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Pajé Zeneida Lima recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Uepa

Ela espera que, a partir de agora, as pessoas respeitem seu trabalho e as crianças mantidas por sua ONG, no Marajó

Dilson Pimentel / O Liberal
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“Eu espero, daqui para a frente, que respeitem as minhas crianças, o meu trabalho e me respeitem também”. A afirmação foi feita, nesta quarta-feira (1°), pela pajé Zeneida Lima. Nesta manhã, a Universidade do Estado do Pará (Uepa) vai entregar, no auditório da Reitoria, o título de Doutor Honoris Causa à pajé Zeneida Lima. A solenidade será transmitida pelo canal da Uepa no YouTube. “Esse título não é meu. É de toda a cultura. Fico muito emocionada. Foi nessa terra que eu nasci e cresci. Foi aqui que sofri perseguição, discriminação, que me causaram muitas mágoas”, afirmou ela.

Ela disse que são várias as discriminações, mas que prefere não citar qual delas mais a marcou mais. No entanto, essas perseguições a tornaram mais forte para continuar seu trabalho social. “Agora, com o reconhecimento do meu trabalho, da minha obra, isso consola o meu coração. Meu pé tá sempre no chão”, afirmou. A pajé Zeneida Lima afirmou que a discriminação vai continuar, mas que o vai mudar é o respeito. “Várias pessoas me parabenizaram depois que souberam que ia receber esse título. Fico feliz por isso. O respeito”, reforçou.

Zeneida destacou o trabalho que realiza com as crianças, atendidas por sua ONG, em Soure,no Marajó. “As crianças que eu cuido são crianças rejeitadas pelo município. Eu acolho essas crianças, procuro educar, como se fossem meus filhos. Isso, pra mim, representa tudo”, contou. São 240 crianças de 5 a 16 anos. Na ONG, que tem 21 anos, há uma escola, que tem convênio com o município. Pela ONG, já passaram 3.100 crianças. “Todas tiveram educação de qualidade, uniforme e material escolar sem custo para os pais. Quando concluem o ensino fundamental, elas vão para outro colégio do município”, afirmou.

O projeto de uma escola no meio da floresta nasceu de um sonho de Zeneida, presidente-fundadora da Instituição Caruanas do Marajó. A instituição foi fundada pela Pajé juntamente com a escritora Rachel de Queiroz, em 21 de julho de 1999. Zeneida diz que a principal motivação desse projeto sempre foi ajudar ao próximo, preservar a natureza e estabelecer uma relação respeitosa entre homem e meio-ambiente. Em 2003, ainda segundo Caruanas do Marajó, a instituição tornou-se uma ONG e criou a Escola de Ensino Fundamental Zeneida Lima de Araújo, dando às crianças das comunidades carentes de Marajó uma nova perspectiva de futuro, retirando-as de situações de risco e criando uma relação de amizade com a natureza. .

Honraria reconhece a vida engajada em ações solidárias

A atribuição da honraria da Uepa reconhece uma história de vida engajada em ações solidárias e projetos que aliam o desenvolvimento socioeducativo e o benefício da população carente do Marajó. Com forte apelo à conscientização ambiental, a pajé, educadora e defensora da cultura marajoara também é reconhecida pela dedicação à cultura amazônica.

“A defesa da pajé educadora marajoara se dá pela sua atuação na produção de conhecimento e ação social, que corroboram os feitos de uma personalidade que para nós, pesquisadores da Amazônia, se constitui em ícone de saberes tradicionais. Uma experiência enriquecedora que será reconhecida por instituição de nível superior, mais especificamente, pela linha de Saberes e Culturas da Amazônia, do Programa de Pós-Graduação e Educação (PPGED) da Uepa”, disse a professora Josebel Fares, da coordenação do seminário.

A entrega do título à Zeneida Lima será no primeiro dia do XVI Seminário do Núcleo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas (CUMA) e do VI Seminário Brasileiro de Poéticas Orais, que, este ano, aborda o tema “Encantarias”. O evento ocorrerá desta quarta-feira (1º) a 3 de dezembro, na forma virtual.

Este ano, ainda em decorrência da pandemia, as coordenações dos dois eventos resolveram unificar as atividades, por meio de uma única programação que vai reunir pesquisadores de todo o Brasil e de alguns países vizinhos.

Integram as programações seis grupos de simpósios temáticos sobre as encantaria e palestras dos professores João de Jesus Paes Loureiro e Zelia Amador de Deus, da Universidade Federal do Pará (UFPA); Edimilson Pereira, da Universidade de Juiz de Fora; Ana Pizarro, da Universidade do Chile; além de vários pesquisadores das poéticas no Brasil.

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