Período de chuvas agrava situação dos moradores de rua de Belém
População de rua vive de doações
Além das inúmeras dificuldades do cotidiano de quem não tem um teto, centenas de pessoas que vivem em situação de rua na capital paraense enfrentam, no período chuvoso, o frio cortante das manhãs, tardes e noites úmidas. No chamado inverno amazônico, marcado por chuvas prolongadas que duram às vezes mais de 24 horas, os problemas que fazem parte da rotina da população de rua, como fome, medo e privação se intensificam e tornam a vida de grupos já marginalizados ainda mais difícil. Neste ano, o inverno amazônico já começou a se pronunciar nas últimas semanas, com chuvas intensas acompanhadas de fortes ventanias e os moradores de rua já se preocupam com os próximos meses.
Na estação do BRT, situada em frente ao Memorial Magalhães Barata, em São Brás, um grupo numeroso, composto por aproximadamente 70 pessoas, utiliza o espaço como morada temporária para se proteger, guardar as doações que recebem e dormir. Durante o dia, a população que habita provisoriamente o local se dispersa e vaga pelas ruas da cidade em busca de alimentos, dinheiro, roupas, itens de higiene, dentre outros. À noite eles retornam e, na falta de condições básicas para dormir, usam o que têm, mas até os poucos objetos que possuem, como pedaços de papelão, lençóis, roupas e agasalhos que recebem de doadores ficam praticamente inutilizáveis no período chuvoso por conta da umidade.
"Nesse período de chuva, nós passamos por uma fase muito ruim. Molha nossos 'papelão', chega o inverno a doação diminui, tem doação que vem, tem doação que não vem. Nessa época de chuva fica tudo mais difícil, muito mesmo. Nossas roupas, nossos lençóis ficam tudo molhado, é ruim demais", detalhou a moradora de rua Kátia Cristina Xavier, de anos 47 anos. Natural do município Salvaterra, no Marajó, Kátia está em situação de rua há cerca de três anos. Ela veio para Belém tentar uma vida melhor, mas acabou sendo empurradas para as ruas. O sonho de ter uma casa própria, um teto, ainda faz parte do imaginário dela, mas é uma realidade cada vez mais distante. "Todo mundo quer ter sua casinha, suas coisas, mas não sei, não sei se vou conseguir um dia", disse entristecida.
Também vivendo nas ruas desde criança, Rosângela Rodrigues da Silva, de 38 anos, fez um apelo. "Fica ruim para a gente nesse tempo de chuva. A gente não tem casa, família para longe. A gente precisa muito de cobertor, de roupa, a gente passa muito frio", lamentou.
As casas de abrigo do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que atendem anualmente 1.200 pessoas em situação de rua, não dispõem de um projeto específico para atender a população de rua neste período chuvoso, mas trabalham durante todo ano e oferecem diversas atividades de assistência social.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA