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Região Metropolitana de Belém tem mais de 816 mil pessoas em situação de pobreza

Mais de 197 mil vivem com R$ 160 ou menos por mês na capital paraense, aponta estudo

Daleth Oliveira
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A taxa de pobreza nas regiões metropolitanas do Brasil subiu de 16%, em 2014, para 23,7%, em 2021, aponta o Boletim de Desigualdade nas Metrópoles, realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). Na Região Metropolitana de Belém (Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Isabel do Pará) o quantitativo saltou de 26,2% para 36% da população, o que representa cerca de 816.923 pessoas vivendo em situação de pobreza.

Para o INCT, a pobreza pode ser entendida como a circunstância na qual necessidades básicas não são atendidas de forma adequada, sendo considerada, portanto, uma situação de privação. Ou seja, é entendido como pobre aquele indivíduo que não dispõe dos meios minimamente necessários para participar adequadamente da vida na sociedade em que está inserido.

Em relação à extrema pobreza, a taxa no país evoluiu de 2,7% para 6,3% no período pesquisado, o que representou aumento de 2,1 milhões para 5,2 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza - aquelas que vivem com R$ 160 mensais ou menos - nas grandes cidades brasileiras. Em Belém, o salto foi de 3,2% a 8,5%, ou seja, cerca de 197.780 pessoas vivem nesse cenário de miséria.

Os dados constam na 9ª edição do estudo elaborado em conjunto pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), divulgado na última segunda-feira (8). A base para o levantamento é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) versão anual, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Região Metropolitana de Belém é a 5ª com maior desigualdade social

No ranking de desigualdade social do estudo, a RMB está em 5º lugar entre as regiões metropolitanas brasileiras, ficando para atrás de Aracaju (SE), João Pessoa (PB), Natal (RN) e Salvador (BA), em ordem decrescente. O método para medir a diferença entre as classes usado pelo INCT foi o Coeficiente de Gini, que mede o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população, variando de zero a um.

O valor zero representa a situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda, e o valor um representa uma situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa detém toda a renda. Dessa forma, é possível comparar a desigualdade de renda entre dois momentos ou locais a partir desse coeficiente.

Entre os anos de 2014 e 2021, observou-se um elevado aumento da desigualdade de renda nas regiões. As exceções, isto é, onde houve redução da desigualdade, foi em Manaus (AM), Macapá (AP), Teresina (PI), Recife (PE), Maceió (AL), Porto Alegre (RS) e Distrito Federal (DF). Em 2021, as regiões que registraram os maiores coeficientes de Gini e, portanto, maior desigualdade de renda foram Aracaju (0,605), João Pessoa (0,589), Natal (0,588), Salvador (0,582) e Belém (0,582).

Análise da desigualdade social

O professor de relações internacionais Dr. Mário Tito, explica que o Brasil vem sofrendo com o aumento da pobreza nos últimos sete anos. “Quando um país registra o aumento de pessoas na pobreza, significa dizer que há uma parcela significativa da população que não possui renda suficiente para satisfazer as necessidades básicas. Logo, esse dado é muito preocupante porque significa dizer que a população brasileira vem sofrendo um processo de empobrecimento, anulando parte da ascensão social que aconteceu na primeira década e meia do século 21”, explicou.

Entre 2020 e 2021, anos críticos da pandemia da covid-19, mais de 3,8 milhões de brasileiros residentes nas metrópoles brasileiras entraram em situação de pobreza. Segundo o especialista, os efeitos da doença não podem ser a culpados pelo aumento considerável da pobreza dos brasileiros. “Quando falamos a respeito desse aumento da pobreza, a gente não pode recorrer apenas à pandemia. Óbvio que isso tem um efeito muito grande, porque de alguma forma, a atividade econômica diminuiu, mas a pandemia foi mundial e muitos países, não obstante à pandemia, cresceram um pouco menos, mas cresceram, ou então pelo menos não aumentaram o número de pobres na sua população”, pontua Mário.

Para ele,  a política econômica do atual governo é um dos principais motivos para o aumento da pobreza no país. “Hoje observamos que o Estado prioriza a agroexportação e privilegiando, portanto a produção de alimentos voltado para o consumo externo, esquecendo da regra básica de alimentar primeiro a população interna, a população do país, para depois vender para o excedente. Portanto, o aumento da exportação do agronegócio, se por um lado pode dar um superávit na balança comercial, mas esse superávit é exatamente eliminado na medida em que você não tem um recurso, um retorno disso em forma de salário, em forma de melhoria da qualidade de vida. Esse fator pode explicar tal derrocada social dos últimos sete anos”, diz.

Mário examina que para o país driblar a crise e a classe mais pobre voltar a ascender socialmente, é necessário que o Estado esteja mais presente com menos assistencialismo, mais políticas públicas e intervir em grandes crises globais, como a pandemia. “O Estado não pode estar fora da dinâmica econômica. Ficou claro durante a pandemia que o Estado, quando ausente , torna a vida econômica cada vez mais precária. Os países no mundo que tiveram o Estado atuante na linha de frente para atender demandas de vacina, isolamento social, mas vieram no aporte das famílias com auxílio para fazer com as pessoas ficassem em casa; quando o Estado tomou a frente, as economias se reergueram rapidamente. Naqueles países onde o Estado estava ausente ou deixou o sabor do mercado, se percebeu que a economia degringolou, que é o caso infelizmente do Brasil. Então, o Estado não pode ficar de fora da economia, o que não significa dizer que tudo tem que ser estatizado. Mas sim, precisa existir uma parceria entre Estado e sociedade civil no controle da lucratividade das agências de mercado, considera.

“Para superar a desigualdade social é preciso permitir que os mais pobres tenham acesso aos bens básicos, não necessariamente só comida. É como diz a música dos Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, ou seja, os bens básicos aqui são aqueles bens que garantem uma vida mais tranquila para essas classes. Tudo isso sem populismo, mas sim, com políticas públicas constantes que se tornem política de Estado e não só de governo. Por último, e aqui um pensamento pessoal, a política do Brasil deve sofrer uma reforma séria de modo a afetar muito mais as grandes fortunas do que o trabalhador que ganha cada vez mais menos e ao mesmo tempo é taxado de maneira muito mais forte”, finaliza.

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