", Betânia organiza um modelo de curadoria colaborativa, em que recebe peças de outras pessoas para revenda. “A gente entra em contato, marca para eu pegar as peças, faço uma triagem do que está apto para venda. Depois coloco tudo em uma planilha, com todos os dados, e repasso o valor para quem me forneceu após a venda. Dessa forma, consigo oferecer uma variedade maior de roupas e ajudar outras pessoas também”, compartilhou.
Ela destaca que os brechós têm um papel estratégico no desenvolvimento sustentável, especialmente em um contexto como o da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), que será realizada em novembro, em Belém.
“Os brechós são imprescindíveis para fomentar o desenvolvimento sustentável. Existe uma relação direta entre moda consciente e os desafios ambientais que estamos enfrentando na Amazônia e no mundo”, afirmou.
Sobre o papel das mulheres nesse mercado, Betânia enxerga dois lados. “Infelizmente, ainda há um público feminino muito voltado ao consumismo, o que precisa ser revisto. Mas também vejo uma força empreendedora das mulheres, que investem, experimentam novos ofícios e se lançam nesse mercado. É um ambiente onde muitas mulheres encontram sustento e autonomia”, acrescentou.
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