Rede de articulação ambiental lança Agenda Climática para Belém
A agenda traz propostas de ação de diminuição e adaptação aos efeitos da crise climática na capital paraense

Formada por mais de 20 mulheres pesquisadoras de diferentes áreas, a Jandyras, rede de articuladoras ambientais, elaborou e lançou a Agenda Climática para Belém, um compilado de propostas de ação para diminuição e adaptação aos efeitos da crise climática em cinco diferentes áreas, com objetivo de impulsionar a construção de políticas climáticas na capital paraense. Desde outubro a agenda vem sendo apresentada aos vereadores da Câmara Municipal de Belém.
A Agenda Climática para Belém apresenta questões relacionadas a cidade, reunindo propostas efetivas e palpáveis a prefeitura e órgãos públicos, com o enfoque de cinco áreas: infância e clima, direito à água e saneamento, direito à cidade com enfoque em habitação, justiça ambiental e racial, e mobilidade urbana.
Para a elaboração da agenda foram utilizados dados e literaturas que deram suporte a construção de cada proposta, pensando em atender as necessidades da população belenense. Um deles foi do projeto Amazônia Urbana Legal, que analisa mudanças climáticas em socioespaços. O levantamento aponta que, em Belém existem 101 aglomerados subnormais, dos residentes, 48,14% são homens e 51,9% são mulheres.
“Acho que o primeiro desafio foi conseguir, em um curto espaço de tempo, definir quais seriam nossas principais pautas para falar de um assunto tão abrangente. E depois foi de unir esforços para pesquisar dados confiáveis que embasassem as propostas que queríamos ver na nossa cidade”, pontua a pesquisadora Iah Araújo, membro da Rede Jandyras.
Com o aumento do nível do mar, temperatura, e um maior volume de chuva, principalmente nesse época do ano, cresce também a preocupação com um problema crônico na cidade: os alagamentos. A questão também é abordada pela Agenda Climática para Belém, apontando que o problema afeta sobretudo a população que se encontra em situação de vulnerabilidade devido à falta de infraestrutura adequada. No Norte, apenas 57,05% da população é abastecida com água potável, contra 91,03% do sudeste, segundo balanço do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS/2019).
“A crise climática está na porta há algum tempo e às vezes a gente acaba escutando sobre essa questão muito longe daqui, mas, na verdade, elas já estão bem perto e só estão se agravando, como aconteceu em 2020, uma enchente muito forte que paralisou a cidade inteira, sendo uma das maiores já registradas. Então, a Agenda Climática vem justamento para discutirmos e encontrarmos saídas para esses problemas que acabam sendo normalizados como os canais abertos, a falta de parques, de escolas integrais”, friza.
Na avaliação de Iah Araújo, o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Jandyras foi bem recebido por parlamentares e pela população. “Já tivemos feedbacks de ativistas climáticos de fora de Belém dizendo que a nossa Agenda Climática é uma referência na discussão de pauta na amazônia paraense. Essa agenda tem a proposta de trazer qualidade de vida para nossa cidade”, acrescenta.
É possível a agenda na íntegra através do site: https://ameotucunduba.org/jandyras/.
Conheça algumas das pautas e propostas da Agenda Climática para Belém:
Justiça ambiental e racial
Garantia de direitos das populações negras, comunidades quilombolas, povos indígenas, comunidades ribeirinhas, dos imigrantes, como os indígenas da etnia Warao da Venezuela que chegaram recentemente na cidade, e das mulheres
Proposta:
I- Realizar ciclos de debates e oficinas sobre crise climática e suas implicações;
II- Construir o Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas;
III- Efetivar mecanismos de mobilização a partir dos órgãos dos Poderes Legislativos e Executivos municipais.
Infância e clima
Articulação do ambiente familiar, a educação infantil e a comunidade para cuidar da infância e da fruição da vida.
Propostas:
I- Criação do Plano Municipal pela Primeira Infância;
II- Implantar um programa de educação integral;
III- Elaborar um programa de formação dos atores envolvidos na educação integral;
IV- Ampliar as áreas verdes de Belém.
Mobilidade urbana
Discutir uma mobilidade urbana mais sustentável, almejando deslocamentos com menores gastos de energia e impactos sobre o meio ambiente, priorizando caminhadas e uso de bicicletas.
Propostas:
I- Garantir acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade;
II- Implementar medidas para a adaptação das calçadas aos padrões de acessibilidade;
III - Implementar efetivamente o projeto de uma linha de transporte hidroviário;
IV - Implementar, no mínimo, uma linha de transporte público movido a energia sustentável;
V - Elaborar projeto de revisão das estruturas das paradas de ônibus de Belém.
Direito à água e ao saneamento
O acesso à água potável é promovido por meio do saneamento básico, que incluem o abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, bem como a drenagem e o manejo das águas pluviais urbanas
Propostas:
I- Incentivar a criação ou o fortalecimento de áreas verdes;
II- Ampliar o abastecimento de água e tratamento de esgoto;
III- Implantar mecanismo de coleta de água da chuva;
IV- Instalar central de compostagem
Direito à cidade com enfoque em habitação social
Pensar em políticas de habitação social participativas, envolvendo a população em questão nos processos de tomada de decisão, além de compreender a relação entre os tipos de infraestrutura, os materiais de construção utilizados, formas de habitação locais e as características climáticas de Belém.
Proposta:
I - Reativar o Conselho Municipal de Habitação e criar um Fundo Municipal de Habitação;
II- Garantir a escuta e a consideração do posicionamento das pessoas afetadas por projetos;
III - Desenvolver um programa municipal para novas habitações de interesse social que utilize arquitetura bioclimática;
IV - Criar um escritório de Assistência Técnica para Habitações de Interesse Social.
Fonte: Agenda Climática para Belém (Jandyras)
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