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Professor da UFPA sugere medidas estruturais para acabar alagamentos

Universidade defende investimento em educação ambiental

Dilson Pimentel
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Chuva forte é sinônimo de transtornos para os moradores de Belém, sobretudo para aqueles que residem em áreas que sempre alagam. Nessas horas, a capital sempre vai ao fundo. Para solucionar esse problema, o professor Rodrigo Rodrigues, da Faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental (FAESA), da Universidade Federal do Pará, defende a adoção de uma série de medidas. "A gente precisa de planejamento, legislação, plano de saneamento para conseguir realmente tomar medidas a longo prazo, mas medidas efetivas. A curto prazo, é tudo paliativo", disse.

Ao falar dos alagamentos, ele analisa as características ambientais, climatológicas e de topografia. "A gente vive em uma região caracterizada por chuvas intensas, fortes. Automaticamente, a gente entende que a cidade deve estar preparada para esse tipo de chuva. Em geral, são chuvas rápidas, porém fortes", disse.

"Outra caraterística padrão da nossa cidade é a topografia, que é muito plana. A gente tem cotas aqui próximas de 4 metros em relação ao nível do mar. E tem as marés, que chegam por volta disso (4 metros). A gente associa maré, chuva forte, cotas baixas e terrenos planos e, automaticamente, encontra, aí, possíveis pontos de alagamento na cidade quando todas essas características ambientais e de topografia entram em conflito", explicou.

O professor Rodrigo Rodrigues também citou o processo de desenvolvimento urbanístico da Belém. Há 400 anos, quando a cidade foi fundada, tudo era vegetação e igarapé. "E, no decorrer do tempo, a cidade foi se desenvolvendo de maneira desordenada. Esse terreno que, antes, permitia que a água da chuva infiltrasse, agora ele começa a fazer com que a água da chuva passe a escoar com mais velocidade e maior volume. Então, quando a gente potencializa esse escoamento e a infraestrutura não acompanha esse crescimento populacional, a gente cria também mais um ponto aí favorável aos alagamentos", afirmou.

image A tipografia plana favorece Belém, mas a infraestrutura para o escoamento ainda é precária (Ivan Duarte / O Liberal)

Mas isso significa que Belém está fadada a sempre ter esses problemas quando chove forte? Diz o professor: "Em um contexto histórico, tudo indica que é um processo natural por conta da falta de planejamento e de infraestrutura. É uma característica da cidade. Sofremos com as marés. Temos uma topografia plana, cotas baixas, chuvas fortes. Então, se não houver medidas além das convencionais, que são os projetos de micro e macrodrenagem convencionais, enquanto a gente estiver adotando o que é convencional, provavelmente a gente vai estar sempre trabalhando com medidas paliativas. Hoje, existem novas tecnologias em termos de técnicas compensatórias, medidas estruturais, que poderiam ser adotadas para tentar minimizar", afirmou.

Medidas paliativas não resolvem problema, diz professor

Ele acrescentou: "O que a gente entende é que, enquanto não for feito um planejamento com relação aos planos de saneamento básico, atualização dos planos diretores, a gente não vai conseguir sair desse ponto de medidas paliativas".

Em sua opinião, a gestão pública precisa fazer um link direto com as universidades, com a área técnica, e planejar tudo. "Zonear a cidade, compreender como está a distribuição urbana da cidade. Compreender o que é que hoje ainda pode ser urbanizado efetivamente, compreender como foi feita a urbanização de alguns pontos da cidade. E, de repente, tentar corrigir isso. Muito concreto, muito asfalto... Será que isso é realmente interessante para uma cidade como a nossa?".

Mas o professor ressalvou que esses problemas não são exclusivos apenas de Belém. "Entender que não é um problema só da cidade de Belém. Temos olhado aí Minas Gerais, passando por problemas de enxurrada, São Paulo, com problemas de alagamentos. É um problema inerente às grandes cidades. E a gente não escapa disso. Acho que, hoje, o foco seria planejar", afirmou.

image O professor citou o fato de que, em Belém, estão surgindo novos pontos críticos de alagamento, além daqueles que são históricos (Ivan Duarte / O Liberal)

"Pautar os planos de saneamento básico, atualizar os planos diretores, desenvolver todo um planejamento urbanístico por zonas na cidade, para transformar isso na possibilidade de não haver mais somente medidas paliativas, da gente conseguir fazer com que isso fuja de um plano de governo. Não é só um governo, mas sim um plano de gestão pública, um plano de Estado, em que vários governos possam vir e trabalhar por um fim comum, quer seria o de tentar resolver esses problemas de alagamento. Não é impossível resolver. Porém medidas paliativas não vão conseguir consertar as coisas assim", sugeriu.

O professor também mencionou o fato de que, em Belém, há áreas que, historicamente, são pontos críticos de alagamento e, agora, estão surgindo novos pontos. "Imagine os problemas de saneamento da nossa cidade. A cidade é carente de saneamento e a gente não pensa só em drenagem, mas esgotamento sanitário, gestão de resíduos sólidos. E, se a gente for analisar de maneira direta, os principais pontos de alagamentos normalmente estão associados aos canais. Soma-se a isso, também, o desordenamento urbano, áreas onde não há uma configuração urbana num padrão qualitativo. Automaticamente, a gente acaba criando pontos com maior probabilidade da ocorrência de alagamento. É, portanto, uma soma de características físicas e climatológicas.

Poder público deve promover educação ambiental

Ele observou que cerca de 40% do território de Belém fica em áreas consideradas alagáveis. No entanto, não ocorrem, em Belém, os fatos registrados em Minas Gerais e São Paulo. Isso se deve à topografia da capital paraense. "A nossa região é plana. Isso é favorável pra gente. Em São Paulo e Belo Horizonte, você encontra áreas onde o relevo é mais acentuado. Quando tem declividade na superfície do solo, essa declividade potencializa a velocidade da água que escoa. E acaba gerando as enxurradas", explicou.

O professor Rodrigo Rodrigues disse que, do ponto de vista técnico, um projeto de drenagem é passível a falhas. "Ele tem que ser dimensionado com base nas características das chuvas mais frequentes que ocorrem na cidade. Belém tem um padrão de chuva frequentes e o projeto de drenagem tem que ser dimensionado para isso. O que ocorre é que, na hidrologia, os eventos extremos de chuva são incertos. Para essas chuvas onde a gente tem aí uma maior duração e intensidade, é normal que o projeto de drenagem não consiga conter ou escoar devidamente".

Ele observou que a cidade não vai parar de crescer e as chuvas não vão ficar mais fracas. "O ideal seria realmente planejar não só medidas paliativas, mas medidas estruturais e não estruturais com relação à educação ambiental. A população é coadjuvante no processo, mas ela pode atuar de forma mais efetiva. É papel do poder público promover essa educação ambiental em relação a drenagem, aos resíduos. Outro ponto seria realmente gerir bem a questão das águas urbanas. Para isso, a gente precisa de planejamento, legislação, plano de saneamento para conseguir realmente tomar medidas a longo prazo, mas efetivas. A curto prazo, é tudo paliativo", afirmou. 

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