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Nascidos em meio a pandemia: desafios, cuidados e esperança

Mães e pais contam como foi receber um bebê em meio a pandemia do novo coronavírus

Tainá Cavalcante

Não faz nem uma semana que o Abraão chegou ao mundo. Nascido na última quarta-feira (06), às 12h22h, com pouco mais de três quilos e 50 centímetros, ele é o filho caçula do casal Andreia Paiva, de 29 anos, e Thyago Natan, de 30. A programação para o nascimento era diferente do que, de fato, ocorreu: nascido em meio a pandemia do novo coronavírus, e no dia que o Pará fechou ultrapassou os 5.500 casos confirmados e 400 óbitos, ele foi recebido em mãos com luvas e rostos cobertos por máscaras. "Foi uma maratona", define Thyago, ao contar que até para conseguir os equipamentos de proteção individual (EPIs) foi difícil. "Nas drogarias não achávamos máscaras, luvas, álcool em gel ou até mesmo álcool 70%", lembra.

No fim, deu tudo certo. O casal, com todos os materiais de prevenção em mãos, foi ao hospital para receber Abraão, já prestes a nascer. "No hospital, há fiscalização em conjunto com as recomendações preestabelecidas pelo estado. O parto sem acompanhante ou visitas marcava o nascimento do meu filho. Tudo com o máximo de restrições possível, para evitar a disseminação do covid-19", conta Andreia, ao garantir que, mesmo após a saída do hospital, no último dia 8, pretende manter o isolamento. "Nós sabemos que a melhor forma de proteção, a melhor vacina, é o isolamento", diz.

Em relação à distância que a pandemia exige, o casal afirma que o espaço físico não é um empecilho para que Abraão seja apresentado aos familiares. "Através das mídias, aplicativos, redes sociais, se necessário até cartas", brinca, ao explicar que "sabemos que todos precisamos do abraço de quem mais amamos, em especial de nossa mãe, já que esse domingo é o dia delas, mas o momento é de união, não são metros, quilômetros ou hectares que vão nos separar. Estamos unidos por um propósito. O bem de todos é o que nos une nesse dia".

image Mesmo após a saída do hospital, no último dia 8, o casal diz que pretende manter o isolamento. "Nós sabemos que a melhor forma de proteção, a melhor vacina, é o isolamento" (Acervo pessoal)

Quem também nasceu em meio a essa pandemia foi a pequena Eulália, que completa dez dias de vida nesse domingo (10). A comemoração vem em dose dupla: na data, será também o primeiro dia das mães de Dora Silveira, que descobriu a gravidez com o marido, João Cirilo, depois de as esperanças já quase terem esgotado. "Descobrimos que Dora estava grávida em agosto do ano passado. Estávamos no meio de uma reforma em nossa casa e hospedados na casa de minha sogra. Quando a ficha de gravidez caiu, a ideia desde lá era que dona Luiza viesse passar um tempo conosco para nos ajudar a cuidar da bebê. Eulália era há muito esperada, mas confessamos que de nossa parte já nem tínhamos esperança de sermos pais", conta o artista plástico.

A gravidez de Dora foi tranquila, sem grandes intercorrências, e a calmaria só mudou quando as notícias em relação ao novo coronavírus se tornaram mais próximas. "Em março, finalzinho do mês, o agora considerado um vírus pandêmico, se aproximava do Brasil. E logo os primeiros casos de pessoas infectadas no estado e em Belém. Foi quando resolvemos nos isolar", lembra Dora, que decidiu levar a mãe para casa com eles.

Com o passar dos dias, e a aproximação do nascimento de Eulália, o trio resolveu estabelecer um cronograma de faxina na casa como estratégia para ocupar a mente e não deixar a ansiedade que todo o período de pandemia tem projetado na sociedade. "A cada manhã limpávamos um cômodo. Nesse meio aproveitamos para decorar o quarto de Eulália", diz Cirilo, ao admitir que, à medida que o mês de abril avançava, a apreensão também aumentava.

"Os números de casos no estado só aumentando e a angústia aumentando entre nós. Saíamos só para resolver o necessário, como ir ao supermercado, à farmácia, para receber e pagar as contas, além de ir para as consultas pré-natais. Sempre usando máscaras, óculos escuros na rua, álcool em gel, cuidando da lavagem das mãos, da higiene pessoal e da casa. E foi com esse sentimento de angústia e cuidado que fomos à maternidade no dia 30 de abril, de madrugada", recorda.

