Projeto 'Peludinhos da UFPA' perdeu doações por conta da pandemia e precisa de ajuda

Iniciativa atende mais de 200 animais que nasceram ou foram deixados na instituição

Tainá Cavalcante

"Eu posso dizer que eles são animais sem tutores, mas eles não são abandonados". É assim que a bioantropóloga Elizabeth Pires, de 54 anos, começa a contar a história do projeto "Peludinhos da UFPA", iniciativa sem fins lucrativos que tem como intuito auxiliar cachorros e gatos que moram na Universidade Federal do Pará (UFPA), seja por terem nascido lá ou por terem sido deixados no local.

O projeto surgiu há 20 anos e foi idealizado por Suely Palheta, uma servidora pública da instituição. À época, se chamava projeto "Vida digna" e era restrito à alimentação dos pets. Há cinco anos, Elizabete passou a fazer parte da iniciativa, que passou a se chamar "Peludinhos da UFPA" e também ampliou sua atuação. Hoje, ela é a coordenadora do projeto, que já atende mais de 200 animais, entre cães e gatos.

"A Suely gosta muito de animais e começou a alimentá-los. Quando eu entrei, o olhar foi além da alimentação. Há cerca de cinco anos, passamos também a olhar à saúde pública e a relacionar a interação entre os animais e a comunidade acadêmica dentro da instituição, para que fosse uma relação harmônica, sem problema, sem prejuízos para nenhum dos lados", explica, ao salientar que quando fala disso, se refere às "doenças que são transmitidas por animais". "Nós não apenas cuidamos de alimentação, mas de saúde. Castramos, na medida do possível vermifugamos e também vacinamos os animais. Nossa intenção é dar dignidade a eles, para que eles tenham uma vida saudável e possam interagir com os humanos", completa.

No início, a ração era distribuída apenas no portão 12 da UFPA, mas o crescimento do projeto foi tão grande que, atualmente, a alimentação é distribuída entre os portões um e seis. É importante ressaltar, entretanto, que os cuidados são oferecidos apenas aos animais da UFPA, não havendo auxílio para pets externos.

image Peludinhos da UFPA atende 255 animais, na maioria cães (Thiago Gomes / O Liberal)

"Nós temos animais que vivem soltos e os que estão dentro de um abrigo dentro da UFPA, mas esse abrigo não recebe animais, ele é apenas um local que a gente cuida de animais da UFPA que têm deficiência física, sequelas neurológicas, filhotes, idosos, ou seja, animais que têm uma condição especial", explica Elizabete, ao reforçar que a ideia do projeto não é ter mais animais, mas, ao contrário disso, "fazer controle populacional e diminuir cada vez mais o número de animais".

Hoje, o Peludinhos da UFPA atende 255 animais, sendo a maioria cães e alguns gatos. O projeto depende integralmente de doações para se sustentar. "Nós vivemos da caridade das pessoas e também de venda de roupas usadas. Muitas pessoas trazem roupas e fazemos bazares. A gente não tem nem condição de ter material nosso. A demanda não só na saúde, como na alimentação, é muito grande. Os gastos são muito altos, então a gente conta com a generosidade das pessoas, com o amor delas à causa animal e é assim que a gente sobrevive", aponta a coordenadora, ao afirmar que "tem temporada que estamos bem e tem outras que a gente fica com muita dificuldade". "Quando eles adoecem, que a gente precisa de serviços médico veterinários, aí complica bastante. A gente faz campanha na internet, faz vaquinha, vende alguma coisa, faz rifa, leilão e é assim que a gente sobrevive", completa.

Pandemia trouxe maiores dificuldade para o projeto

A chegada da pandemia, entretanto, dificultou ainda mais o caminhar do projeto. Além da carência que os animais têm sentido, já que são acostumados com grande circulação de estudantes e professores na UFPA e, repentinamente, todos deixaram de ir em virtude do novo coronavírus, os voluntários do projeto também têm passado dificuldades para conseguir doações. Isso porque, por conta da pandemia, alguns dos doadores fixos mensais, que auxiliam com a ração, deixaram de doar.  Agora, além das dificuldades estruturais do abrigo, que tem carências, ter dinheiro para sustentar a alimentação e a saúde dos 255 animais tem sido um desafio para o grupo.

"Mudou tudo com a pandemia. A frequência de pessoas dentro da universidade, que tem uma questão emocional para eles, da convivência com humanos. Além disso, muitos acabavam se alimentando de comida que eles davam, apesar da gente fazer distribuição de ração em vários pontos do campus, eles tinham essa convivência e isso acabou gerando que alguns animais até saíssem do campus", conta, acrescentando que "em relação às doações, pela situação que acaba atingindo a todos, nós perdemos muito". "A ração que a gente recebia de doação mensal foi suspensa por motivos relacionados à pandemia e aí a gente está "catando", mas com esperança de que vamos conseguir. Até agora eles não ficaram sem alimentos, mas o futuro é incerto".

Apesar da carência das doações, Elizabete faz questão de ressaltar que uma atitude positiva surgiu em meio ao caos: pessoas se voluntariaram para revezar a ida até a universidade para deixar as rações em cada ponto para os animais.

"O que tivemos de positivo foi a generosidade das pessoas e a corrente do bem que se formou em que um grupo de voluntários, através da solicitação feita na página, se manifestou para fazer uma escala de distribuição de alimentos para os animais. Obedecendo todas as normas da Organização Mundial da Saúde, diariamente nós temos pessoas que vão distribuir ração nos pontos e fazer esse monitoramento relacionado à saúde", afirma a coordenadora, ao agradecer pelo empenho dos envolvidos. "A gente percebe o quanto as pessoas têm comprometimento com a causa".

Doações

As principais necessidades do projeto são, no momento, ração, medicamentos e produtos de limpeza. A ração pode ser tanto para filhote, como para adultos e idosos. "Os idosos só podem comer ração pequena, porque muitos não têm nem dentes, mas quando não tem esse tipo, a gente tritura, molha, dá-se um jeito", comenta Elizabete. Em relação aos remédios, há necessidade de vermifugos, carrapaticidas, remédios para anemia, contra larvas e outros.

Já sobre material de limpeza, o projeto precisa muito de bacias, sabão em pó, água sanitária, saco de lixo de 200 litros, vassoura e outros. "Tudo é muito bem vindo", garante a coordenadora, ao explicar que o Peludinhos da UFPA também recebe doações de recursos financeiros.

Para quem quiser doar para o projeto, basta entrar em contato pelo perfil do Instagram (@projetopeludinhosufpa), Facebook (www.facebook.com/peludinhosufpa) ou telefone ((91) 99175-3009). Há um posto de coleta fixo também no edifício Rio de La Plata (avenida Conselheiro Furtado, entre Generalíssimo e Quintino, número 1574, apartamento 2002).

Aos que têm interesse em se tornar voluntários, o contato pode ser feito pelos mesmos canais citados anteriormente. Elizabete explica que, em função da pandemia, apenas voluntários já cadastrados estão podendo entrar na UFPA, "mas isso vai passar", diz ela, ao ressaltar que o projeto precisa de pessoas para ajudar no banho, para ajudar a dar carinho, "porque a gente fala muito da questão relacionada à alimentação, a remédios, mas são animais que têm também uma situação emocional e que eles gostam de receber atenção, carinho, gostam de ser visitados". "Para docilizar o animal, a convivência com humanos é muito importante e ali a gente pode dizer que é um local de uma terapia fantástica nessa convivência em que eles não apenas recebem, mas doam muito amor", conclui.

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