Ninhos azuis apresentam risco para pássaros e servem como bioindicadores de poluição no Pará
Pigmentos cancerígenos foram identificados nos ninhos azuis
Os ninhos da espécie de pássaro Psarocolius decumanus, conhecido como japu, foram encontrados com a cor azul, devido à presença de detritos plásticos em sua composição na zona costeira amazônica, nos municípios de Maracanã e Salinópolis, no nordeste paraense, segundo pesquisa da Universidade Federal do Pará (UFPA). Dessa forma, os ‘ninhos azuis’ podem servir como bioindicador dos níveis de poluição. A preocupação é de que os plásticos possam afetar a saúde das aves e dos ovos presentes no ninho.
A pesquisadora Adrielle Lopes, em sua dissertação feita na UFPA, estudou os ninhos de cor azul encontrados na zona costeira amazônica. Dos 34 ninhos analisados, foi encontrada a presença de plástico em 24 deles.
Os ninhos azuis foram mais observados nos ambientes manguezais (Salinópolis) e na vila de pescadores (Maracanã), lugares onde há maior quantidade de lixo marinho. Por outro lado, a presença de plásticos nos ninhos foi menor na região clareira da Praia do Farol Velho (Salinópolis), local que apresenta mais detritos naturais disponíveis e menos influência das marés e com mais detritos naturais disponíveis.
“Esse plástico azul é muito utilizado nas artes de pesca. Então, provavelmente é material de pesca descartado por embarcações e pescadores. Ele acaba acumulado nas praias e nos mangues e essas aves coletam o material para a construção dos ninhos”, explica o professor Eduardo Martinelli, orientador da pesquisa sobre os ninhos azuis.
Com base nesses dados coletados pela pesquisadora, o estudo concluiu que os ninhos de japu atuam como potencial bioindicador dos níveis de poluição ambiental, uma vez que quanto maior a incidência de lixo marinho, maior é a ocorrência dos resíduos nos ninhos.
Seleção dos materiais
Uma das razões que podem explicar os japus coletarem detritos plásticos para construírem os ninhos é a coloração do plástico, que pode atrair as aves. Porém, o professor Eduardo Martinelli acredita que o motivo é a resistência do plástico. “Acreditamos que as aves estão usando esses plásticos por conta da resistência do material. Se você pega uma corda de nylon, ela é bastante resistente, é difícil de romper o material”, argumenta.
Toxicidade do material
A maioria do material plástico era composta por nylon, contudo o problema são os pigmentos que a indústria utiliza para mudar a coloração do material, os quais são tóxicos. “Nessa pesquisa, detectamos cinco corantes com algum grau de toxicidade”, conta o professor Eduardo Martinelli.
Ainda conforme o orientador, entre os cinco pigmentos, dois deles são cancerígenos, o que pode afetar os pássaros, os filhotes e, por consequência, todo o ecossistema.
Impactos na saúde dos pássaros
A principal preocupação dos pesquisadores é entender como a presença de plásticos com substâncias tóxicas em ninhos pode afetar a saúde dos animais e dos ovos. Inclusive, há a chance das aves estarem até ingerindo os resíduos. “Acidentalmente, ele (o japu) pode estar ingerindo esse plástico e partículas de microplástico. A maioria dos ninhos está com 50% do seu peso de plástico”, relata Adrielle Lopes, em entrevista para a TV Liberal.
Um dos questionamentos é acerca de como os resíduos impactam na temperatura do ninho. De acordo com o professor Eduardo Martinelli, o plástico esquenta, diferentemente da fibra natural. “Então, quanto mais plástico, mais quentes esses ninhos devem ficar”, explica. A partir desse aumento de temperatura, surge a possibilidade da eclosão dos ovos de pássaros ser afetada, pois eles podem eclodir mais rápido, segundo o professor.
Outra consequência é que os ninhos azuis podem atrair predadores para perto. “Ele pode estar chamando atenção, também, de predadores na natureza. O ninho deveria ser mais da cor marrom para se camuflar”, afirma Adrielle Lopes, em entrevista para a TV Liberal.
Além disso, futuras pesquisas podem analisar se os plásticos podem prender as aves ou gerar até consequências fatais. “Tem muitos relatos de animais que acabam estrangulados ou com plástico preso no trato digestório. Esse plástico duro e comprido pode ficar amarrado no pé da ave e ela ficar presa ao ninho”, afirma o professor Eduardo Martinelli.
Serviço:
Dissertação sobre os ninhos azuis
Nome: Ninhos azuis: o primeiro registro do uso de resíduos plásticos na nidificação de aves na costa amazônica, Brasil
Pesquisadora: Adrielle Caroline Lopes
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Martinelli Filho
Ano: 2024
Instituição: Universidade Federal do Pará
Palavras-chave
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