Assim como aconteceu com o nascimento do pequeno Abraão, a família também precisou de cuidados redobrados na maternidade. Tudo correu bem com eles, que dois dias depois saíram do hospital. A realidade, entretanto, foi diferente para pessoas bem próximas. "Dois dias antes, uma sobrinha nossa, que dependia do sistema público, deu à luz. Ela era considerada como um caso suspeito de covid-19 e está hospitalizada até o momento, embora estejam​ bem, ela e o bebê", explica.

Quando saíram do hospital, Cirilo e Dora resolveram permanecer usando máscaras em casa, por duas semanas, em uma tentativa de resguardar a avó da criança, de 83 anos, que está na casa da família desde que iniciaram o isolamento, e a bebê. E apesar de toda a apreensão, o casal é enfático ao destacar que "desde que a Eulalinha chegou, ela tem sido nosso centro de convergência".

image Quando saíram do hospital, Cirilo e Dora resolveram continuar usando máscaras em casa, por duas semanas, para resguardar tanto a avó da criança, de 83 anos, que está morando com eles, como a bebê. (Acervo pessoal cedido a O Liberal)

"Acordamos e dormimos em função dela, subvertendo os horários da vida lá fora, e passamos a aumentar a quantidade de mensagem e ligações a nossos parentes, loucos para ver e conhecer a bebê. Vídeos, fotos, textos, ligações têm sido nossa forma de visitar as pessoas", relatam.

Sobre o Dia das Mães, Cirilo diz que "será muito diferente dos anteriores e muito simbólico". "Eulália nos veio como uma esperança, de saúde, de superação, de sobreposição a esse vírus, no desejo de que nossas vidas possam voltar a ser como antes. Acompanhado de duas mamães por aqui, percebo que ela é o grande presente do Dia das Mães para essas duas mulheres maravilhosas que me rodeiam", declara, contando também que a bebê parece ser a alegria de muitas outras casas. "Muitos amigos comentam que o nascimento dela e as postagens ajudam a encarar os dias. Cada postagem é uma pílula de esperança".

Obstetra orienta atenção e precaução

Ginecologista e obstetra formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) há 28 anos, a doutora Léa Rosana orienta que famílias que têm acesso a plano de saúde, em qualquer situação, "entrem em contato com o seu médico do pré-natal para o atendimento no caso de urgência antes de ir a qualquer urgência sem necessidade". Além disso, ela reforça as orientações gerais: não sair de casa sem máscara, andar com álcool em gel na bolsa e manter o distanciamento social. Já no caso dos pacientes da rede pública, a médica explica que "não há essa prerrogativa de contatar o médico do pré-natal, isto porque muitos não estão atendendo nos seus respectivos postos de saúde".

"Então, deixar para ir à maternidade em situações de urgência, como redução ou parada por mais de oito horas dos movimentos fetais, perda de líquido amniótico via vaginal, sangramento e mais de três contrações em dez minutos", acrescenta, ao também ressaltar as orientações gerais. "Assim, a família estará evitando o contato viral e se expor sem necessidade". Manter uma boa alimentação e fazer as consultas do pré-natal regularmente também entram na lista de recomendações da obstetra.

Já em relação ao pós-parto, a doutora Léa Rosana, mais uma vez, reforça a necessidade do uso de máscara e de evitar visitas. Além disso, ela orienta que o manejo do recém-nascido sempre seja feito com máscara e que o bebê não seja exposto, em nenhuma situação, ao contato com pessoas resfriadas, mesmo que essas sejam da família e morem na mesma casa. Sobre a amamentação, ela diz que, em casos de suspeita ou resfriado, não é preciso suspender. "As medidas de higiene são fundamentais para que o RN não se infecte", ressalta.

Por fim, a obstetra garante que as mudanças nas maternidades são extremamente necessárias nesse momento. "É proibido visitas, apenas um acompanhante é permitido, a sala de parto restrita ao pai da criança, devidamente paramentado inclusive com máscara. A gestante em todos os momentos de máscara. Equipe médica da assistência devidamente paramentada com EPIS pois não sabemos que paciente está assintomática e na fase de transmissão viral", comenta, ao pontuar que "todas as pacientes neste momento da pandemia são consideradas de risco".

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