Carta da COP 30 propõe Belém como marco da adaptação às mudanças climáticas

A carta alerta que, sem adaptação, as mudanças climáticas ampliam desigualdades e deslocamentos

Thaline Silva*
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A presidência brasileira da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) divulgou, nesta quinta-feira (23), sua oitava carta à comunidade internacional, com foco na adaptação climática. O documento, assinado por André Aranha Corrêa do Lago, presidente designado da conferência, defende que a adaptação deve ser tratada como prioridade global, não apenas como complemento à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Segundo a carta, a humanidade entrou em uma nova fase da crise climática, marcada por consequências concretas. Nesse cenário, a adaptação — definida como a capacidade de responder e se ajustar aos impactos — passa a ser essencial para a sobrevivência e o desenvolvimento sustentável. 

"À medida que a era dos alertas dá lugar à era das consequências, a humanidade se depara com uma verdade profunda: a adaptação climática deixou de ser uma escolha que sucede a mitigação; ela é a primeira parte de nossa sobrevivência. Em cada momento decisivo de nossa evolução, nossa espécie conquistou seu lugar neste planeta por meio da adaptação – aprendendo, inovando e transformando as próprias condições da vida. A adaptação sempre exigiu a coragem de abandonar o que já não nos serve, preservando, ao mesmo tempo, aquilo que nos define", diz o documento.

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O documento alerta para um cenário crescente de exclusão, no qual populações ricas se protegem atrás de barreiras contra os efeitos do clima, enquanto comunidades vulneráveis permanecem expostas. A presidência da COP 30 cita dados recentes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que apontam que 1,1 bilhão de pessoas vivem em pobreza multidimensional aguda, mais da metade delas em regiões afetadas por múltiplos riscos climáticos.

A carta ressalta que, sem adaptação, as mudanças climáticas se tornam um “multiplicador da pobreza”, ampliando desigualdades e forçando deslocamentos. Também destaca que os impactos ambientais já comprometem a estabilidade fiscal de diversos países, com perdas anuais de até 5% do PIB em algumas regiões da África. O texto aponta ainda que, na América Latina, os desastres climáticos têm agravado desigualdades e pressionado economias locais.

A presidência brasileira defende que a COP 30, marcada para ocorrer em Belém, deve ser “a COP da adaptação”, com três prioridades principais: fortalecer o multilateralismo, aproximar a agenda climática do cotidiano das pessoas e acelerar a implementação de medidas de adaptação. O documento também cita o Objetivo Global de Adaptação (GGA) e os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) como instrumentos fundamentais para coordenar ações internacionais.

Um dos principais desafios, segundo o texto, é o subfinanciamento da adaptação. Apesar dos compromissos assumidos nos últimos anos, menos de um terço do total de recursos climáticos é destinado a esse eixo. O documento defende um aumento significativo dos investimentos, inclusive com o apoio de instituições financeiras internacionais e do setor privado, para reduzir riscos e atrair capital voltado a infraestrutura resiliente, segurança alimentar e gestão hídrica.

Entre as soluções propostas, estão mecanismos financeiros como títulos de resiliência, trocas de dívida por ações climáticas e seguros contra perdas e danos. A carta também enfatiza a importância da atuação de governos locais e estaduais, considerados a linha de frente da adaptação, por lidarem diretamente com os efeitos das crises climáticas sobre comunidades, serviços públicos e economias regionais.

Com a COP 30 ocorrendo no “epicentro da crise climática”, o texto conclui que Belém deve marcar um ponto de virada para alinhar o regime internacional do clima às necessidades reais das populações. A presidência reforça que a conferência deve ser lembrada como “a COP da implementação da adaptação”, pautada pela solidariedade e pela cooperação global.

“Em Belém, onde os rios encontram o mar, renovemos a aliança entre humanidade e natureza — transformando vulnerabilidade em solidariedade, cooperação em resiliência e adaptação em evolução”, conclui o documento.

*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia

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