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Protagonismo feminino: pesquisadoras se destacam em estudos de combate a doenças na Amazônia

A conscientização sobre a importância da diversidade na pesquisa científica contribui para o protagonismo feminino no âmbito

Maiza Santos

Diversas mulheres pesquisadoras, que vivem na região Amazônica, têm se destacado e contribuído para o tratamento e cura de várias doenças. Superando estereótipos, barreiras culturais e sociais, as profissionais incentivam a maior atuação no gênero na área e garantem avanços em centenas de estudos. Em Belém, algumas dessas milhares de mulheres relataram como é o trabalho realizado e comentaram sobre a experiência de estar no âmbito da ciência.

Nesta semana foi celebrado o Dia da Amazônia. A data traz à tona a importância do protagonismo feminino na pesquisa científica, que tem crescido a cada ano. A conscientização sobre a importância da diversidade na área, aliada aos avanços na educação e às políticas públicas que visam promover a igualdade de gênero, são alguns dos fatores que têm contribuído para o aumento no número de mulheres atuando neste campo. Para a professora Marta Chagas, coordenadora do programa ‘Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) no Pará, as mulheres têm tomado iniciativa em grandes projetos.

“Estou à frente do INCT aqui no Estado, cuja sede é a Universidade Federal do Pará. Atuo como pesquisadora desde 2002 e percebo que a pesquisa sempre foi uma área de dominância masculina. Mas esse perfil tem mudado nos últimos anos, por estímulo próprio e também devido à ciência e tecnologia. O próprio INCT é exemplo disso. Antes, era coordenado por uma maioria de homens. Mas as mulheres, com disciplina, organização e liderança muito forte, têm alcançado isso. Inclusive, aqui na Amazônia. Hoje eu vejo várias mulheres muito fortes aqui, que são grandes líderes de pesquisa e isso é reconhecido nos prêmios que elas conquistam”, ressalta Marta Chagas.

image Professora Marta, ao centro, e estudantes e pesquisadores ao redor, em um laboratório. (Foto: Thiago Gomes / O Liberal)

Dentro do INCT, a pesquisadora Marta é a responsável pelas atividades antibacterianas. Tudo iniciou durante a pandemia, quando vários casos de infecções e microorganismo resistente, principalmente bactérias, levaram ao grande número de mortes. Nos estudos e testes, são utilizados óleos extraídos do tucumã, açaí, buriti e outras frutas. Os produtos são gerados a partir de um processo termoquímico.

“Essa rede de pesquisadores que faço parte trabalha com a busca de um fármaco (medicamento) para esses agentes resistentes. Fazemos testes em modelos animais, modelo de infecção pulmonar, modelo de sepse, de infecções causadas por bactérias. Nós usamos produtos da Amazônia que possam ter atividade frente a agentes resistentes como bactérias, fungos, vírus e parasitas. Tratamos a sepse, modelos de úlcera de pressão que geralmente surgem em pacientes diabéticos, etc. Hoje, uma das nossas linhas está trabalhando com membranas curativas. Mas há várias pesquisas sendo feitas”, garante a pesquisadora.

image Professora Marta e alunos realizando experimento em laboratório. (Foto: Thiago Gomes / O Liberal)

A professora explica que estar em uma posição de liderança faz com que as mulheres pesquisadoras lidem com muitas cobranças. Sendo assim, é necessário saber lidar com as adversidades e ter paciência para superá-las. 

“Realmente, às vezes pode ocorrer de ter uma certa pressão. Mas eu acho que é uma posição que nós mulheres podemos e devemos assumir. Não é fácil. Até porque tem que lidar com pesquisadores do Brasil todo. A maioria dos que eu lido são homens. Então, nem sempre o homem quer ser, de uma certa forma, coordenado por uma mulher. Mas eu não tenho muitos problemas com isso. Normalmente, lido com pesquisadores jovens, com a cabeça mais aberta. São pesquisadores que eu não vejo esse grau de machismo. Eles querem cooperar e vem com uma certa simpatia, empatia. Mas sei que nem sempre é assim para todas”, declara a pesquisadora Marta Chagas.

Empenho nas pesquisas

Outras duas pesquisadoras que também atuam no combate de doenças são Sabrina Araújo e Yngrid Naiara Ramos. Elas integram uma das equipes do Núcleo de Pesquisa em Oncologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto, que realiza estudos para avaliar e combater o câncer. 

“Na prática, nós avaliamos e fazemos testes com algumas substâncias para entender como ela reage e pode ser usada para eliminar as células cancerígenas. Primeiramente, em outro laboratório, os pesquisadores avaliam componentes naturais presentes em várias plantas da Amazônia. Após o ativo natural ser separado, ele é enviado para nós. Assim, a gente tem um pouco de noção do que tem ali na substância estudada. Depois fazemos os testes que simulam o objetivo que queremos. Pra ver como aquela substância vai se portar no câncer. Estudamos várias especificidades da substância, para ter uma visão completa de como ela pode ser aplicada”, explica Sabrina Araújo, que é formanda em processo de finalização do Trabalho de Conclusão de Curso em Biotecnologia.  

image Pesquisadora em laboratório. (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Esse processo de testagem inicial ainda passa por várias outras etapas, e pode chegar a ser avaliada por meio de testes práticos. Todas as descobertas são registradas para uso em futuras pesquisas. “Os estudos ficam disponíveis para outros pesquisadores do próprio Barros Barreto e outras instituições. Além disso, também podem ser publicadas em revistas ou artigos científicos. Às vezes vira um Trabalho de Conclusão de Curso. Nós costumamos procurar na literatura estudos para basear a nossa pesquisa e com esse processo que fazemos no laboratório, a nossa pesquisa vira literatura para outras pessoas conseguirem usar de base”, afirma Sabrina Araújo.

Oportunidades

Ter o contato mais próximo com a pesquisa durante a graduação, segundo a biomédica Yngrid Naiara Ramos, faz a diferença para as universitárias que buscam seguir na área científica. É a chance de ter oportunidades futuras para a pós-graduação, portas de emprego, trabalhos científicos dentro da área da pesquisa, acadêmica ou mesmo a indústria. 

“Esse estímulo é de extrema importância para os universitários. Primeiramente por conta de ter o contato com pesquisadores mais experientes e com projetos de pesquisa. Além disso, pela inserção dessas meninas e mulheres dentro de projetos e estudos sérios e completos. Também há a aquisição de novas habilidades, porque uma vez que você está inserido dentro da pesquisa, laboratórios e grupos de pesquisa, é possível adquirir novas habilidades técnicas e científicas também. Elas conhecem a área, as técnicas e como chegar num resultado”, diz a pesquisadora.

Yngrid ainda ressalta o leque de oportunidades encontradas na região Amazônica. “O que mudou na minha percepção foi muito a questão do que podemos fazer. Temos uma ideia muito intrincada de que coisas grandes, relacionadas à pesquisa e técnicas avançadas, só vemos fora do Brasil. Mas quando eu tive esse contato mais próximo com a área, pude fazer muita coisa aqui mesmo, na nossa região amazônica. A Amazônia é um berço de possibilidades enormes. Somos capazes de fazer ciência de ponta. Temos que perceber as grandes chances de avanço na ciência dentro da nossa região”, finaliza a biomédica.

 

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