Parto humanizado é o que prioriza saúde da mãe e do bebê

Conceito costuma ser confundido com um momento de parto repleto de regalias e mimos, mas de fato representa o melhor atendimento possível e colocando a mãe como protagonista

Victor Furtado
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Há algum tempo se fala em parto humanizado. Veio quase como uma resposta contra a violência obstétrica, que é outro conceito que passou a ser visto, recentemente, como uma das muitas formas de violência contra a mulher. Só que há um conceito equivocado a respeito do parto humanizado, que parece levar a um processo elitizado e inacessível. No final, é algo simples e necessário: dar o melhor atendimento possível à mãe e à criança. A mãe se torna protagonista do processo.

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Pelas redes sociais digitais, se vê partos humanizados como processos que ocorrem em piscinas; com a presença de doulas — mulheres que orientam as mães sobre cuidados na gestação, no parto e com o bebê —; uma equipe inteira dedicada na casa da parturiente; músicas, óleos, perfumes e rituais; e sempre no parto natural. Essas coisas podem até fazer parte do trabalho de parto, mas não, necessariamente, caracterizam parto natural.

Francisca Farias Cavalcante é enfermeira obstetra e professora mestre da Unama Santarém. Diz viver para partos e a ensinar como fazer partos da melhor forma possível. Explica que a humanização do parto deve ser isso: ter profissionais dedicados ao cuidado da mãe e do bebê, aptos a fazer de tudo pelo bem-estar e preservação da vida de ambos. E isso não quer dizer uma série de firulas que aumentam o orçamento do procedimento.

"Parto humanizado pode ocorrer na água, em casa, na maternidade, num centro cirúrgico... humanizado deve ser o atendimento, que proporcione saúde e bem-estar. Uma parturiente se entrega às mãos dos profissionais e espera deles o melhor, a melhor e mais agradável experiência. A equipe deve trabalhar em prol da vida", explicou a professora. Uma intervenção ou cirurgia pode significar humanização do procedimento também, desde que decidido para preservar mãe e bebê.

A servidora pública federal Gabriela Altoé, de 34 anos, está esperando por Maria Eduarda, a primeira filha. Desde que descobriu a gestação, buscou todas as informações possíveis para ter a melhor experiência, tanto de gestação quanto de parto, quando chegar a hora. Foi quando aprendeu mais sobre parto humanizado. Ela se prepara física e emocionalmente para evitar ao máximo quaisquer intervenções externas desnecessárias. Os cuidados pessoais vão do sono à alimentação. Tudo para garantir que a filha nasça saudável.

"Para conseguir concretizar o meu sonho de ter minha filha da forma mais humanizada possível, busquei, desde o início da gestação, o acompanhamento profissional de uma equipe que efetivamente acredite nos benefícios dessa prática, que inclui médico obstetra, enfermeira obstetra, pediatra, doula e fisioterapeuta pélvica. Além disso, tenho preparado o meu corpo com exercícios físicos e com a fisioterapia pélvica, especialidade da fisioterapia que fortalece o assoalho pélvico e que é capaz de evitar a necessidade de intervenções médicas e de traumas durante o parto normal", conta Gabriela. Ela lamenta que esse procedimento, que é sonho de mulheres grávidas, é inacessível para muitas pessoas.

 

Cesáreas devem ser aplicadas em último caso

A enfermeira obstetra e professora Francisca Cavalcante destaca que o parto natural sempre é o mais recomendado. Na rede privada, ocorre uma negociação pela cirurgia, como se isso fosse apenas uma opção, mas não é exatamente isso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o ideal é que no máximo 10% dos partos deveriam ser por cesáreas. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cesariana é apenas em caso de urgência, quando todas as possibilidades de parto vaginal foram esgotadas.

"No SUS, não há essa negociação. Cesárea só mesmo quando há algum problema. Como mal posicionamento do feto, em caso de distócia, como distócia de ombro; feto muito grande... mas, ainda assim, fazemos várias outras medidas, manobras para reverter essas situações e só usar a cirurgia em último caso. Ou uma medida de indução ao parto", observa a professora. No dia 16 deste mês, um bebê teve a cabeça arrancada durante um parto na Fundação Santa Casa de Misericórdia. Em nota, a instituição comentou que o feto tinha uma distócia de ombro. A cesárea não foi feita, mesmo após horas de tentativas frustradas de parto natural.

O parto só perde as características de humanização e parte para a violência obstétrica quando, deliberadamente, decisões são tomadas de modo que prejudicam a mãe e o feto. Uma intervenção cirúrgica para "facilitar", um olhar mal direcionado, um comentário , uma medicação ou obrigação de fazer uma cirurgia sem necessidade. "Todo parto precisa ser humanizado. Do contrário, pode trazer influências negativas para a mãe que sofre com uma experiência ruim ou violência obstétrica. Pois isso gera traumas e a mãe pode, nunca mais, nem querer engravidar", conclui Francisca.

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