Projeto incentiva uso de bicicletas na periferia de Belém

Iniciativa quer incentivar autonomia das mulheres e melhorias na mobilidade urbana

Eduardo Laviano
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Andar de bicicleta por Belém é um desafio. Ruth Costa enfrenta ela desde que se tornou mãe e precisou deixar os filhos na escola todo dia.

A bicicleta foi a resposta para um sistema de mobilidade urbana que parou no tempo.

"Na época, morando no Guamá eu tinha dificuldade de distribuir os três filhos em cada escola. Não tinha ônibus. O jeito era pegar eles e ir deixando a caminho do trabalho. 20 anos se passaram e eu não parei mais", lembra ela, que aprendeu a pedalar já adulta.

Ruth agora é responsável pelo projeto Pedala, Mana, que busca desenvolver autonomia para as mulheres por meio da bicicleta.

Ela agora encabeça um novo projeto, o #APerifaNaPista, que irá realizar duas programações especiais nos dia 7 e 20 de fevereiro no bairro Águas Lindas, onde ela mora atualmente.

O primeiro dia de ações já começa no dia 7 às 8h, na Escola Municipal Paque Bolonha, no conjunto Verdejante, bairro de Águas Lindas. Todo o projeto é gratuito.

"A ideia é falar da importância da bicicleta tanto para a saúde quanto para o meio ambiente. Planejamos palestras e oficinas mecânicas, além de uma ação na rua, com distribuição de kits de segurança. Entro em contato com essas mulheres de forma bem orgânica, na rua mesmo. Hoje acordei às 5h da manhã aqui e na frente da praça já convidei umas vizinhas que estão sempre na praça", conta.

Ela diz que não sabia nada sobre mobilidade urbana e direito à cidade e também não se interessava por pautas relacionadas à saúde e transporte ativo. Tudo mudou em 2015.

"Pedalava por falta de opção, pois precisava fazer meus corres de bicicleta. Uns cinco anos atrás conheci a Rede Bike Anjo. Aí comecei a olhar tudo com outros olhos e me tornei cicloativista", afirma.

No mesmo ano em que Ruth despertou para os percalços e benefícios da vida sobre duas rodas, a Pesquisa Nacional do Perfil do Ciclista Brasileiro, encomendada pela Parceria pela Mobilidade por Bicicleta, constatou que 73% dos ciclistas brasileiros utilizam bikes em pelo menos cinco dos sete dias da semana.

42,9% dos entrevistados disseram que optaram pelas magrelas por serem um transporte "mais prático e rápido", o que expõe o fracassa das políticas de transporte coletivo no Brasil.

Para 19,6%, o motivo para pedalar é o custo, que os entrevistados consideram mais barato.

image Ruth hoje em dia trabalha para encorajar mulheres a aderirem o uso de bicicletas no cotidiano (Igor Mota/O Liberal)

Na opinião de Ruth, os ciclistas de todas as classes sociais precisam se sentir seguros para pedalar, mas isso exige uma reestruturação do desenho urbano das cidades, com um lápis forte desenhando ciclofaixas Belém afora. 

"Precisamos de uma infraestrutura adequada, mas eu particularmente penso que além disso o respeito dos motoristas é primordial. Eles precisam ser cobrados, pois muitos condutores cometem infrações e não tem ninguém para aumentar a fiscalização", lamenta.

Quando saiu do Guamá para Águas Lindas, na divisa com Ananindeua, não faltou gente para desencorajar a ciclista.

Ela inclusive parou de pedalar a BR-316 por medo, mas logo depois retornou ao hábito.

"Eu ouvi muito esse discurso quando me mudei. Diziam que era perigoso, sem acostamento, sem infraestrutura. Dá um medo muito grande e as pessoas amedrontam. Quando vim morar aqui em 2009, parei de usar a bicicleta. Voltei a usar em 2015 porque precisava e fui criando coragem", recorda Ruth.

"Precisar" andar de bicicleta é a realidade de muitos brasileiros. 20,2% dos entrevistados da pesquisa tinham renda de até um salário mínimo em 2015. 30% ganhavam até dois salário mínimos por mês. 

A pesquisa, a mais abrangente de caráter nacional sobre o perfil dos ciclistas brasileiros, também identificou que 88% dos usuários utilizam o meio para ir ao trabalho e 20% já estiveram envolvidos em acidentes de trânsito. 

Durante a entrevista, Ruth recebeu uma mensagem avisando que uma colega dela havia sido atropelada e encaminhada para o hospital enquanto pedalava.

Segundo ela, em 2017, um trecho utilizado no bairro pelos ciclistas virou mais uma pista para carros, entre tantas outras que já existem. 

"Alegaram que o uso de carros era mais intenso que o uso de bicicleta. Claro, como sempre. A verdade é que somos invisibilizados. Mas estamos trabalhando para cada vez mais ciclistas serem conscientes dos próprios direitos, independente de onde moram", diz.

"Mas e quem tem medo?". Ela responde categoricamente: "vai com medo mesmo".

Ruth recomenda a Rede Bike Anjo para quem não sabe pedalar, já que o projeto oferece uma vez por mês uma atividade coletiva que ensina novos ciclistas a enfrentarem as ruas da capital paraense. 

"E o Pedala Mana também ajuda e acompanha no trajeto até o trabalho nesse processo inicial. Tem que ir com medo mesmo, pois o medo só vai passar assim. Não adianta ficar em casa pensando que vai perder o medo", aconselha.

Belém tem atualmente uma malha cicloviária com 111,02 km dedicados aos ciclistas. A Superintedência de Mobilidade Urbana estuda a possibilidade criação de faixas emergenciais por conta da pandemia, como ocorreu em outras cidades.

A discussão está sendo feita com grupos de ciclomobilidade e outros órgãos.

 A Prefeitura de Belém pretende, ainda no primeiro semestres de 2021, iniciar a política de ofertas de microcrédito do Fundo Ver-o-Sol, com várias linhas de financiamento, onde poderá ser incluído o subdídio para a aquisição da bicicleta, além de estar dialogando com a iniciativa privada para a retomada do projeto de compartihamento de bicicletas e implementação de paraciclos.

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