Pessoas com deficiência relatam barreiras para se relacionar: 'não é todo mundo que aceita'

Estar distante do modelo 'padrão' imposto pela sociedade traz problemas que vão além da falta de acessibilidade, como a solidão amorosa

O Liberal
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Entendendo como deficiência três dimensões principais que giram em torno dos impedimentos, barreiras e restrições da participação de pessoas quando comparadas com o restante da população, dados divulgados em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que mais de 17 milhões de pessoas acima de dois anos possuem alguma deficiência.

Apesar do alto número, desde os primórdios da humanidade as pessoas com deficiência são vítimas de exclusão de uma sociedade que vive em busca de um padrão de 'perfeição' humana. Estar distante desse modelo traz várias problemáticas para a vida de um deficiente, seja de comunicação, aceitação, superproteção dos pais, falta de acessibilidade ou dificuldade de se relacionar amorosamente.

Francine Bica, de 25 anos, revela que até hoje sente dificuldade de se relacionar. Estudante de arquitetura, ela possui uma má formação na mão direita e, por vergonha, sempre acabava escondendo o membro.

“Sempre tive receio e vergonha de me envolver, inclusive muitas vezes escondia e estava sempre de casaco ou com a mão no bolso. Hoje isso não é mais tão presente na minha vida, mas às vezes ainda sinto vergonha, só não escondo mais. Essa questão ainda não é super bem resolvida na minha vida, justamente por olhares estranhos. A pior parte sempre é conhecer a família... por não saber como as pessoas vão reagir, não é todo mundo que aceita", confessou ela. 

Já segundo Osvaldo Junior, deficiente auditivo de 29 anos, se relacionar com pessoas que não entendem a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é algo complicado, porém, não é um empecilho quando se tem amor pelo próximo. "Se eu quiser namorar uma ouvinte que sabe que sou surdo e aceitou a minha realidade pelo amor que tem, ela me ajuda a se comunicar e eu ajudo ela. Se ela quiser aprender libras, eu ensino", declarou ele, que atualmente namora uma pessoa surda.

Junior, como é mais conhecido, trabalha como auxiliar almoxarifado do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR) e comentou sobre seu melhor amigo de infância, que também é surdo, e se casou com uma ouvinte. O casal citado é Danilo Couto, de 28 anos e Hosana Brito, de 27. Danilo é formado em Engenharia Mecânica, mas teve muita dificuldade de conseguir emprego na área devido sua condição. Ele conheceu Hosana em outubro de 2015, no Cinépolis Boulevard, onde trabalhavam juntos. A beleza do rapaz chamou a atenção de Hosana, que não sabia da surdez do, até então, colega de trabalho.

 "Com uns dias, fiquei sabendo sobre a surdez dele por colegas de trabalho que conviviam mais com ele. A minha preocupação foi justamente sobre a questão da comunicação, de como eu iria me comunicar com ele, como iríamos entender um ao outro, já que eu estava bem caidinha", revelou ela.

Ela comentou que quando conseguiu a oportunidade de conversar, teve dificuldade de entendê-lo, mas como ele é surdo oralizado, fazia leitura labial e a entendia muito bem. "Com a convivência fui aprendendo a me comunicar com ele e entendendo o que ele falava, mas eu fiz questão de aprender Libras, que é a língua materna dele. Inclusive, na época, ganhei um livro de libras do meu chefe. Todos no cinema sabiam que eu gostava dele e todos super apoiavam".

O convite para sair veio em abril de 2016 e o pedido de namoro em julho do mesmo ano. Eles subiram no altar recentemente, em julho de 2021. 

image (Divulgação / CF Studio)

Ela ressalta que a convivência com os amigos do seu esposo foi muito importante no seu processo para aprender Libras. "Aprender Libras para mim foi maravilhoso, eu me sinto mais perto do meu esposo, amigos. Eles são pessoas fofas e especiais, é como se a gente quisesse protegê-las o tempo todo. A minha dificuldade é que as vezes esqueço os sinais. Mas o Danilo é um bom professor. Às vezes é engraçado, quando erro um sinal e faço outro que tem um significado diferente, ele fica rindo de mim e eu sem entender", finalizou.

Apesar do romance ter dado certo, não são todos os deficientes que têm a mesma realidade que o casal. Muitos ainda sofrem com a solidão amorosa, principalmente quando são privados de ter mais contato devido à superproteção dos pais, além da discriminação enraizada na sociedade que, por muitas vezes, não consegue enxergar além de um modelo estético padrão. 

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Belém
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