CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

'Redinha de dormir' é usada para desenvolvimento de bebês na UTI Neonatal do Hospital das Clínicas

Técnica promove uma intervenção sensorial, que favorece o trabalho neuropsicomotor, a humanização e conforto do recém nascido

Emanuele Corrêa, especial para O Liberal

Os bebês nascidos no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (HC) e que precisam de internação em Unidades de Terapia Intensivas Neonatais (UTIN) - partos em que a gestante ou o bebê foi diagnosticado com cardiopatias - começam a utilizam o método "Hammock" ou da "Redinha de dormir"; uma intervenção sensorial, que favorece o desenvolvimento neuropsicomotor deste bebê, além de promover humanização e conforto ao recém nascido.

O Hospital tem dez leitos de UTI Neo e a ocupação varia diariamente. Entre janeiro e maio de 2020 69 internações na UTIN. No mesmo período de 2021, foram 73 internações. Não só de nascidos no Hospital, pois o HC é referência em cardiologia e oferece serviço de obstetrícia para mães e/ou bebês cardiopatas. Quando o bebê nasce em outro em Hospital e os exames indicam uma cardiopatia congênita, esse bebê é transferido para o Hospital de Clínicas para investigação e tratamento. Desde o domingo (4) os bebês que seguem na internação utilizam o método. O posicionamento em Hammock nasceu na Austrália, mas é predominantemente utilizado em UTIN no Norte e Nordeste brasileiro. O fisioterapeuta Paulo Andrade, junto com uma técnica de enfermagem, foram os responsáveis pela implantação da técnica no Hospital de Clínicas.

"No começo nós tínhamos muita dificuldade, porque os lençóis na UTI são pequenos. Pegamos na pediatria um lençol para improvisar a rede. Vendo essa dificuldade, a técnica de enfermagem, dona Graça, sugeriu que fizéssemos um desenho, tirássemos as medidas para ela costurar. Comprei o pano, desenhamos o projeto e ela costurou a rede inicial do Antônio e depois mais três... Já está sendo construído um projeto, para que o próprio hospital possa produzir sua redinha, crie um fluxograma na lavanderia, etc. Essa primeira redinha vamos presentear o bebê para que ele possa utilizar em casa.  A mãe já foi orientada sobre como instalar no berço do bebê, reutilizar e lavar", disse Andrade.

image O fisioterapeuta Paulo Andrade (na foto) e a técnica de enfermagem Graça Sena foram os responsáveis pela implantação da técnica no Hospital de Clínicas (Igor Mota/ O Liberal)

Antônio Neto, de um mês e seis dias de vida, foi o primeiro bebê a utilizar a redinha no seu acompanhamento na UTI neonatal, a mãe Ana Roberta Magalhães relata a evolução do filho,  desde a internação: "percebo a evolução dele. Eu me sinto mais segura, eu acho bom. Me explicaram os benefícios. Ajuda a manter o bebê como se estivesse no útero, ajuda no desenvolvimento dele", disse.

E ainda celebra a evolução positiva do quadro do filho, que resultou na alta médica nesta quarta-feira (06). "Hoje ele está saindo da UTI. A gente colocou ele na rede no domingo. Se tu soubesses como foi bom. Depois da mamada, ele dormiu a manhã toda, ficou mais calmo. O tratamento dele, os cuidados, os profissionais. Eu tenho muita gratidão, pela evolução e cuidado. Quando a gente chega aqui com medo e vê os cuidados, não só com meu filho, mas com todos, eu me sinto muito acolhida. Da hora que eu cheguei ao hospital, até a minha saída", pontuou Ana.

Com a internação, é comum que as puérperas passem a deixar seus filhos na UTI Neo, em algum momento, só com a equipe médica. A rede de dormir também traz conforto e segurança às mães: "Esse tipo de tratamento repassa para a mãe uma autoestima. Ela sai daqui não mais ansiosa, porque ela percebe que a equipe em conjunto, está cuidando do bebê na ausência dela, e que a rede dá conforto. Isso ajuda no aleitamento materno. Porque a mãe tira o leite na hora que ela não está presente na UTI", observou Suellen Laranjeiras, técnica de enfermagem.

Benefícios do método hammock e a continuidade do uso de redes em outras idades

O método hammock é descrito na literatura científica e vai muito além do método de humanização e aconchego do bebê. Consiste na técnica de estimulação vestibular - órgão do interior do ouvido, responsável pelo equilíbrio - e favorece o desenvolvimento neuropsicomotor. O fisioterapeuta Paulo Andrade explica que todo bebê quando ele nasce, segue uma hierarquia de desenvolvimento: primeiramente o tato, depois sistema gustativo, olfativo e por último o auditivo e o visual: "quando internado na UTI tem uma quebra nessa sequência. Tem muito estímulo visual, por causa da luminosidade e estímulo auditivo, por causa do barulho, e isso desorganiza e atrapalha o desenvolvimento neuropsicomotor a longo prazo. 70% dos bebês que internam na UTI neonatal acabam evoluindo e desenvolvendo transtornos, como: déficit de atenção e hiperatividade; Q.I mais baixo que o normal; problema na linguagem, na comunicação; no comportamento, problema emocional, é uma criança que pode desenvolver um déficit funcional, principalmente no equilíbrio. Se a gente fizer o acompanhamento, ao longo dos anos, podemos ver alguns desses comprometimentos", ponderou Paulo.

Além de interromper essa lógica de desenvolvimento, o recém nascido que ficaria no colo da mãe em uma situação fora da UTI, em decorrência dos monitoramentos necessários, precisa ficar na encubadora, ficando estático. Com a utilização da redinha, simula o movimento que seria feito pelo colo da mãe e que auxilia a estimulação sensoriomotora - estímulo vestibular: "quando o bebê nasce, ele é muito carregado no colo da mãe, além do estímulo tátil, ele vai ter esse estímulo vestibular, que a mãe faz os movimento no plano horizontal e vertical [ao embalar] e estimula esse órgão no interior do ouvido do bebê. Quando o bebê está internado na UTI, essa sequência é quebrada. Então, quando a gente coloca o bebê na rede, o movimento é simulado em ambos os planos e o sistema vestibular acaba sendo estimulado, coisa que se ele ficar só no berço, não vai ter esse estímulo", explicou o fisioterapeuta.

image Ana Roberta Magalhães ao lado do pequeno Antônio Neto, que tem um pouco mais de um mês de vida (Igor Mota/ O Liberal)

Uma publicação na Revista Brasileira de Terapia Intensiva recomenda a estimulação sensoriomotora em bebês recém nascidos (que são os nascidos até 28 dias) e lactentes na UTI (bebês até um ano de vida). "Esse documento foi publicado em maio deste ano, inclusive, classificando esse estímulo vestibular como uma estimulação multimodal, que vai associar vários sistemas sensoriais ao mesmo tempo; é um documento que embasa essa nossa atuação", reforça Andrade. "Faz parte de um conjunto de intervenções reconhecidas na literatura científica, baseado em evidências e que contribui para um desfecho positivo para o bebê... Após o uso da rede na UTI neonatal, as crianças podem continuar a usar em casa, normalmente, só irão mudar o tamanho da rede", complementa.

Antes da alta médica de Antônio, os pais Ana e Elinelson Silva contaram a equipe da Redação Integrada de O liberal sobre o revezamento que faziam e como foi importante ver o filho utilizando o método oferecido no HC, para sentirem-se seguros nos horários de ausência: "Ficamos das 9h às 17h fazendo um revezamento. Eu me sinto acolhido, desde quando chegamos, até hoje. Ficamos muito felizes. O sentimento é de alegria por estar tendo alta. É o que dizem aqui 'o bebê só sai daqui quando está bem'. E a rede com certeza ajudou na sua evolução. Chegando em casa já vou ajudar a montar a redinha no berço", concluiu o pai.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM