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Mulheres são maiores alvos de golpes em aplicativos de encontros

De acordo com a Polícia Civil, a exposição de informações pessoais nas redes sociais pode facilitar ações de golpistas

Fabyo Cruz

O que parecia ser uma história de amor, marcada por promessas românticas, futuras viagens inesquecíveis e até mesmo juras de casamento, virou prejuízo financeiro, trauma e culpa às vítimas do Golpista do Tinder, documentário da plataforma de streaming Netflix. A busca pelo relacionamento dos sonhos, por meio de aplicativos de encontro, é mais comum do que parece ser, e crimes como o estelionato emocional praticados via plataformas virtuais têm ganhado notoriedade nos últimos anos e chamando atenção das autoridades policiais.

No perfil do site ou aplicativo de encontros amorosos, os golpistas fazem descrições com detalhes animadores. Geralmente se intitulam como uma pessoa carinhosa, que gosta de família e animais, além de possuírem vida financeira e emocional estável. No álbum de fotos, imagens ainda mais cativantes: viagens, aventuras e muito luxo. A tacada final, a pessoa está na procura de um amor pra vida toda. Na realidade, assim como Simon Leviev, que se passava por um milionário russo, estelionatários podem inventar uma trama capaz de seduzir, sobretudo, pessoas fragilizadas emocionalmente.

Por se tratar de um assunto que gera constrangimento às vítimas, poucas pessoas querem se expor e registrar um Boletim de Ocorrência na delegacia. Em Belém, uma senhora, que não quis ter a identidade revelada, teve um prejuízo de quase R$10 mil, após fazer transferências bancárias para uma pessoa na qual ele havia mantido um relacionamento à distância, durante cerca de cinco anos. Solteira, Nazaré - nome fictício - recorreu ao aplicativo de encontros amorosos para tentar descobrir a alma gêmea e superar um velhos traumas.

Separada há quatro anos e fragilizada emocionalmente, Nazaré tinha seus próprios recursos e uma vida financeira estável. Na internet, apostou na possibilidade de vivenciar um novo romance. Foi então que conheceu um senhor, com sua mesma faixa etária, entre 40 a 50 anos. Sempre muito educado, usando um vocabulário cordial, residente em Portugal, na Europa, o homem dizia se assemelhar com a ela, afirmando que saiu há anos de um antigo relacionamento e que estava à procura de uma pessoa para seguir a vida ao seu lado. No entanto, as promessas de encontro pessoal para cruzar o Atlântico sempre se postergavam.

“Eu percebi que estava fragilizada naquele momento, por meio das conversas ele era como um porto seguro, onde era possível fazer desabafos, por acreditar que a pessoa passava por problemas semelhantes aos meus, e a questão financeira sempre era um segundo ponto. Por conta disso, eu confiei tanto no começo. Só passei a desconfiar quando ele passou a pedir pequenos valores, que começaram a aumentar e eu me negava a negar. Quando ele não recebia o que pedia, acabava sumindo”, comentou. Tempos depois, a vítima fez uma pressão para ter um encontro pessoal com o homem, que teria alegado não ter cartão de crédito disponível.

O golpista chegou a fazer uma proposta de vir primeiro ao Brasil, custeado pela vítima, e depois iria a levaria para Portugal, subsidiada por ele. O homem veio a Belém, conheceu a cidade, familiares e amigos de Nazaré. Ao retornar para Portugal, manteve as conversas via aplicativo, porém, esquivando-se sempre de cumprir o trato de levar a pagar as passagens e levá-la ao seu País. Segundo Nazaré, o farsante dizia ter planos de abrir uma importadora, onde ela seria responsável por exportar açaí e produtos da Amazônia, enquanto ele enviaria vinho e azeite para ser comercializado no Brasil. Para abrir o negócio, o homem afirmava que precisava de uma quantia de R$ 30 mil.

