Saúde mental em Belém tem mais de 10 mil atendimentos no Setembro Amarelo
Em tempos de tecnologia acelerada, redes sociais e rotinas cada vez mais corridas, manter a saúde mental tornou-se um desafio

Durante o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio e à valorização da vida, a Prefeitura de Belém reforça a importância dos cuidados com a saúde mental e destaca os serviços oferecidos pela rede pública municipal. Só em 2025, até o mês de setembro, mais de 10 mil atendimentos psicológicos foram realizados na capital paraense, somando esforços da Atenção Primária e Especializada.
A campanha nacional Setembro Amarelo, criada em 2015, é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM). Seu objetivo é quebrar tabus e mostrar que transtornos mentais não são fraquezas, mas questões de saúde pública que exigem acolhimento e dignidade.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera a América Latina em casos de depressão, com 5,8% da população afetada, cerca de 12 milhões de pessoas, e tem também a maior taxa de ansiedade do mundo, com 9,3% da população, o equivalente a quase 19,4 milhões de brasileiros.
Equilíbrio é essencial para manter a saúde mental na era digital
Em tempos de tecnologia acelerada, redes sociais e rotinas cada vez mais corridas, manter a saúde mental tornou-se um desafio. Para a psicóloga Érica Vieira, o segredo está no equilíbrio. “O acesso ao celular dispara a liberação de dopamina ao receber múltiplos estímulos, como visuais e auditivos. Por isso, é fundamental equilibrar esses estímulos com atividades que também liberem dopamina de forma saudável, como a prática de exercícios físicos, interações sociais presenciais e até mesmo saborear alimentos de sua preferência”, explica.
No ambiente de estudo e trabalho, o cuidado com o bem-estar também deve ser prioridade. “Esses espaços são ambientes de trocas sociais. Conhecemos pessoas com quem temos afinidade e outras nem tanto. Um ambiente equilibrado pode ser construído a partir de experiências. É importante fazer pausas entre os momentos de foco, com atividades que ajudem a escoar a tensão, como ouvir música, ler, assistir a um vídeo ou conversar com alguém querido”, orienta a especialista.
As relações amorosas, por sua vez, também pedem atenção e diálogo. “O que mais nos encanta nas pessoas são características únicas. Precisamos entender que ninguém é perfeito. A decepção muitas vezes vem de expectativas altas demais, criadas a partir de nossas próprias demandas de atenção. O diálogo com a pessoa amada é essencial para evitar especulações e frustrações. É necessário ouvir um ao outro”, destaca.
No contexto familiar, a saúde mental pode ser ainda mais vulnerável, principalmente em lares marcados por dificuldades financeiras ou sociais. “O ambiente familiar nem sempre proporciona saúde mental, muitas vezes por questões como vulnerabilidade financeira, social ou alimentar. As políticas públicas ainda são escassas na promoção do bem-estar social. A escola tem um papel fundamental em reconhecer quando um jovem precisa de ajuda, mas essa responsabilidade deve ser compartilhada com toda a sociedade”, afirma.
Para viver bem e evitar quadros de ansiedade ou outros adoecimentos psíquicos, a psicóloga recomenda uma rotina equilibrada e diversificada. “Precisamos dividir nossas atividades entre momentos de trabalho ou estudo, socialização, espiritualidade, diversão e até mesmo o ócio. A ansiedade é um mecanismo natural do nosso organismo, ativando o chamado hormônio da ‘luta ou fuga’, que nos mantém em alerta. O problema surge quando esse estado se torna frequente e intenso, gerando tensão constante, como ocorreu durante a pandemia”, explica. Em casos mais graves, o acompanhamento profissional se faz necessário. “Quando a ansiedade se intensifica, pode desencadear crises que exigem o apoio de psicólogos e, em alguns casos, psiquiatras”.
Ela também alerta para a importância de não restringir os cuidados com a saúde mental apenas ao mês do Setembro Amarelo. “O suicídio é um problema pandêmico mundial e um grande desafio, mesmo para os profissionais da área. Todos podemos ajudar ao perceber sinais ao nosso redor. Mudanças de comportamento, falas como ‘quero sumir’ ou ‘quero dormir e não acordar mais’ devem ser levadas a sério. Precisamos ouvir e acolher esses pedidos de ajuda. Em caso de dúvida, é melhor agir do que se omitir. Procurar ajuda profissional é essencial”.
Rede multiprofissional atua em toda a cidade
Em Belém, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) mantém uma ampla rede de atendimento em saúde mental, composta por 95 Unidades Básicas de Saúde (UBS) espalhadas por bairros e distritos. Nessas UBS, equipes formadas por psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e enfermeiros atuam de forma integrada para acolher e tratar casos de sofrimento psíquico.
Além disso, a cidade conta com quatro Centros de Atenção Psicossocial (Caps):
- Um voltado para o público infantojuvenil;
- Um específico para transtornos relacionados ao uso de álcool e outras drogas;
- Um destinado ao atendimento de adultos com transtornos mentais graves.
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