'Síndrome da Cabana': fim do isolamento pode gerar angústia

Psiquiatra explica que essa síndrome não é considerada uma doença, mas apresenta sintomas que podem trazer transtornos

João Thiago Dias

Após meses em isolamento social por conta da covid-19, muitas pessoas estão com medo excessivo de voltar à normalidade das atividades nas ruas. Se no início da pandemia a ideia de ficar confinado provocou ansiedade, agora, pensar no processo inverso, de retomada gradativa, também tem assustado. Com ou sem vacina, há quem aposte que a rotina ficou comprometida de forma definitiva.

Para o casal José Carlos Gama, 77, conhecido como seu Carlinho, e Leila Phereso, 62, de Belém, uma futura normalidade é praticamente impossível. "Fazíamos tudo sozinhos, como ida ao banco e à padaria e compras no supermercado. Agora, nem na esquina. Apesar de ter estranhado muito esse confinamento no início, acho que nunca mais vamos viver como antes. Mesmo que tenha vacina, isso não acaba de imediato", relatou seu Carlinho.

image Seu Carlinho e família são rígidos com a higienização (Fábio Costa / O Liberal)

Ele conta que a filha deles, a fisioterapeuta Aline Phereso, orienta com rigor os cuidados de higienização. "Ela ia viajar para o exterior antes da pandemia, mas veio morar aqui para cuidar da gente. Nos explica como usar luva, máscara, álcool em gel. Ela que vai ao banco tirar meu dinheiro e faz todas as outras atividades necessárias. Tem lugar abrindo de novo, mas dá medo sair até com máscara e tomando cuidado", completou.

Síndrome da Cabana

Essa angústia diante do possível fim do isolamento, que é vivenciada por representantes de diversas faixas etárias, sendo ou não do grupo de risco, pode indicar o fenômeno psicológico "Síndrome da Cabana". De acordo com a psiquiatra Daniele Boulhosa, de Belém, essa síndrome não é considerada uma doença, mas apresenta sintomas que podem trazer transtornos. 

"Normalmente, a pessoa sente uma ansiedade muito grande à expectativa de ter que sair de casa, ela pode sentir muito medo e se focar em imaginar situações de perigo que a desencorajam ainda mais a sair. Ela pode acabar desenvolvendo insônia, irritabilidade, inquietação, dificuldade de se concentrar e desconfiança das pessoas que estão ao redor", pontuou.

image Psiquiatra Daniele Boulhosa dá dicas para quem sente essa angústia excessiva (Divulgação)

O nome da síndrome, que foi ressignificado na pandemia, surgiu por volta de 1900, no Norte dos Estados Unidos, se referindo a caçadores que acabavam ficando isolados, em casa, em uma cabana, principalmente em invernos mais rigorosos. No retorno à vida, em sociedade, eles sentiam medo, dificuldade de se reconectar com as pessoas em sociedade.

"Esse medo pode ser muito comum, principalmente porque a quarentena se deu pela necessidade de autopreservação e segurança coletiva. Como ainda estamos vivendo a pandemia, ainda que com medidas de restrições mais flexíveis, isso pode gerar, sim, um medo de voltar às ruas, de voltar a sair de casa", disse Daniele.

Orientações

Para quem tem apresentado esse tipo de dificuldade, a psiquiatra orienta algumas dicas práticas que podem ajudar a lidar com o sentimento ruim. "Antes de mais nada, é preciso não se forçar demais, para não gerar traumas emocionais. O medo vem principalmente da insegurança de se colocar em risco, então é preciso focar em coisas que estejam sob seu controle, como escolher onde ir, ter um bom motivo para sair, estipular uma hora para voltar. Se concentrar nas lembranças boas que tem de algum lugar ou situação fora de casa também ajuda".

Se essas formas de lidar com o problema não funcionarem, a recomendação é que a pessoa busque ajuda profissional. "Vale a pena buscar uma consulta psiquiátrica para tentar resolver o problema. Existem várias formas de terapia possíveis. Além do mais, com o recurso das consultas online, é possível começar a se cuidar ainda dentro de casa. Depois, quem sabe, uma consulta presencial", concluiu a Daniele.

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