“Ele passou a insistir muito sobre essa história da transportadora, Dizia que já havia conversado com uma pessoa e que precisava de R$ 30 mil para montar a empresa, mas sempre neguei, pois havia começado a perceber algo errado, foi até que então decidi investir no encontro pessoal. Ele topou, já que seria uma condicionante dele topar o negócio. Quando estive em Portugal percebi conversas desconexas, dificuldades de contato e soube que ele aplicava esses tipos de golpes com mulheres de outros países", disse Nazaré. A vítima descobriu que o homem era casado, trabalhava como taxista e motorista por aplicativo, não possuía uma renda estável e tinha apoio do  filho. Ao descobrir a trama, a vítima decidiu retornar para o Brasil.

Nas redes sociais do golpista, ela descobriu que outras mulheres haviam passado pelo mesmo tipo de golpe. Nazaré gastou R$ 8 mil entre passagens e logísticas, já em relação aos empréstimos e pagamentos antecipados foram R$ 2 mil, totalizando um prejuízo de R$ 10 mil, que poderia ter sido maior caso o negócio da importadora fosse fechado.

Qual o perfil das vítimas?

A delegada Lua Figueiredo, titular da Divisão de Combate a Crimes contra Grupos Vulneráveis Praticados Por Meios Cibernéticos (DCCV) da Polícia Civil do Pará, afirma que geralmente os criminosos analisam os perfis de vítimas, em sua maioria mulheres, para encontrar saber sobre a vida pessoal dos possíveis alvos. Ela destaca a importância de manter as informações pessoais privadas somente para amigos.

image Delegada Lua Figueiredo, titular da Divisão de Combate a Crimes contra Grupos Vulneráveis Praticados Por Meios Cibernéticos (DCCV) da Polícia Civil (Sidney Oliveira - O Liberal)

“Eles [golpistas] buscam por vítimas mulheres, que expõem informações pessoais abertamente nas redes sociais. Vão em busca de saber, inclusive, sobre estado civil, trabalho, filhos e demais informações. Por isso é necessário que esses dados não fiquem expostos a pessoas estranhas”, afirmou.

Lua Figueiredo recordou-se de dois casos recentes ocorridos em 2021 e 2022, no Pará. Em janeiro deste ano, uma pessoa que se passava por um empresário para manter relacionamentos com mulheres e conseguir roubar dinheiro das vítimas a título de empréstimos. Ano passado, a PC realizou uma operação de cumprimento de buscas e apreensão na residência de um criminoso, que morava em São Paulo e aplicava golpes em mulheres no Pará. “Ele residia em Campinas, mas utilizava da internet e dos aplicativos para aplicar golpes do estelionato em mulheres do Estado [Pará]”, comentou.

Fique esperto para não cair em golpes

O estelionato emocional, ou sentimental, ocorre há séculos, mas o assunto ganhou destaque após o lançamento do documentário Golpista do Tinder e notícias de âmbito nacional e internacional que vieram à tona nos últimos anos. Um outro termo chamado “scammer sentimental” também passou a ser utilizado, já na era da internet, para especificar crimes cometidos com o recurso da web. No entanto, vale lembrar que o crime de estelionato já é tipificado no art.171 do Código Penal: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.

De acordo com a delegada Lua Figueiredo, para que usuários possam usar os aplicativos de encontros amorosos sem risco de cair em golpes, é recomendado o uso de ferramentas de pesquisa pública para descobrir se a outra pessoa é real (ou não) por meio da consulta do nome dela.

A titular da DCCV também deu outras orientações: “Desconfiem sempre de números internacionais; de pessoas que dizem morar no exterior, mas não apresentam nenhuma comprovação; quando começam a solicitar valores em dinheiro e apresentam contas em nomes de terceiros; nunca transfira dinheiro para pessoas que você nunca viu; não caia em conversas tentadoras; e sempre conversam com seus familiares”, recomendou.

Serviço

Como denunciar golpes como estionato emocioal:
No site da Delegacia virtual do Estado do Pará ou pelo disque denúncia 181

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Belém
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