Praia do Cruzeiro sofre com abandono e falta de apoio: 'A gente parece esquecido'
Frequentadores e trabalhadores da orla de Icoaraci denunciam acúmulo de lixo, ausência de segurança e a falta de atividades culturais e esportivas no local
A Praia do Cruzeiro, localizada em Icoaraci, um dos distritos mais tradicionais de Belém, enfrenta um cenário de abandono. Frequentadores e trabalhadores denunciam a falta de infraestrutura, segurança, limpeza e apoio do poder público, especialmente durante o período de férias escolares, quando a região historicamente recebia grande fluxo de visitantes.
Raimundo do Couto, de 67 anos, trabalha como vendedor ambulante no local há mais de 30 anos. Ele afirma nunca ter visto a praia tão esquecida. “O Cruzeiro está muito feio. Essa é a época das férias, quando devia estar cheio. Mas olha só a sujeira. A praia precisa de uma limpeza pra brilhar aos olhos do povo”, reclama.
Além da sujeira, o abandono reflete também na falta de atrações. Segundo ele, em anos anteriores a comunidade podia contar com eventos esportivos e culturais que movimentavam a orla. “Tinha luta de boxe, campeonato de vôlei e futebol. Hoje não tem mais nada. O povo vem de Belém e de outros lugares e só encontra mato e abandono”, lamenta.
A responsabilidade pela manutenção do espaço, segundo os barraqueiros, tem recaído inteiramente sobre os próprios comerciantes. Sérgio Nazareno Correia Campos, 61 anos, que trabalha na praia desde 1997, afirma que a prefeitura deixou de prestar os serviços mais básicos.
“A gente é quem limpa isso aqui. Junta o lixo, tira e coloca no lugar, mas os animais espalham tudo de novo. A prefeitura nem vem buscar. Falta até areia na praia, que está sendo levada pela maré e não é reposta”, denuncia. Segundo ele, até barracas estão sendo fechadas por falta de movimento e de apoio.
Sérgio também aponta a falta de segurança como um problema grave. “Num domingo lotado não tem policiamento. A gente lida com turista, com gente de fora, e não tem estrutura nenhuma. É cobrança de imposto, mas apoio que é bom, nada.”
Jully Gomes, de 42 anos, frequenta o Cruzeiro todos os anos com a família, mas diz que em 2025 a realidade decepcionou. “A limpeza está ruim, está cheio de mato. No ano passado, na quinta-feira já estava cheio. Sempre teve palco, desfile, vôlei e futebol para as crianças. Agora está tudo parado”, relata. “Essa é a praia mais próxima que temos de Icoaraci. Não precisa enfrentar trânsito como pra ir pro Mosqueiro. Mas também é a mais abandonada”, critica.
Os barraqueiros também relatam sentir-se ignorados pela própria definição geográfica da orla de Icoaraci. “Parece que a orla termina ali na concha acústica. Da concha pra cá, o Cruzeiro, é como se não existisse. Só cuidam dos restaurantes da outra ponta”, diz Sérgio Campos. Ele conta que há barracas que já mudaram várias vezes de dono por falta de clientela, e que precisou investir com recursos próprios para não ver seu ponto de venda ruir. “Até o telhado eu tive que colocar sozinho. Esperei ajuda e nada”.
Os relatos reforçam a urgência de um plano de revitalização para a Praia do Cruzeiro. Para quem vive do turismo e do comércio local, a ausência de ações públicas pode decretar o esvaziamento definitivo do lugar. “Se não tem gente, não tem venda. E se a prefeitura não fizer nada, não vai sobrar ninguém aqui”, conclui Raimundo do Couto.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belém informou, por meiod e nota, que realiza, de forma contínua, a limpeza da Praia do Cruzeiro, com ações programadas semanalmente para garantir a manutenção da área e o bem-estar da população.
Durante o mês de julho, em razão do aumento de frequentadores, o serviço foi intensificado. Obras estruturantes, em parceria com outros entes federativos, estão em fase de elaboração técnica e devem ser implementadas no local em breve.
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